Maria de Lourdes Amaro, 79, reclamou da demora do ônibus e perguntou o que houve com a linha 903 - Anel Central. A dona de casa não viu o recado colado no totem de que a linha passaria a ser denominada 228 - Anel Central - Av. Bandeirantes e acabou perdendo dois ônibus que fizeram a parada na plataforma, no Terminal Urbano de Londrina.

Imagem ilustrativa da imagem Mudanças no transporte coletivo de Londrina
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Essa é uma das alterações que ocorreram nas últimas semanas de 2019. Com o novo contrato das empresas prestadoras de serviços, vieram também readequações de itinerários e horários, inserção de veículos novos, aumento da frota e alteração na distribuição do atendimento. O que não mudou foi a tarifa, e até isso chamou a atenção entre as “novidades” do transporte coletivo em 2020.

O ano começou diferente para alguns usuários. “Notei que está novinho, bom, mais confortável e mais vazio também. Esse tem toda hora, deve ter mais carros”, comenta Valdina da Silva Leite, 70. A auxiliar de serviços gerais utiliza a linha 208 - jardim Higienópolis todos os dias para trabalhar e percebeu que os carros, sobretudo da região sul, estão mais modernos.

O gerente de Transportes da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), Wilson de Jesus, explica que é natural a percepção sobre a região, pois a empresa responsável pela área 2, a Londrisul, adquiriu 54 veículos, enquanto a TCGL (Transporte Coletivo Grande Londrina), responsável pela área 1, investiu em 11 carros. “Não significa que essa empresa não tenha renovação de frota nos próximos anos, pois o novo contrato reduziu a idade máxima dos carros, com queda na idade média de 6.5 para 5.5 anos, então a renovação de frota será mais constante”, explica.

A distribuição no serviço também mudou. A Londrisul ampliou o atendimento e passou de 17% para 35% na participação, atendendo novas linhas. A TCGL teve redução de 83% para 65%.

TECNOLOGIA

Parte dos novos carros (14) vieram com equipamentos de ar-condicionado, somando aos 16 que já existiam, e um novo sistema de bilhetagem será implantado no prazo de até quatro meses, conforme explica o gerente. “O sistema dentro do ônibus já possui a tecnologia, falta a negociação para definir a operadora que fará a gestão de crédito na menor taxa”, comenta. Assim, os usuários poderão pagar com cartão de crédito ou débito.

“Não vi ainda o sistema, mas se o passageiro puder passar o cartão sozinho, sem ajuda do motorista, é uma boa opção, senão não compensa”, aponta Losangeles Torres Rodrigues, 23.

A auxiliar de cozinha pega três linhas diferentes para chegar ao trabalho, saindo do jardim Maria Lúcia (oeste), passando pelo terminal Oeste até o destino final, na região da Gleba Palhano (sul). “No 213 - Shopping Catuaí já tinham alguns veículos vermelhos muito bons e vieram outros mais modernos ainda, nas cores azul e amarelo, mais moderno e confortável.”

Imagem ilustrativa da imagem Mudanças no transporte coletivo de Londrina
| Foto: Folha Arte

Troca de denominação
e de horários

Os veículos também podem ser rastreados pelo aplicativo MOV, que mostra em tempo real a posição dos ônibus. Boa opção para as linhas que tiveram o itinerário alterado ou àquelas que tiveram ampliações, mudando ou incluindo horários de partida e chegada.

Algumas linhas sofreram apenas mudança de denominação ou numeração, como a utilizada por Maria de Lourdes Amaro. Com mesmo percurso, horários e plataformas de embarque, a linha 903 – Anel Central recebeu a numeração 228 – Anel Central – Av. Bandeirantes. “Ninguém avisou, já foram dois, eu não sabia que mudou e eu perdi”, comentou.

Ela esperava na plataforma pela linha original e descobriu que havia alteração após estranhar o atraso. Amaro saiu de Ibiporã e embarcou no 228 para uma consulta assim que percebeu a confusão.

Desconfiança

Até o que não mudou no transporte coletivo chamou a atenção. A tarifa do ônibus não teve reajuste e surpreendeu, mas com um tanto de desconfiança. Aide Ferreira, 66, utiliza o transporte todos os dias para ir à clínica de fisioterapia e reclamou que na linha dele não teve reajuste, mas também não houve melhorias, pelo contrário, ele critica a involução da prestação de serviço. “Eu pego o 405 – Maria Cecília e todo dia eu fico mais de 40 minutos esperando chegar, queremos mais ônibus aqui”, pede.

Ele observa que desde agosto passado a qualidade do serviço na linha dele vem caindo. “Antes tínhamos um tempo menor de espera, uns 30 minutos. Não tem cobrador, o ônibus sempre lotado, sem gente para ajudar a olhar, como fica a segurança?” Por isso não se impressiona que o valor da tarifa tenha se mantido. “Não aumentou esse ano, mas vai aumentar no próximo e a falta de qualidade aqui continua a mesma. Pode ter tido mudança por aí, mas para a nossa linha não veio”, reclama.

Gradual

Wilson de Jesus, gerente de transportes da CMTU, explica que a rede de transporte sofre alteração por meio da junção com o que foi licitado ao que está sendo analisado no Plano de Mobilidade Urbana, que realizou pesquisa de origem e destino em 5 mil domicílios, dados que estão sendo tratados. “Dessa análise vai sair no que vai resultar uma possível adequação da rede de transporte, se houver uma incompatibilidade entre demanda e oferta. Além dessa questão da rede com o plano de mobilidade, na linha 405 (citada) faremos um levantamento e, se houver demanda, que seja feita ampliação”, responde.

Jesus explica que a percepção de mudança na oferta do transporte coletivo será gradual, pois toda a rede será impactada pela nova forma de distribuição. Além disso, alguns sistemas ainda não estão ativos, como o de bilhetagem eletrônica, com prazo de quatro meses, e o Sistema Inteligente de Transporte (ITS), que tem o prazo de oito meses para ativação.

Outras mudanças também serão sentidas pelos usuários, como a distribuição de Wi-Fi de 12 mega para 100 mega e câmeras com reconhecimento facial em toda a frota, remuneração das empresas com base nos índices de eficiência, qualidade e produtividade avaliados pelos usuários, além de reformas nos terminais e nas faixas exclusivas de ônibus. “É uma série de medidas que o cidadão londrinense começa a visualizar no transporte coletivo que é fruto da nova forma de pensar mobilidade”, avalia.