Bandeirantes – Numa conversa rápida com moradores de Bandeirantes (Norte Pioneiro) uma percepção é certa: quem não está ou teve dengue nos últimos meses conhece alguém que já foi picado pelo mosquito infectado do Aedes aegypti. A cidade de cera de 31 mil habitantes é uma das dezenas em epidemia da doença no Paraná.

Último boletim da Sesa aponta Bandeirantes em situação de epidemia da dengue
Último boletim da Sesa aponta Bandeirantes em situação de epidemia da dengue | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

Último boletim da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), divulgado na semana passada, mostrou que o município está com 2.083 notificações e 598 casos confirmados. Um destes é o da comerciante Rosenete Santos da Silva, que vive no bairro Invernada. Recuperada da dengue, confirmada há cerca de um mês, ela contabiliza os familiares que contraíram a doença.

“Meu filho de 15 anos teve, minha filha de 20 anos, meu esposo sarou há poucos dias, minha irmã, meus pais. A família inteira, praticamente”, relata. “Meus pais foram uma judiação. Minha mãe tem 65 anos, tem outras comorbidades, e ficou internada. Olho no rosto das pessoas e dá dó de saber o que estão sentindo”, afirma. Todos moram na mesma localidade, que se assemelha a uma vila rural. “É muita dor no corpo, atrás dos olhos. Não dava nem para ficar com os olhos abertos. A sensação é muito ruim”, elenca Glauco Aparecido da Silva, filho da comerciante.

O Invernada tem poucas ruas e residências, reunindo cerca de 50 famílias. Em um terreno em meio aos imóveis podem ser notados três carros com marcas de abandono. A reclamação de alguns populares é da falta do fumacê - problema registrado em todo o País -, e da ausência de uma maior presença dos agentes de endemias. Um córrego que passa pelo bairro é apontado como um ponto de foco do mosquito. Os comentários são de que estabelecimentos despejam água suja no lugar.

‘TERRÍVEL’

Morador do bairro, o servente de pedreiro José Vieira Sobrinho ainda está com os sintomas da dengue, que teve pela primeira vez. “O sol estava forte, o tempo quente e eu debaixo da coberta. Tentei trabalhar duas vezes, porém, não consegui continuar e passei mal”, conta. “O mosquito é pequeno, mas terrível. Aqui quem não pegou dengue está com sorte.”

SUSTO

Aos 66 anos, a aposentada Terezinha de Jesus Jurado traz no corpo as marcas da doença. “Estou com vermelhidão e coça muito, não aguento. A dor de cabeça é forte. Nasci e me criei em Bandeirantes e nunca vi isso”, constata a idosa, que garante manter o quintal limpo e está se hidratando com frequência. “Sempre tomei cuidado e fui preocupada em relação à limpeza. Me assustei. Minha filha comprou dois pacotes de soro e estou tomando”, destaca.

CRIANÇAS

Na mesma região, na Vila Bela Vista, a filha da idosa, Sandra Gomes Domiciano, está cuidando das duas filhas pequenas, que foram diagnosticadas com dengue. “A Yasmin, de seis anos, começou a ter muita febre, ânsia, dores pelo corpo. Ela está se restabelecendo, no entanto, não come direito e até emagreceu”, preocupa-se a dona de casa, que teve dengue neste ano.

A primogênita, Letícia, de nove anos, começou a apresentar os sintomas no dia 20 e teve que ser levada para o hospital. “Ela teve cinco dias seguidos de febre. Encontrei dificuldades para conseguir atendimento para ela e depois que fez o exame de confirmação e veio para casa passou mal e desmaiou. No hospital ficou no soro”, diz Sandra Domiciano.

Bairro Invernada: poucas ruas e residências, mas muitos casos da doença
Bairro Invernada: poucas ruas e residências, mas muitos casos da doença | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

‘LIMPO MEU QUINTAL E O DO VIZINHO’

Se por um lado muitas pessoas não cuidam dos quintais e praticam despejos irregulares, por outro, vizinhos se unem para não fazer parte da estatística da dengue em Bandeirantes. Um grupo de parentes e amigos decidiu limpar uma área em frente as casas, na Vila Bela Vista, para inibir que populares jogassem lixo. Até uma churrasqueira foi construída para aproveitar o espaço.

De acordo com Maria Benilda Rosa, o clima é de medo entre os moradores da cidade. “Fiquei internada recentemente por outro motivo e tinha duas mulheres no mesmo quarto que eu por conta da dengue. Existem ruas aqui em que não escapou ninguém”, indica. “Fico apreensiva. Limpo o meu quintal e o do vizinho também. Minha mãe teve dengue, meu irmão”, empenha-se Kelly Vieira.

Para Rafaela Alessandra Novaes, a falta de conscientização da população é o grande desafio no combate ao mosquito Aedes aegypti. “A prefeitura fez mutirão de limpeza na semana passada, recolheu entulhos e no outro dia tinha lixo jogado em frente de casa. Na estrada aqui jogam lixo sempre”, reclama.

CONTRATAÇÃO EMERGENCIAL

Com a declaração de epidemia de dengue, a Prefeitura de Bandeirantes contratou neste mês 18 agentes de endemias em caráter emergencial e temporário (seis meses). Anteriormente, eram os agentes comunitários de saúde que faziam as vistorias nos imóveis. “Deverá ter concurso para efetivar as funções e dar continuidade ao trabalho”, projeta Reinaldo Marqui, coordenador de Vigilância em Saúde da cidade.

O poder público tem apostado em mutirões de limpeza para retirar lixos e entulhos das residências e terrenos, eliminando possíveis criadouros do mosquito. “Cerca de 85% dos focos estão dentro dos quintais. Muita gente nos liga reclamando de terreno com mato alto, entretanto, isso incomoda, mas não gera o mosquito. Ele precisa de água parada”, alerta.

O trabalho de recolher os materiais começou em janeiro e foi expandido para toda a cidade nos últimos dias. Palestras estão sendo levadas paras as escolas sobre o tema e um carro de som circula pelos bairros chamando atenção da população para a importância dos cuidados.

O horário de fechamento do Pronto Atendimento Municipal, que funciona na UBS (Unidade Básica de Saúde) do centro, foi ampliado para as 20h, por conta dos casos da doença. “Em todas as unidades a procura é muita intensa. O horário do pronto atendimento é 20h, mas tem dia que chega às 22h. Enquanto houver gente, tem o atendimento.”

Das sete unidades de saúde da cidade, as que ficam localizadas no Invernada, Vila Bela Vista e centro, que concentra parte da periferia, são que concentram a maioria das confirmações.