Sacos pretos nos portões das casas, faixas destacando a indignação fincadas na praça Nishinomiya, mas que têm sido arrancadas por terceiros. É assim que os moradores dos jardins Aeroporto e Albatroz têm protestado contra os transtornos gerados pelas obras de ampliação do aeroporto Governador José Richa, na zona leste de Londrina. “Nós estamos ‘dentro da obra’. É insustentável”, definiu a advogada Valeria Cristina dos Santos.

Os vizinhos listam uma série de problemas que estariam sendo provocados pelas melhorias e sem mitigação, como a falta de lona nos caminhões carregados com terra, a sujeira deixada nas ruas do entorno, terra indo para a rede de galerias pluviais, poluição sonora, inexistência de muro de contenção para “segurar” o aterramento em dias de chuva e o mato alto nas áreas desapropriadas.

Na semana passada, a água barrenta invadiu a casa de um homem em forma de enxurrada. Ele perdeu objetos e o piso laminado, que ficou encharcado. “Existem casas que estão apresentando rachaduras, com fissuras em paredes, no teto. Tem gente que conseguiu fazer laudo, mas não são todos que têm essa condição”, comentou a biomédica Jenny dos Santos Dafonte.

O poeirão é outro alvo de reclamação. “As pessoas estão ficando doentes com a poeira. Até o ar está carregado. Quando não chove é possível ver as partículas de terra. Está difícil até de contratar alguém para limpar, porque limpa de manhã, a tarde está tudo sujo novamente. Roupa tem horário para colocar no varal. É um bairro onde vivem muitos idosos”, contaram. As duas são integrantes da associação dos moradores.

Em algumas residências os proprietários estão colocando lonas no piso interno para evitar a sujeira. “Queremos respeito e que seja cumprido o que está no contrato. Existe um documento falando das medidas (a serem adotadas) no entorno, justamente para diminuir os transtornos. O caminhão com terra, por exemplo, precisa estar com lona de proteção e isso não acontece”, apontou Valéria.

REUNIÕES

Os moradores disseram que no ano passado, quando as obras tiveram início, se reuniram com representantes da CCR Aeroportos, que administra o aeroporto desde 2022. Um encontro foi on-line, em agosto, e o outro em outubro, presencialmente. “Prometeram tomar providências, mas nada foi feito. Pedimos o impacto de vizinhança, que não foi entregue. Já entramos em contato com a ouvidoria várias vezes”, afirmaram.

A modernização do aeroporto terá um investimento total de cerca de R$ 185 milhões. Os trabalhos contemplam a adequação das áreas de escape, reforma do terminal de passageiros, edificação de duas pontes de embarque e, futuramente, a instalação do ILS, esta medida de responsabilidade do Departamento de Controle do Espaço Aéreo. As intervenções têm previsão de entrega no final deste ano.

O receio é de que com a evolução dos serviços, o cenário piore. “O desenvolvimento tem que acontecer, mas nossos direitos precisam ser respeitados. O lar é um lugar inviolável, de paz e não de tumulto, de dor de cabeça. Nem visita podemos receber por causa de sujeira”, frisaram.

'MEDIDAS ADOTADAS'

Por meio de nota enviada à FOLHA, a CCR Aeroportos informou que “trabalha em medidas para diminuir os impactos gerados pela obra de reforma e ampliação do aeroporto Governador José Richa” e “que segue todas as normativas vigentes para assegurar a qualidade e segurança das operações.”

“Estão sendo adotadas medidas para mitigar a poeira e outros resíduos, sendo uma delas, a umidificação do solo. A equipe de obras também respeita os horários permitidos para a execução de atividades barulhentas, como drenagem e terraplanagem, que já está na etapa final”, pontuou a concessionária.

Quanto aos prejuízos causados pelas fortes chuvas que atingiram a cidade na última semana, a CCR ponderou que “técnicos da empresa contratada para a realização das obras visitaram as residências atingidas e solucionaram a situação, com a impermeabilização dos muros do local, além da limpeza das vias públicas com o auxílio de um caminhão-pipa.”