Moradores de rua participam de jantar especial
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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Viviani Costa<br>Reportagem Local
Aos poucos, os bancos vazios da Concha Acústica, no centro de Londrina, receberam centenas de moradores de rua. No palco, a atração cultural deu lugar a uma mesa farta. O jantar especial oferecido no início da noite desta segunda-feira (18) foi um alívio para quem não sabia ao certo quando teria acesso à próxima refeição. O cardápio (estrogonofe de carne e de frango) fez a alegria de quem coleciona histórias de dor e sofrimento.
S.A. foi um dos primeiros a se aproximar do local da festa. O londrinense de 51 anos vive nas ruas há 7, quando deixou a cidade para trabalhar em um supermercado de São Paulo. Problemas familiares e amigos o levaram até a cracolândia. "Fiquei três anos naquele inferno", contou ele, mostrando as cicatrizes no rosto, resultados de dívidas e discussões. A muito custo, retornou a Londrina, buscou tratamento, mas não deixou o vício. "Tenho contato com a família, mas com essa vida fica difícil. Essa vai ser a minha única refeição hoje", comentou pouco antes do jantar.
Os voluntários do chamado "Sopão Solidário" servem refeições todas as segundas-feiras, a partir das 18 horas, na Concha Acústica. O idealizador do projeto, Gervásio Gonzalez, calcula que mais de 60 mil refeições tenham sido oferecidas durante os 15 anos do projeto. A iniciativa surgiu depois que Gonzalez, morador da região central na época, percebeu que algumas pessoas aguardavam o final da feira para recolher produtos que estavam no chão e em caçambas. Da grande quantidade de beneficiados ao longo desses anos, um permanece vivo na memória de Gonzalez.
"A gente serve as refeições mesmo com chuva. Um dia, por causa do mau tempo, pouca gente veio e saímos com o que sobrou para distribuir para quem a gente encontrasse na rua. Um dos homens não tinha forças nem para engolir um leite com café. Só depois de um tempo, ele se recuperou e conseguiu comer a refeição mais sólida", relembrou.
Quem ajuda no preparo dos alimentos na cozinha cedida pela Igreja Metodista Central também se emociona por fazer parte do projeto. Pela primeira vez, a dona de casa Aparecida Carvalho da Silva, 43, e a filha Bruna Stefany da Silva, 21, colaboraram com a equipe de voluntários. Para as duas, o Natal ganhou um novo significado. "Já na cozinha, desde a hora que eu estava preparando a comida, eu estava pensando neles, em como eles são carentes e sozinhos e em como o pouquinho que a gente faz pode abençoar a vida deles", disse a mãe. "A gente tem também um parente morador de rua que não é daqui. Ele está em São Paulo e a gente não tem como ajudar. Ele mora na rua e não quer ser encontrado. Faz uns 9 anos que não temos notícia dele", contou a filha.
"Segunda-feira que vem estaremos aqui de novo", garantiu Gonzalez. Quem quiser colaborar pode ajudar no preparo dos alimentos todas as segundas-feiras, a partir das 13 horas, na Igreja Metodista Central. Doações em dinheiro ou de alimentos também podem ser feitas à equipe.