Maringá - Mais de 350 pessoas mortas em dois grandes desastres aéreos - a queda do Boeing da Gol em setembro de 2006 e a colisão de um Airbus da TAM com um prédio da própria empresa em julho de 2007 - deixaram em polvorosa a aviação brasileira. Com as tragédias, problemas como a falta de infra-estrututa nos aeroportos, condições de trabalho deficitárias para os controladores de vôos e desrespeito aos passageiros por parte das companhias aéreas vieram à tona. Termos como ''apagão aéreo'' e ''caos nos aeroportos'' tomaram as manchetes dos jornais.
Nas torres de controle dos aeroportos Brasil afora, locais que sempre foram marcados pela atenção total, a tensão passou a fazer parte da rotina de trabalho. Em meio à crise, jornalistas não são bem-vindos nas torres. Porém, a reportagem da FOLHA conseguiu autorização para acompanhar o trabalho dos controladores na torre do Aeroporto Regional de Maringá, inaugurada na última semana. No Brasil, as torres são operadas por militares da Aeronáutica ou controladores civis, no caso dos aeroportos administrados pela Infraero. A torre de Maringá é a primeira civil do país fora da rede Infraero, pois o aeroporto local é administrado por uma empresa de economia mista, a SBMG, que tem a prefeitura como sócia majoritária.
Durante vários anos, uma Estação Permissionária de Telecomunicações de Tráfego Aéreo (Epta) - responsável apenas por passar, via rádio, informações do clima e das condições da pista para as aeronaves - foi o único meio de comunicação disponível para os pilotos que pousavam e decolavam na pista de 2.100 metros de Maringá. Agora, com a torre funcionando, todos os movimentos dependem da autorização dos controladores que lá trabalham. ''Até para ligar o avião o piloto precisa de permissão da torre. A principal melhoria é a segurança'', comenta Marcos Valêncio, superintendente do aeroporto.
Em outubro de 2007, uma falha no sistema Epta quase causou um grave acidente em Maringá. Um avião da Trip foi obrigado a abortar o procedimento de pouso e arremeter para não se chocar com um bimotor que estava na pista.
Por enquanto, militares do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindata II) estão no comando da torre. A previsão da direção da SBMG é que os civis contratados para o serviço comecem a trabalhar na próxima semana. Os militares não têm permissão para conceder entrevista. O anfitrião da reportagem foi Wasley de Souza Gusmão, controlador de vôo contratado pela SBMG.
Gusmão explica que o controle do tráfego aéreo de Maringá é feito por Londrina. A torre de Maringá é responsável pela aeronave a partir do momento que faz o contato visual com o aparelho. Durante o dia, dependendo das condições climáticas, é possível avistar, da torre, um avião que está a até quatro quilômetros do aeroporto. À noite, é possível fazer contato com um aparelho que está ainda mais distante por causa dos faróis. ''Podemos impedir que um avião pouse ou decole. O controlador tem que estar sempre alerta. Uma aeronave, a partir do momento que toca no solo, não é como um carro que consegue desviar de coisas que estão à sua frente.''
Se você tem na mente a idéia de uma tela com imagens geradas por um radar na torre de controle, é bom saber que os radares só estão nos Cindactas e nos aeroportos de grande tráfego. Na torre de Maringá, com uma visão panorâmica de 360º, a segurança é mantida à base da comunicação via rádio com as aeronaves e contato visual. A todo momento os controladores se utilizam de binóculos para monitorar o que há no céu da cidade.