Com 61 anos, Ana Maria Pontelo Moreira deu à luz seu primeiro filho e realizou o sonho de ser mãe. Apesar dos riscos, a técnica em enfermagem passou pelo processo de fertilização in vitro em um processo extenso e corajoso, que se finalizou na tarde desta quarta-feira (30), quando o bebê Ian veio ao mundo, com seus 3,4 kg, 47 cm, no Hospital do Coração unidade Bela Suíça, em Londrina.

O desejo da maternidade veio há aproximadamente 15 anos. Há seis, Ana Maria entrou na fila de adoção. “Entrei na fila em 2013 e é uma burocracia muito grande, fui para cadastro nacional e percebi uma dificuldade maior ainda”, comenta. Ana Maria trabalha em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) em Londrina, e, além da idade, enfrenta o desafio de ser mãe solo.

Ana Maria Pontelo Moreira, 61, comemora o nascimento do filho Ian
Ana Maria Pontelo Moreira, 61, comemora o nascimento do filho Ian | Foto: Gina Mardones

Um ano depois, aos 55 anos, decidiu iniciar os processos de fertilização, mas esbarrou nas recomendações médicas. “O CFM (Conselho Federal de Medicina) não permitia que mulheres a partir de 50 anos fizessem a fertilização in vitro”, recorda. Em 2015, o CFM autorizou que a técnica de enfermagem participasse do processo desde que ela tivesse um médico assistente para realizar todos os exames.

Foram várias tentativas e frustrações, mas no início de 2019 o exame deu positivo. “Nossa, foi muito emocionante, porque a gente tinha feito tentativas antes sem sucesso e essa vez foi positivo, uma emoção muito grande”, revela. A fertilização foi realizada em uma clínica de São Paulo por meio de doação de óvulos e banco de espermas.

Ian nasceu nesta quarta-feira (30), com 47 cm e 3,4 kg
Ian nasceu nesta quarta-feira (30), com 47 cm e 3,4 kg | Foto: Gina Mardones

Apesar da ótima notícia, a gestação era considerada de alto risco. “Na própria fertilização existe um risco maior de má formação no bebê, mas como o óvulo era de doadora e, normalmente, são de mulheres mais jovens, então esse risco seria o mesmo que o de uma paciente jovem. O risco maior seria durante a gestação, como tromboembolismo, problemas circulatórios, aumento de pressão, diabetes gestacional e consequências do crescimento da barriga, como dor lombar, nas pernas, mas ela conseguiu contornar tudo isso”, explica o ginecologista e obstetra João Fernando Góis Filho.

A mãe foi acompanhada com número maior de consultas e exames e seguiu indicações de vários profissionais, como nutricionista, cirurgião vascular e fez atividade física durante toda a gestação. “Foi uma gestação supertranquila, o que nos surpreendeu. Ela não me ligou nenhuma vez no celular, o que é uma raridade, uma ótima gestante, seguiu todas as orientações”, comenta o médico. O bebê nasceu de 39 semanas, por meio de cesárea.

“Foi uma gestação supertranquila, o que nos surpreendeu"

Ian tem saúde, é calmo e está se alimentando de leite materno. Depois de tanto tempo à espera desse dia, Ana Maria agradece a Deus e à equipe médica que a orientou para que esse dia chegasse. “Não tem preço, é muito bom. Eu queria muito isso. Saber que o meu bebê veio perfeito, é muito bom”, diz emocionada.

"Saber que o meu bebê veio perfeito, é muito bom"

Por viver sozinha, ela diz poder contar com a ajuda de familiares e amigos que estiveram presentes todo esse tempo. Para o pós-operatório, o médico afirma que existem restrições comuns do puerpério, para a mãe, será uma fase melhor. “Estou bem preparada, foi um caso bem pensado e acredito que agora vai ser melhor. Espero ter saúde para acompanhá-lo”, revela.

“Que eu seja inspiração para muitas mulheres"

Além de felicidade, Ana Maria pretende ser inspiração para muitas mulheres que não tiveram a oportunidade de terem filhos na idade fértil e que não realizaram o desejo de ser mãe. “Que eu seja inspiração para muitas mulheres, para elas verem que é possível e que elas possam tentar como eu”, finaliza.

IDADE

De acordo com levantamento da Sesa (Secretaria Estadual de Saúde), Ana Maria não é a mulher mais velha a dar à luz no Paraná. Os registros do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos apontam que, em 2012, uma mulher de 62 anos teve um bebê em Foz do Iguaçu.

Segundo o livro do Guinness, a mulher mais velha a dar à luz uma criança naturalmente concebida é uma britânica em 1997, quando tinha 59 anos. Com a ajuda da fertilização in vitro, o recorde mundial é de uma espanhola, María del Carmen Bousada Lara, que teve gêmeos em 2006, quando estava prestes a comemorar seus 67 anos. (Com France Press)

(Atualizado em 01/11, às 15h20)