O médico Edson Bruck Warpechowski, de Guarapuava (Centro), gravou um vídeo depois de ficar 17 dias em isolamento por ter contraído a Covid-19. Nele ressaltou que ela não é uma “doencinha”. Warpechowski atua na linha de frente no combate à Sars-Cov-2 e acredita que contraiu o novo coronavírus dentro da UTI, quando perdeu seu primo para o vírus, o também médico Clóvis Górski. “Eu estava usando avental, duas máscaras, óculos, avental, luvas e o face shield (protetor facial). Mesmo assim peguei a doença", relata ele, que agora apela às pessoas para tomarem cuidado, pois a taxa de evolução da doença vai aumentar nas próximas semanas e poderá haverá colapso da rede hospitalar.

Edson Warpechowski, médico em Guarapuava: 
 “Eu repetia para mim que precisava me recuperar para contar às outras pessoas que elas precisam se cuidar, para não passar pelo que passei"
Edson Warpechowski, médico em Guarapuava: “Eu repetia para mim que precisava me recuperar para contar às outras pessoas que elas precisam se cuidar, para não passar pelo que passei" | Foto: Arquivo pessoal/Édson Bruck Warpechowski

"Comecei a sentir os sintomas no dia 26 de maio. No início não tinha tosse ou falta de ar, mas quando perdi o olfato dois dias depois acendeu a luz de que algo estava errado”, relembrou. Por ser profissional de saúde, 48 horas depois de fazer o exame PCR o resultado apontou que ele estava com a doença, que ele não imaginava ser tão incapacitante. “Não tinha consciência de que causava tanta prostração. Não era assim na minha mente. Claro que a gente acompanha e lê muito sobre o coronavírus e graças a Deus não cheguei ao quadro clínico de Srag (Síndrome respiratória aguda grave). Fiquei com medo quando a minha oximetria baixou e tive de ficar dois dias no hospital. Quando vi o resultado da tomografia, as imagens das lesões tinham aparência de vidro fosco. Não pensei que apareceria tanto assim com os meus sintomas”, detalhou o profissional da saúde.

DOIS FILHOS

Pai de dois filhos, um de 24 anos, que mora no Rio Grande do Sul, e um de nove anos, que mora com ele, Warpechowski conta que o mais novo ficou assustado e angustiado nos dois dias que ficou fora de casa. “Ele só se acalmou quando voltei para casa”, revelou.

O isolamento domiciliar ele cumpriu na suíte da casa e se comunicava com a família por videochamadas. Dos 17 dias em isolamento, nove deles foram bem difíceis. “A febre ia e voltava. Não eram febres tão altas, mas a sensação de prostração e fadiga é muito incapacitante. Tive muita dificuldade em ajeitar os lençóis da cama. Não tinha força para me levantar até para escovar os dentes”, destacou.

EMOCIONAL

A mulher do médico entrava no quarto sempre de máscara e luvas e por um período bem breve, só para deixar a bandeja de comida. “Ela deixava a bandeja e saía. Eu pegava a bandeja e depois devolvia no mesmo lugar”, relatou.

O isolamento aguçou a sensibilidade do ponto de vista emocional do médico. “A gente fica muito fragilizado, enfrentando a doença sozinho. Senti a falta de um carinho, de abraçar as pessoas que amo. O meu primo Clóvis morreu sozinho, sem que pudesse se despedir da família. A última pessoa da família que o viu fui eu, quando ele estava sendo intubado”, revelou. E ressaltou que a Covid-19 não é uma doença menosprezável. “É uma doença potencialmente letal e muito grave. Qualquer um pode perder pessoas que ama num piscar de olhos.”

EXPECTATIVA DE RECUPERAÇÃO

Enquanto estava isolado, o maior exercício que realizava para manter o equilíbrio psicológico foi a expectativa de recuperação. “Eu repetia para mim que precisava me recuperar para contar para as pessoas que elas precisam se cuidar, para não passarem pelo que passei. Naquele momento me pareceu uma missão importante na minha vida, pelo fato de eu ser médico e poder relatar o que se passa com quem está doente com precisão”, revelou.

Ele apela às pessoas para tomarem cuidado, pois a taxa de evolução da doença vai aumentar nas próximas semanas e poderá haver colapso da rede hospitalar. “Nenhum médico quer escolher qual paciente vai sobreviver e qual vai morrer", destacou.

“Se houve abertura do comércio foi porque a gente precisava disso para sobreviver, mas isso não significa que agora é uma festa. Usem máscara, evitem aglomerações, se isolem. Usem álcool em gel e evitem a transmissibilidade familiar. Muitos casos de transmissão são de familiares que não moram na mesma casa”, apontou. A sua esposa apresenta alguns sintomas da doença e está em isolamento.