Mais um ciclo da história da colonização do Norte do Paraná – especificamente Londrina e Ibipor㠖 se fechou ontem de manhã. O escocês John Miler Hay morreu aos 98 anos, em Ibiporã onde se estabeleceu e nos últimos 50 anos se dedicou a agropecuária. Homem solitário e culto, ele teve uma participação importante no desenvolvimento das duas cidades. O sonho de se dedicar à terra e o desejo de construir um patrimônio particular o trouxeram para o Norte do Paraná, em especial para Londrina.
Hay chegou ao Brasil já adulto. Recém-formado na área de mecânica, ele foi contratado para trabalhar em um frigorífero em Barretos (SP). Mas só no início da década de 40, depois de muitos anos de trabalho conseguiu juntar o que considerou suficiente para iniciar a construir seu sonho de ser fazendeiro. Leitor ávido, foi em um jornal que ele encontrou o anúncio da Companhia de Terras Norte do Paraná e decidiu conhecer a região.
Aos 39 anos ele chegou a Londrina e comprou seu primeiro pedaço de terra; uma chácara que chamou de Recreio. A mesma terra que, depois de loteada, se transformou na atual Vila Recreio. Mas não era isto que ele buscava. Sonhava erguer uma propriedade agrícola auto-sustentável.
Foi através de George Craig Smith, primeiro chefe da Companhia de Terras, que ele realizou seu sonho comprando uma fazenda de cerca 250 alqueires em Ibiporã. As normas da Companhia de Terra não permitiam que ingleses adquirissem grandes propriedades nas terras loteadas pela empresa.
Do conselho nasceu uma forte amizade que durou praticamente 50 anos, sustentada pelo correio. As cartas trocadas por Hay e Smith fazem parte do acervo do Museu Histórico de Londrina. Traduzidas pelo pioneiro, elas mostram um pouco do perfil humano de Hay e muito da história da região.
Amante das letras e da música clássica, John Hay nunca se casou. Dedicou a vida à construção do tão sonhado ‘‘patrimônio’’ e, como ele mesmo dizia, deixou passar a oportunidade de construir uma família. Sua única herdeira é uma irmã que vive hoje na África do Sul e tem 96 anos.
Embora amasse o Brasil, conservou os costumes ingleses no estilo de vida até o final. E de todos os seus afetos, talvez, o mais forte tenha sido o fascínio pela natureza pródiga da região. Como provas deste ‘‘amor’’ deixou uma reserva natural e uma ‘‘criação’’ de beija-flores que literalmente atraiu para perto de si oferecendo alimento e segurança.
O Museu Histórico de Londrina conta com farto material sobre a vida do pioneiro – fotos e biografia. As informações e materiais foram obtidos em entrevistas feitas por uma equipe coordenada pela diretora do museu, Conceição Geraldo, que também deu entrevista à Folha sobre o pioneiro.