Os corredores do Mercado Municipal Shangri-lá, na zona oeste de Londrina, revelam um público diversificado, de idosos a crianças. Revelam também uma variedade de produtos que, às vezes, são inéditos para a clientela. Em meio a tudo isso há a mistura de aromas, pelo encontro de embutidos, queijos, bebidas, frutas, verduras, flores, peixes e salgados, que driblam o olfato e revelam desde a aparência, uma qualidade impecável.

Os corredores do mercado municipal revelam um público diversificado e também uma grande  variedade de produtos
Os corredores do mercado municipal revelam um público diversificado e também uma grande variedade de produtos | Foto: Isaac Fontana/Frame Photo/Folhapress

São essas pequenas sensações que mantém o mercado tão vivo entre os londrinenses. Na fachada pintada à mão, está o ano de inauguração: 1954. Mas os primeiros comerciantes a se instalarem no local explicam que o funcionamento do mercado é, na verdade, desde 1968. “Durante anos foi um barracão desativado que, até onde eu sei, já abrigou uma edição da exposição agropecuária”, conta Antônio Tomio Furuta, 67.

Assim como a família de Miyeka Assada, os irmãos Furuta eram feirantes e deixaram as ruas para comercializar frutas, verduras e salgados no mercado municipal. “Na época, o prefeito José Hosken de Novaes frequentava a feira e nos animou para mudar para o barracão. O interessante é que naquele tempo metade desse espaço abrigava o quartel da Polícia Militar. A banda da polícia ensaiava todos os dias das 9h ao meio-dia e o barulho era tão estridente que nessas horas, a gente não conseguia nem conversar”, lembra Furuta.

Hoje, os consumidores contam também com lojas de artigos para casa, presentes, produtos importados e cervejaria. Mas já houve tempos em que pequenos animais eram comercializados por ali, como pássaros, galinhas e coelhos.

Pelos corredores do mercado também já passaram diversos artistas, mas no dia a dia são clientes como o casal Gilson e Claudete Bombonatto que fazem a economia do local circular. “A qualidade é especial. Muita gente fala dos preços altos, mas eu nunca joguei fora o que comprei aqui porque os produtos são selecionados e frescos”, diz.

Furuta garante que as viagens para São Paulo a cada 15 dias são para "atender" todos os gostos. “Quando um cliente pede algo que não tenho na loja, já viajo pensando em trazer especificamente aquilo”. Entre tanta variedade de vinhos, queijos, carnes, peixes e enlatados, Furuta revela que os cereais têm uma atenção à parte. “Tenho uma variedade de feijão que eu vendo até para os feirantes”, conta.

Na banca de João Medeiros, o movimento é intenso porque ele diz que quase não tem mais concorrentes na cidade, e em época de Copa do Mundo vira um ponto de encontro para troca de figurinhas. “Sempre gostei de futebol e aí vinha um conhecido, trocava figurinhas e jogava conversa fora. E assim, as pessoas foram chegando. O mercado Shangri-lá é uma tradição londrinense”, completa.

Com as mesas cheias e pedidos de pasteis, bolinho de carne e cerveja a todo minuto, Miyeka Assada fala que atender o público sempre foi um prazer para ela. “Os clientes mudam um pouco. Antes vinham mais japoneses porque era aqui que eles encontravam os produtos do Japão, mas agora vem mais brasileiros e os netos dos clientes mais antigos. Acho que todo mundo gosta de frequentar o mercado”, comenta.

PINTURA E CALÇADAS

O mercado recebe melhorias na parte externa. As obras começaram nesta segunda-feira (20), devem durar um mês e incluirão a troca completa da calçada em paver, pintura, reparos e adequações gerais, como a sinalização, iluminação com sistema LED e acessibilidade para pessoas com deficiência.

Os investimentos no valor de R$ 136 mil são da própria Cohab-LD (Companhia de Habitação de Londrina), proprietária do terreno. Também está prevista a construção de travessias elevadas nas entradas das ruas Pandiá Calógeras e Visconde de Mauá. O serviço é de responsabilidade da Loteadora Mercosul Ltda, que venceu o processo licitatório.

A notícia agrada os frequentadores, como empresário Thiago Prado Lone, que leva as filhas para passear aos fins de semana. “Acho que seria bacana ter um espaço mais adequado para as crianças, mas o mais importante é manter todas essas mudanças depois”, comenta.

Para João Medeiros, proprietário da Banca Flamengo há 30 anos, a demanda mais urgente é o estacionamento. “Por ser uma área residencial também, muitos clientes reclamam da falta de vagas. Esse local precisa passar por uma reforma geral porque é um ‘point’ da cidade. As pessoas vêm em busca da qualidade e variedade de produtos que muitas vezes não se encontra em outros espaços”, diz o carioca, que se mudou par Londrina na década de 1980.

Imagem ilustrativa da imagem Mercado Shangri-lá - na memória e no coração dos londrinenses
| Foto: Isaac Fontana/Frame Photo/Folhapress

INSTALAÇÕES ANTIGAS

Atualmente, o mercado abriga 25 lojas em uma área distribuída inicialmente em 60 boxes. O síndico do local, Otávio Jacon Basílico, diz que os serviços anunciados pela prefeitura não devem contemplar somente a “estética” do mercado. “Temos demandas mais urgentes como as instalações hidráulicas e elétricas que são muito antigas, desde a fundação do mercado. Já fizemos um orçamento da parte elétrica, mas sabemos que essa responsabilidade não é nossa”, desabafa.

Basílico é proprietário da Casa do Malte e diz que todas as manutenções e até segurança no local são feitas com o dinheiro dos comerciantes. “Funciona como um condomínio”. Ele também observa que em nenhum momento foi citada uma reforma interna por parte do poder público.

ETAPAS

A Cohab-LD, proprietária do terreno, fala em três etapas de reestruturação do mercado Shangri-lá. De acordo com o presidente de Companhia, Luiz Cândido de Oliveira, o primeiro trabalho que envolve a parte externa deve ser finalizado até o final de fevereiro.

Enquanto isso, ele afirma que estudos estão em desenvolvimento pela Cohab-LD para a reforma do telhado. “A intenção é colocar uma estrutura metálica que seja leve e não afete a estética. O telhado é antigo e não sofreu manutenções periódicas, somente pequenos reparos. Hoje, sabemos que isso é um transtorno para os permissionários, pois há goteiras quando chove”, aponta.

Com o projeto aprovado, será feito o orçamento dos custos e a abertura de licitação para a contratação de uma empresa. Sobre a parte elétrica, Oliveira cita um terceiro momento dentro do planejamento de serviços para o mercado.

Segundo ele, um dos locatários é engenheiro eletricista e teria proposto elaborar o projeto. “Isso reduziria o custo porque dispensaria a contratação de uma empresa para esse processo. Além disso, o fato de ser um profissional que está ali diariamente, facilita muito na percepção das prioridades. Existem muitas ligações clandestinas no prédio e a demanda de carga elétrica atual não é compatível com a estrutura existente desde a década de 60. Recebemos essa expectativa com muito agrado na sexta (17) e vamos esperar um posicionamento”, diz.

No que se refere às questões hidráulicas, a Cohab-LD diz que o assunto não foi apontado nas conversas com os locatários. “A gente deixa o acesso livre para os comerciantes trazerem essas demandas”, responde Oliveira, que aproveita para lembrar que na gestão passada foram feitas mudanças da central de gás para a área externa e do depósito de lixo. Também foram feitas outras adequações exigidas pelo Corpo de Bombeiros no que se refere à prevenção de incêndio.