O monumento "O Passageiro", de autoria do artista plástico Henrique de Aragão, completa 30 anos. Instalado na zona leste de Londrina, ele foi inaugurado em dezembro de 1989, conforme mostram as reportagens da Folha de Londrina da época. A obra foi encomendada e doada ao município pela Viação Garcia, na data do 55º aniversário de Londrina.

Imagem ilustrativa da imagem Monumento "O Passageiro" completa 30 anos
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

“Quem encomendou a obra foi o Fernando Garcia Cid”, relata o arquiteto Pedro Eduardo Botti, responsável pelo projeto da base de concreto do monumento. "A obra tem um triângulo na base dela, porque três pontos definem um plano na geometria e na física; a figura com três pontos de apoio é o objeto mais estável que tem. A parte que o Henrique fez foi dividida em três partes: um homem, uma mulher e um embrião, que seria a semente que vai ser uma vida”, destaca o arquiteto.

“O Henrique tinha uma visão holística do que era o homem e o universo. Esse passageiro não é aquele que fica sentado em uma poltrona de ônibus, mas um passageiro cósmico, que estava além do espaço e do tempo”, declara. “ A gente não tinha proposto inicialmente que a obra ficasse na rotatória (da avenida Dez de Dezembro, próximo à Rodoviária), porque tínhamos dúvidas se a legislação autorizaria, mas quando ficou lá, teve visibilidade. Hoje vejo que o monumento é muito importante, porque cria uma identidade não só para o local, mas para o londrinense. Fica na memória das pessoas”, relata o profissional.

Por causa da construção do viaduto na Dez de Dezembro, o monumento foi retirado da rotatória e instalado em uma área próxima à rua Norman Prochet. Ele tem 15 metros de altura. Henrique Aragão era paraibano e morava em Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina). Ele faleceu em agosto de 2015.

'VEIO TUDO DA CABEÇA DELE'

As esculturas metálicas do monumento O Passageiro foram feitas em um dos barracões da Viação Garcia. Na época foram convocados seis funcionários que trabalhavam na manutenção dos ônibus para executar o monumento, sob a orientação do artista plástico Henrique Aragão.

Benedito Donizeti Arruda e  José Roberto Zequini: orgulho
Benedito Donizeti Arruda e José Roberto Zequini: orgulho | Foto: Vítor Ogawa - Grupo Folha

Dois deles permanecem na empresa. O latoeiro Benedito Donizeti Arruda, 55, e o gerente de serviços de manutenção, José Roberto Zequini, 60, relatam como foi trabalhar com o artista. “Veio tudo da cabeça dele . Ele ia criando na mente e nós íamos fazendo de acordo com o que ele pedia, sem rascunho algum. Me recordo que ele era extrovertido e brincalhão”, destaca Zequini.

Quando tudo começou, os funcionários acreditavam que as figuras humanas teriam dois, no máximo três metros, e se assustaram quando souberam o tamanho do projeto. A escultura tem 15 metros de altura. Possui colunas de concreto que apoiam uma esfera de cinco metros de diâmetro, que está cortada em três seções e apoiam as duas figuras humanas, feitas em aço inoxidável e a semente, que é uma esfera feita de latão.

Arruda relembra que Aragão pegava um pedaço de metal e colocava sobre a sua canela para tomar medidas para fazer a proporção correta. “Eu era bem magrinho na época”, destaca. Zequini relata que Aragão ficava pensando em como fazer a escultura da melhor forma e o resultado vinha de tentativas, erros e correções. “O caracol do cabelo, por exemplo, inicialmente o Aragão pensou em fazer liso, mas não gostou. A gente fez aquilo batendo na bigorna e ele ficava falando se estava pequeno ou se estava grande”, observa.

ORGULHO

A parte concebida por Aragão levou seis meses para ficar pronta. “Começamos em 1988. Imaginávamos que era uma coisa pequena e foi crescendo. Depois de pronto ajudamos na montagem na rotatória”, destaca Zequini. “É uma passagem de nossa vida que a gente não esquece. Moro em Cambé (RML) e passo por ali todos os dias para ir ao trabalho e a gente sempre relembra disso”, destaca.

Arruda também se orgulha de ter ajudado a fazer um monumento que virou ícone de Londrina. “É extraordinário. Ficou tudo bonito. A gente ficou emocionado em saber que ajudou a fazer aquilo”, destaca.