É comum ver presépios elaborados, com muitas luzes, materiais sofisticados e muita produção. No entanto moradoras de Cambé (Região Metropolitana de Londrina) montaram a representação do estábulo em Belém, com as cenas que se seguiram ao nascimento de Jesus, com materiais simples. O objetivo é resgatar a ideia original de Francisco de Assis, que em 1223 queria mostrar aos camponeses italianos como tinha sido a noite do nascimento de Jesus. Francisco usou argila para criar vários bonequinhos de barro e montar a cena.

Imagem ilustrativa da imagem Moradoras de Cambé resgatam simplicidade de presépio
| Foto: Vitor Ogawa - Grupo Folha

A iniciativa do presépio do Jardim Tupi, em Cambé, foi da servidora aposentada Dilma Rodrigues Alves da Silva, 62. “A praça andava abandonada e, este ano, eu comentei com a minha filha que iria limpar um pedacinho dela e montar um presépio. Todo mundo achou que era uma loucura”, afirma. “No início era só eu e minha cunhada. O que eu quis retratar foi realmente o nascimento de Jesus há 2 mil anos. Fizemos as personagens com tocos de árvores, garrafas PET, isopor e tecido TNT. O estábulo foi feito pelo meu marido, que serrou bambus, galhos de árvore e cobriu com palha. Essa parte foi a última a ser feita”, detalhou.

CAMINHO DOS REIS MAGOS

Para fazer o caminho percorrido pelos Reis Magos ela delimitou com pedras coletadas bem distante dali, serviço que ela e sua cunhada fizeram sozinhas. A dupla também plantou flores, como gerânios, beijinhos, além de bananeiras e cactos. “Era para tudo estar florido agora, em dezembro, mas os vândalos destruíram tudo. Eu cheguei a pensar em desistir, mas algo me falou para continuar e refazer tudo, pois se desistisse os vândalos acabariam vencendo”, ressaltou. “Acho que ficou como eu queria. Eu não tenho as plantas floridas, mas a gente conseguiu terminar.”

“Eu vejo o presépio como um exemplo para toda a vida. Hoje em dia muita gente faz presépios lindos, com muitas luzes e enfeites. Não sou contra,inclusive gostaria que meu presépio tivesse iluminação para ser admirado à noite, mas eu acho que nenhum presépio desses retrata quando Jesus nasceu, com simplicidade pura, sem luxo, sem muitas luzes”, afirmou o moradora, que critica também o fato de muitas pessoas se preocuparem em publicar fotos nas redes sociais ao se deparar com presépios mais elaborados, mas não entendem a essência.

Maria Benedita Isidoro e Dilma Rodrigues Alves da Silva, moradoras do Jardim Tupi: "Vejo o presépio como um exemplo para toda a vida"
Maria Benedita Isidoro e Dilma Rodrigues Alves da Silva, moradoras do Jardim Tupi: "Vejo o presépio como um exemplo para toda a vida" | Foto: Vitor Ogawa - Grupo Folha

RECICLÁVEIS

Ela relatou que o seu primeiro presépio foi montado quando ela tinha apenas 9 anos. “Era um presépio feito com papelão e jornal. Minha mãe passava carvão no jornal e no papelão e ficava parecendo uma pedra. Eu tenho um dom para fazer peças com material de reciclagem e fui criada com essa ideia”, garantiu. “Entrei para as Santas Missões Populares e me colocaram no terceiro objetivo, que é trabalhar com meio ambiente. Quando quero fazer uma peça, faço com material reciclável”, apontou.

Silva nasceu em Grão Mogol (MG). “Vim ao Paraná com dois anos de idade. Mudei para a região de Assaí (RML), onde vivi até os 14 anos, quando me mudei para Cambé. Sempre morei no sítio e sempre estudei em colégio de freiras, o que me inspirou nessa parte de montar presépios”, afirmou.

A cunhada de Silva, a merendeira aposentada Maria Benedita Isidoro, 69, relatou que foi difícil construir tudo. “Porque éramos só nós duas e mais alguns parentes. Quando destruíram tudo nós ficamos desanimadas, mas a Dilma se animou e começou a fazer tudo de novo. Depois de ver tudo pronto fiquei muito feliz”, declarou.

Imagem ilustrativa da imagem Moradoras de Cambé resgatam simplicidade de presépio
| Foto: Vitor Ogawa - Grupo Folha

O cenário vem chamando a atenção de vários moradores da região, inclusive daqueles que se recusaram a ajudar a montar o presépio. Segundo Silva, vários deles elogiaram a iniciativa após ver o resultado final. "Na última semana, eu tive a ajuda também de um moço chamado Rivelino, que fez as casinhas para mim, para representar uma vila", destacou.

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