Albari RosaTerrorDepois do ataque, Margarida correu para a casa do primo: ‘‘Eles queriam me matar. Foi Deus quem me livrou’’Mulher pode ter
sido violentada
por três jagunços
Dona-de-casa denuncia que foi atacada por três capangas de
fazendeiro, mas ainda pairam dúvidas sobre um possível estupro
A violência contra os moradores de Rasgadinho chegou ao extremo numa casa simples de madeira, cercada de bananeiras e uma flor rasteira, que transforma num campo rosa-choque a redondeza. Nela mora a dona-de-casa Margarida Amorim Miranda, que perdeu o marido, Nivaldo, em 1994, vítima de um câncer. Em dezembro do ano passado, três homens, apontados como capangas do fazendeiro Sérgio Cavalcanti, entraram na casa, espancaram Margarida a socos e pontapés, arrastaram-na ao quarto e, com uma faca, cortaram sua calcinha. Ficaram na casa mais de uma hora, mas Margarida nega que tenha sido estuprada. Um dos cinco filhos, o agricultor Sérgio Miranda, 25 anos, acredita no contrário. ‘‘Com certeza, fizeram alguma coisa para ela’’, diz ele, referindo-se a um suposto estupro contra a mãe.
A explicação para uma possível mentira da dona-de-casa, segundo o agricultor, é simples. Margarida tem 53 anos, é cristã, vive numa vila com outras 19 famílias, todas religiosas, e sentiria-se humilhada e envergonhada de admitir a agressão, o que a tornaria impura em sua concepção evangélica. O primo de Margarida, Juvêncio Alves de Souza, também acredita que ela tenha sido violentada, apesar das negativas. Souza conta que Margarida chegou a sua casa logo após ao crime. ‘‘Estava em estado de choque, com as roupas rasgadas’’, lembra. Segundo ele, o desespero de Margarida era tão grande que, ao correr depois de ser libertada pelos jagunços, ela acabou se chocando contra arames farpados, se ferindo.
‘‘Eles queriam me matar. Foi Deus quem me livrou’’, diz a dona-de-casa. Os três pistoleiros, segundo ela, estavam armados de facas, revólver e espingarda. Quando chegaram, Margarida estava acompanhada do filho Pedro, 28 anos, que vestia-se em seu quarto. Ao invés de tentar reagir contra a agressão, Pedro correu, vestindo apenas cueca, segundo dizem, para escapar da morte. ‘‘Se ele tivesse ficado, tinha sido morto’’, defende Margarida. Segundo ela, o filho é religioso e não poderia reagir, pois sequer anda armado. Por causa dessa postura, os agricultores consideram a violência contra eles desumana, já que não há reação alguma.
A única esperança dos moradores de não serem mortos ou violentados seria a ação da polícia. Mas as autoridades nunca estiveram lá, a não ser há poucos meses, graças à pressão dos advogados da Comissão Pastoral da Terra, de Curitiba. Quando Margarida sofreu a agressão, a polícia não apareceu em Rasgadinho. Segundo os moradores, não foi por falta de queixa formal, registrada logo após o fato na delegacia de Guaratuba. ‘‘A polícia nem veio aqui. É como se tivessem feito (a agressão) para um animal’’, reclama Sérgio Miranda.
Os moradores dizem que, depois da violência contra Margarida, os pistoleiros continuaram por mais dez meses ameaçando-os de morte, surrando-os e disparando tiros contra casas e a escola. O clima de tensão provocado pelos jagunços só seria amenizado no final do mês passado, com a morte do jagunço Joacir, um dos acusados por Margarida, que foi atocaiado quando passava por uma pinguela. Os outros dois, conhecidos como ‘‘Mano’’ e ‘‘Sidi’’ ou ‘‘Polaco’’, continuam livres.