As flores foram formando fileiras e agora tomam conta do canteiro: espaço agradável para a vizinhança
As flores foram formando fileiras e agora tomam conta do canteiro: espaço agradável para a vizinhança | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

É no caminho de quem sai do Centro e quase chega ao Hospital Zona Norte, em Londrina, que há uma demonstração do que a comunidade pode fazer pela paisagem local. O Jardim da Fé, como foi nomeado, era antes mato, lixo e entulho, mas aos poucos foi ganhando cor, novas texturas e se multiplicou em um jardim de gerânios cuidado pela vizinhança.

No início, a proposta era unir os moradores para limpar o local. “Tinha muito lixo, caramujo, TV jogada, era um lixão. A ideia foi de uma vizinha, que hoje não vive mais aqui, mas na época ela juntou os moradores para pagar as três caçambas de lixo que foi retirado. Depois disso, ficou a responsabilidade de manter limpo”, comenta a moradora Maria de Fátima da Silva, 66.

Mas manter é tão difícil quanto limpar. "Inicialmente, a gente queria fazer uma horta, mas como dá mais trabalho para cuidar, dá bichinho, nós decidimos plantar flores; mas mesmo com flores, ainda tem gente que joga lixo ali”, afirma a moradora. O que justifica as placas pedindo para que o lixo não seja jogado no local.

As mudas foram aparecendo conforme os mais engajados pediam para quem tivesse uma planta para ceder, outras foram doadas espontaneamente por quem via que ali nascia um jardim. Um comerciante da região levou os pneus na caminhonete, que servem como apoio para as plantas.

Mesmo assim, é preciso carpir, podar, regar, trabalho que Divina Catenassi, 67, faz, munida de ferramentas. “Já teve vezes que cheguei 8 horas e só fui embora à tarde, 15 horas”, comenta. “É um sentimento de carinho, toda a vida fui criada em sítio e sempre gostei muito de planta”, menciona.

Com esse trabalho cuidadoso, os gerânios foram se multiplicando, formando fileiras da mesma espécie, entre as outras que chegaram trazendo novas cores. “Eu coloquei o nome de Jardim da Fé, porque ele só vai na fé, a gente planta e ele vai crescendo sozinho”, menciona a aposentada.

A moradora conta que essa não foi a única fez que precisou cuidar de um espaço público. Em frente a sua casa havia uma árvore que estava se tornando ponto de descarte. “Era sofá, cadeira, entulho, tudo na frente da casa da gente, embaixo de uma árvore. Coloquei uns pneus, plantei uma flor, nunca mais teve descarte ali”, afirma.

Para ela, é importante que a comunidade abrace os espaços, seja um canteiro, calçada ou praça. “A cidade é muito grande, o povo pode ajudar. Não custa nada, se tem um pedacinho perto da casa precisando de cuidado, vai lá, arruma, planta, enfeita o bairro onde você mora. A prefeitura não vai dar conta de tanto lixo, porque eles limpam, vem outro e suja”, defende.

Imagem ilustrativa da imagem Moradores da zona norte se unem e criam o Jardim da Fé
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Para Maria de Fátima, que vive bem próximo do Jardim da Fé, o canteiro se tornou um espaço bem mais agradável do que aquele depósito de lixo anterior. “A gente sentava na calçada vinha aquele cheiro, agora não”, afirma. Além dos elogios que gostam de receber. “Muita gente passa aqui e para, fala que o jardim está bonito, cumprimenta, quer saber quem fez”, comenta. E quem fez, mantém e cuida é a comunidade.