Outdoor instalado na avenida JK critica a CNBB e prega boicote à  doação de dinheiro para o Fundo Nacional de Solidariedade
Outdoor instalado na avenida JK critica a CNBB e prega boicote à doação de dinheiro para o Fundo Nacional de Solidariedade | Foto: Gustavo Carneiro

Grupos da Igreja Católica têm se manifestado contrariamente à Campanha da Fraternidade deste ano, que se inicia oficialmente nesta quarta-feira (17). A ação anual é promovida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) no tempo quaresmal, tendo sido lançada a nível nacional em 1964. Em 2021, o mote da campanha é o ecumenismo, tendo como tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e o lema baseado numa passagem bíblica do livro de Efésios: “Cristo é nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”.

A campanha deste ato foi organizada tanto pela CNBB, quanto pelo Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs). Em Londrina o movimento Brasil Católico está estampando em outdoors o que considera uma deturpação dos valores cristãos, com a defesa do que classificam como pautas partidárias de esquerda e com viés comunista. Um outdoor na avenida Juscelino Kubitschek, por exemplo, acusa a atual Campanha da Fraternidade de ter “infiltrados abortistas” e pedem pela retirada de “comunistas do altar”.

Presidente do movimento, o advogado Bruno Pedalino reclama que a Conferência dos Bispos já vinha adotando posturas que sustenta ser de esquerda, contando com mídias que seriam deste mesmo espectro político. “A gota d’água surgiu com essa campanha da CNBB. Decidiram radicalizar completamente. Colocaram na organização uma pessoa que nem da Igreja Católica Apostólica Romana é. Pertence a uma religião protestante. Uma senhora militante do comunismo de esquerda, fazendo com que a Igreja Católica, que tem sua liderança, fosse reduzida a segundo plano”, elencou. A referência é contra a pastora luterana Romi Márcia Bencke, secretária-geral do Conic, que é natural do Rio Grande do Sul.

O texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica traz críticas à cultura de violência contra mulheres, negros, indígenas e pessoas LGBTIQ+; negação da ciência; e atuação do Governo Federal no combate à pandemia de coronavírus. “Em todos os temas estão incutidos princípios que não são previstos e admitidos pela vida, apoiando e incentivando o aborto, querendo incluir dentro da igreja a ideologia de gênero. Estão deturpando o conceito de propriedade, patrocinando o movimento sem-terra. Tudo isso é condenado pela Bíblia, por Jesus Cristo e pelos dogmas básicos da Igreja Católica Apostólica Romana. Tem que respeitar, mas não incentivar a homossexualidade.”

SUPERAÇÃO DAS POLARIZAÇÕES

Pároco da paróquia Santo Antônio, no Cafezal, zona sul, padre José Cristiano dos Santos afirma que desde 1980 a igreja trabalha as propostas da campanha à luz do Concílio Vaticano segundo, que de acordo com o sacerdote, propôs uma igreja aberta para dialogar com outros credos religiosos. Está a quinta vez que é realizada uma Campanha da Fraternidade Ecumênica. “A campanha vem para convidar as comunidades de fé e pessoas de boa vontade a pensarem, identificarem caminhos para superarem polarizações e violência por meio do diálogo amoroso.”

O padre destaca que esta vivência acontece em quatro pontos, como fortalecimento das pastorais, o próprio diálogo ecumênico e cuidando com os pobres e marginalizados. “Aqueles que criticam querem desconstruir toda a luta contra a injustiça e opressão em relação aos negros, mulheres. Querem desqualificar dados. Querem negar a violência contra a comunidade LGBTQI+. “Quando olhamos para a política, economia e justiça, vemos que são estruturas que mantém o patriarcalismo, gerador do machismo, homofobia, do próprio racismo. Na realidade vemos a instrumentalização da igreja e da religião para manter essa estrutura”, frisou.

COLETA NACIONAL

Os movimentos avessos à Campanha da Fraternidade Ecumênica também pedem que não seja feita a doação na coleta nacional, prevista para março, na celebração do Domingo de Ramos. O dinheiro arrecadado costuma ser direcionado para o Fundo Nacional de Solidariedade e para o Fundo Diocesano de Solidariedade, sendo utilizado em projetos sociais, geralmente relacionados à campanha.