Moradores do jardim Tenerife, próximo da avenida Jamil Scaff, na zona leste de Londrina, estão mobilizados e querem impedir o funcionamento de um PEV (Pronto de Entrega Voluntária) no bairro. Entre as reclamações está de que o local, no final da rua Rubens Carrara, fica ao lado de área de preservação ambiental, oferecendo riscos ao meio ambiente. A CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) contesta.

A área destinada  para descarte de resíduos sólidos fica próximo do córrego Água Cafezal
A área destinada para descarte de resíduos sólidos fica próximo do córrego Água Cafezal | Foto: Roberto Custódio

A área destinada para descarte de resíduos sólidos fica ao lado de um fundo de vale e ao córrego Água Cafezal, que é afluente do Ribeirão Limoeiro. “Nosso questionamento é de que ao invés de preservar e fazerem algo para a própria população e meio ambiente, vão transformar em depósito de lixo. É colocarem o PEV e acabarem com o resto”, considerou Edenilson Negreli.

O mestre de obras é morador do jardim Abussafe, também região leste, e está construindo uma residência em frente à rua do futuro PEV. De acordo com Negreli, o lugar e o entorno já estão sendo alvos de ações criminosas. “Têm pessoas que colocam fogo próximo ao córrego, que jogam lixo, que despejam pneus durante a madrugada e incendeiam. É uma área que a própria prefeitura e autoridades do meio ambiente largaram faz tempo”, lamentou.

O terreno ainda não está funcionando oficialmente para a nova função, porém, vizinhos denunciam despejo irregular. “Tem pessoas de outros PEV que estão recomendando virem aqui despejar. Até já nos pararam para perguntar onde que é o ecoponto do Tenerife”, relataram Teresinha Cristina Mosateli Carlos e Anderson dos Santos Caroano. Recentemente, a CMTU limpou o local e colocou tubos de concreto para impedir a passagem de veículos.

Cerca de 50 famílias já estão vivendo no Tenerife. De acordo com o casal, diversos caminhões de terra foram despejados na área, enterrando uma grande mina d'água. No entanto, em algumas localidades a água voltou a aparecer. “Aqui está cheio de animais silvestres, como seriemas, patos selvagens, quatis”, destacou Caroano.

ABAIXO-ASSINADO

Os populares relataram que já procuraram o poder público, em especial a Sema (Secretaria Municipal de Ambiente), pedindo medidas. Uma abaixo-assinado está sendo feito e contando com assinaturas de pessoas do bairro e adjacências. A ideia é levar o caso ao MP (Ministério Público), com pedido de abertura de investigação criminal. No projeto da loteadora, aprovado pelo município, o local do PEV seria uma praça. “Aqui não poderia ser nada e se fosse praça teria que ficar longe da nascente”, frisou Teresinha Carlos, que é advogada.

DENGUE

A apreensão com o ponto de entrega também é com a proliferação da dengue e com a possibilidade de outros terrenos do bairro, que ainda não foram ocupados, se tornem lugar de despejo. “Vai ficar feia a questão da dengue e a zona leste já está com muitos casos. Quando estava com o lixo que jogaram, antes de limparem, virou um grande foco do mosquito Aedes aegypti. Só vai potencializar” projetou o motorista Patrick Freitas. “A união dos moradores tem sido grande e acredito que podemos reverter.”

SEMA E CMTU

A Sema (Secretaria Municipal do Ambiental) emitiu em abril do ano passado uma licença ambiental autorizando a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) a utilizar o terreno no jardim Tenerife, na zona leste de Londrina, como PEV (Ponto de Entrega Voluntária). No documento, a secretaria elenca que a área é para atender pequenos geradores é que está autorizado o descarte de resíduos de construção civil, madeiras, podas e galhos, resíduos de erradicação de árvores e volumosos, como sofás, madeira e linha branca. A licença tem validade de 48 meses.

A CMTU, por meio da assessoria de imprensa, informou que o PEV será construído em espaço que respeita a área de preservação e a reserva legal, ocupando o lugar em que, num projeto, está indicada praça. A companhia também ressaltou que limpou o lugar há poucos dias e que agora está fazendo o processo de licitação para o cercamento do local.

Também assegurou que os trabalhadores dos demais pontos de entrega da cidade – no Vista Bela e Califórnia - não estão indicando o jardim Tenerife para despejo. A Sema, via Núcleo de Comunicação da Prefeitura de Londrina, disse que determinou uma nova vistoria na área e deverá se posicionar nesta semana.

QUESTIONAMENTO NA JUSTIÇA

A loteadora responsável pelo jardim Tenerife, na zona leste de Londrina, vai questionar na Justiça a decisão da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) de destinar a área no final da rua Rubens Carrara para PEV (Ponto de Entrega Voluntária).

Segundo Antonio Roberto de Oliveira, diretor da HF Urbanismo, a cobrança será para que o poder público siga o que foi aprovado no projeto apresentado. “Quando foi feito o loteamento, foi destinada uma área de praça para execução da prefeitura. O PEV atrapalha o futuro do empreendimento e os moradores ficam restritos de um espaço de lazer”, indicou. A empresa é parceira da proprietária do loteamento, a Mile Empreendimentos Imobiliários.

Oliveira explicou que o lugar conta com terreno de cinco mil metros quadrados onde deveria ser edificada a praça, na sequência mais de dez mil metros quadrados de área de preservação ambiental e mais oito mil metros de quadrados de reserva legal. “São áreas impróprias para despejo de lixo”, apontou.

Ele também garantiu que a loteadora não descarregou terra na mina d’água existente no terreno. “Não temos necessidade disso. Nossa terra é jogada em local apropriado e cada loteamento e construção tem que fazer a inscrição da obra junto à empresa que destinamos”, frisou.