Mulheres apanharam mais em 1999
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 07 de janeiro de 2000
Erika Wandembruck
De Curitiba
Especial para a Folha
Mesmo sofrendo agressões domésticas, algumas mulheres têm evitado processar os agressores. No ano passado, a Delegacia da Mulher de Curitiba registrou aumento nos casos de violência. Mas, ao mesmo tempo, a delegada titular Darli Rafael constatou que grande parte dessas mulheres não querem acionar os agressores nos Juizados Especiais Criminais, evitando penalizá-los.
De acordo com o Grupo de Apoio de Pesquisa e Estatísticas (Gape) da Polícia Civil, aconteceram, no ano passado, 807 denúncias envolvendo lesões corporais contra mulheres, 10% a mais do que no ano anterior. Muitas dessas mulheres também foram ameaçadas de morte. Em 99, a polícia contabilizou 755 ocorrências, 40% a mais do que em 98.
Mas a violência contra as mulheres não se limita apenas as ameaças e agressões. Foram registradas também três ocorrências de tentativa de homicídio, sendo que em 1998 não ocorreram nenhuma. Além dissso, aconteceram 20 casos de atentado violento ao pudor durante todo o ano de 99, número 25% a mais do que o ano anterior.
Mesmo com este cenário, a delegada Darli explica que ao prender o agressor por 24 horas, entrega uma guia que deve ser assinada pela denunciante e de pois devolvida para prosseguimento ao processo. Muitas vezes elas não me devolvem o documento e não dão a menor satisfação, conta a delegada.
Segundo Darli, as mulheres voltam atrás em suas decisões, porque muitas vezes, dependem financeiramente do agressor. Ela afirma que os agressores geralmente são alcoólatras ou drogados, independendo a classe social a que pertencem.
Uma das pessoas que se enquadram no perfil traçado pela delegada é a copeira Cristina Cordeiro, 30 anos. Cristina diz que seu marido chegou em casa alcoolizado, agredindo ela e seus três filhos. Para fugir da agressão, a copeira acionou a delegacia, na madrugada de terça-feira. O marido de Cristina ficou detido por um dia. Ela já não quer mais assinar a guia e pretende levar o marido para casa, argumenta a delegada. Ele é um alcoólatra, é doente e precisa ser internado, rebate Cristina. Após um dia de detenção, máximo período permitido por lei, o marido de Cristina foi liberado e voltou para casa, acompanhado da mulher.