Imagem ilustrativa da imagem Movimento reclama de ‘descaso’ com moradores de rua na pandemia
| Foto: Gustavo Carneiro - 19/08/2020

O MNPR (Movimento Nacional de População de Rua) em Londrina denuncia o que considera uma falta de ação do poder público municipal em prol da população em situação de rua diante da pandemia de coronavírus. De acordo com André Luis Barbosa, coordenador do movimento na cidade, já foram registrados, pelo menos, dois casos positivados da doença nos últimos dias entre as pessoas que ficam em frente ao Centro POP (área central). As secretarias de Saúde e Assistência Social afirmam que têm tomado as providências necessárias.

Barbosa afirmou que o município não adotou medidas para isolamento dos infectados, que continuaram convivendo normalmente com os colegas. A média varia de 50 a 80 pessoas na entrada do imóvel, às margens da avenida Celso Garcia Cid. “A secretaria de Assistência Social não toma providências. Nosso medo, com o tempo passando, é começar a ter notícias trágicas sobre a população de rua, que até agora não tinha sido afetada”, apontou.

Em março, a prefeitura firmou um convênio com a Arquidiocese de Londrina, em que foram oferecidas 150 vagas, divididas entre três espaços - para homens, mulheres e idosos -, para estadia dos moradores durante a pandemia de Covid-19. O serviço funcionou por cerca de oito meses, entretanto, acabou desativado com a diminuição da curva de contaminação pela doença.

O coordenador do MNPR cobra o retorno do plano de emergência, com disponibilização de vagas de acolhimento de maneira imediata. “Voltar com o abrigo emergencial é uma medida necessária até termos uma vacina”, solicitou.

REUNIÃO

Na segunda-feira (14) ocorreu uma reunião entre representantes do MP (Ministério Público), das secretarias de Saúde e Assistência Social e Movimento Nacional de População de Rua. Segundo Barbosa, o município se comprometeu a conseguir dez vagas para abrigar moradores de rua com casos suspeitos ou confirmados de coronavírus. Ele reclamou que não foi estipulado prazo e que o número está aquém da real demanda. Pesquisa divulgada no ano passado mostrou que Londrina tem aproximadamente mil pessoas vivendo nas ruas.

“Temos 350 vagas em abrigos. Uma média de 350 moradores de rua na área central, 80 todos os dias em frente ao Centro POP para fazer uso de banho e pegar lanche. Se oferecem dez vagas, fazemos o que com os demais? Deixamos circulando?”, questionou.

PROTOCOLO

A secretaria municipal de Saúde informou que segue os protocolos estabelecidos e que, ao identificar caso de Covid-19 entre moradores de rua, mantém a pessoa em internação social, mesmo que seja assintomática ou com sinais leves. “Ou direcionamos para a Assistência Social, para encontrar um lugar que possa o abrigar em isolamento”, destacou Felippe Machado, responsável pela pasta.

SURTO

Um surto de coronavírus foi registrado numa casa de passagem para moradores de rua localizada na zona oeste. O secretário relatou que em 3 de dezembro um paciente da instituição apresentou sintomas de síndrome respiratória e foi encaminhado para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim do Sol. O teste deu positivo para coronavírus.

Posteriormente, foi feito o rastreio de contato, em que quatro colaboradores e mais dez moradores foram diagnosticados com a doença. “A Assistência Social organizou o fluxo para os positivados ficarem isolados e fizemos o monitoramento. Não tivemos mais nenhum relato (de adversidade) e o período de quarentena está caminhando para o fim”, destacou.

ASSISTÊNCIA SOCIAL

A secretária de Assistência Social, Jacqueline Micali, acrescenta que dos dez casos, "seis pessoas evadiram dos espaços e estão indo ao Centro Pop pedindo banho e alimentação. Mas o Centro Pop não vai fornecer alimentação e higiene para quem precisa ficar em isolamento social. Qual a lógica de fornecer e deixar essas pessoas na rua?", questiona. "Para os casos suspeitos ou confirmados a gente oferece local."

Sobre o convênio com a Arquidiocese, ela disse que nenhum serviço que era oferecido antes acabou. “Esses acolhimentos eram provisórios e viraram serviços contínuos depois que saíram em edital e duas instituições estão tocando o serviço. As mulheres foram para uma casa e os homens já foram transferidos do Emaus e do Paloti. Já os idosos foram absorvidos pela Secretaria do Idoso”, declarou.

Ela disse que ninguém acabou com o plano de emergência. “Continuamos com o protocolo com a saúde. Quando começou a pandemia foram criadas duas casas de passagem e tudo continua do mesmo jeito. Não tem nada de diferente. As vagas continuam do mesmo jeito. O movimento pede todas as casas abertas e isso não vamos fazer. Hoje o morador de rua entra em um acolhimento só depois de passar por avaliação médica. Se ele sai e quiser voltar, não consegue, porque precisa passar pela casa de passagem novamente e realizar os exames justamente para não ocorrer o que ocorreu agora de espalhar o vírus. Nada mudou”, garantiu. (Colaborou Vítor Ogawa)