Moradores do Vivi Xavier mostram preferência pela música sertaneja
Apesar de morarem em ruas como Elvis Presley, Ataulfo Alves e Carmen Miranda, o gosto é pelo sertanejo
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 31 de outubro de 2019
Apesar de morarem em ruas como Elvis Presley, Ataulfo Alves e Carmen Miranda, o gosto é pelo sertanejo
Vitor Ogawa - Grupo Folha
O conjunto habitacional Vivi Xavier, na zona norte de Londrina, recebeu esse nome em homenagem ao industrial Ulysses Xavier da Silva, que foi vereador e prefeito substituto (1946-1947). Mas a maioria das ruas desse bairro recebeu nomes de pessoas ligadas à música, como Elvis Presley, Araci de Almeida, Altemar Dutra, Nara Leão, Luiz Gonzaga, Raul Seixas, Elis Regina, Ataulfo Alves e Carmen Miranda. Curiosamente, o gosto musical de muitos moradores entrevistados pela FOLHA não condiz com os homenageados.
Um exemplo é o marceneiro Roque Milano Marconato, 74, que mora na rua Elvis Presley, e cuja música preferida é “Recordando o Passado”, de Zico e Zeca. “Eu gosto de ficar ouvindo música sertaneja. Se pedirem para tocar Elvis eu toco, mas não tem nada igual a música sertaneja, música raiz. As músicas antigas são todas boas, perfeitas para recordar o passado”, destaca, enquanto mostra um LP de vinil de Tião Carreiro e Pardinho e exibe um equipamento de som capaz de fazer inveja a qualquer roqueiro. São tocadores de fitas de rolo, de fita cassete, de CD, de discos de vinil e de DVD com qualidade superior a de uma casa comum.
“Faz 45 anos que comecei a comprar os equipamentos. Fui trabalhando e adquirindo eles aos poucos. A maioria é importada”, destaca. Marconato explica que tinha uma coleção grande de discos, mas foi vendendo. "Só guardei os que mais gosto”, ressalta. Entre as raridades ele mostra um disco de Lício e Lina, chamado “Brasil Amado”. “A Lina morava aqui nos Cinco Conjuntos. Eu cheguei a conhecê-la.”
O porteiro aposentado Aparecido Maria Gonçalves, 60, também mora na Elvis Presley. Questionado sobre qual a música preferida do astro, ele diz que não guarda muito os nomes, mas que se recorda dos filmes com o cantor. “As músicas dele sempre tocavam nos filmes", justifica o porteiro, que também já morou na rua Maysa.
O cantor e compositor John Lennon, um dos quatro integrantes dos Beatles, sempre mencionava que Elvis Presley foi uma inspiração para o seu trabalho (embora Presley não nutrisse a mesma admiração por Lennon). No Vivi Xavier a rua John Lennon fica paralela à rua Elvis Presley. A dona de casa Maria José Paião Dormeze relata que embora na sua juventude Lennon estivesse no auge de seu sucesso, não conhecia o cantor quando jovem. “Sabe que naquela época a gente morava na roça; não tinha rádio nem TV. Dos 19 anos até os 30 anos morei na roça, por isso gosto mais de música caipira”, destaca. Só depois de se mudar para o Vivi Xavier que ela procurou saber quem era John Lennon. “Hoje tenho orgulho da minha rua chamar John Lennon. É um nome lindo, de um cantor que já foi muito famoso."
Na rua Maysa, o operador de máquina aposentado José Amauri Riguete também tem predileção pelo gênero sertanejo. “Gosto de Victor e Léo e de músicas antigas do Tião Carreiro e Pardinho. A maioria aqui no bairro gosta de música sertaneja, de música raiz”, destaca. Ele afirma que também gosta de MPB, mas para se lembrar de nomes de cantores desse gênero é difícil. Sobre Maysa ele afirma que conhece a obra dela. "O bom de morar na rua Maysa é que é um lugar tranquilo. Temos vizinhos bons”, destaca.
Sua vizinha é a zeladora aposentada Diva de Souza Devergenes. “Não me lembro da Maysa. Naquele tempo que ela fez sucesso eu morava em um sítio e ouvia mais sertanejo. Ouvia muito Vieira e Vieirinha, Tonico e Tinoco. São músicas mais velhas. Quando surgiu o Chitãozinho e o Xororó eu ainda morava no sítio. Quando mudei para cá a rua já se chamava Maysa. Fui uma das primeiras moradoras, porque essa casa da Cohab saiu para mim há 34 anos ou 36 anos mais ou menos.”
Mas se o sertanejo tem sido o ritmo preferido nas residências, talvez isso mude em breve, já que o ritmo executado nos veículos que circulam pelo bairro sejam mais o funk brasileiro. Devergenes torce o nariz para essa tendência. "Não gosto. Acho horrível", declara.