Maigue Gueths
De Curitiba
Entidades que compõem o Fórum Popular de Saúde conseguiram chamar a atenção da população de Curitiba, ao distribuir uma tonelada de batatas, ontem de manhã na Boca Maldita, em protesto que marcou o Dia Mundial de Saúde. Com o mote ‘‘Quem vai segurar esta batata quente?’’, os manifestantes questionaram, em panfletos distribuídos aos pedestres, a qualidade dos serviços públicos no Estado, que prejudica, segundo eles, principalmente a população de baixa renda. Em Londrina a data foi marcada com uma palestra no Hospital Evangélico.
‘‘A batata quente é um símbolo que estamos usando para mostrar o que o governo está dando à população’’, disse Neide Ione, diretora do Sindicato dos Trabalhadores na Saúde Pública do Paraná (SindSaúde), referindo-se às denúncias de irregularidades nos serviços de saúde, falta de estrutura para atendimento, além das más condições de trabalho para os servidores.
Para Maria das Dores Tucunduva Santos, também diretora do SindSaúde, o maior problema é a falta de recursos financeiros. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que o Estado deveria investir no mínimo US$ 200 por habitante ao ano na área de saúde, mas no Brasil este valor chega a apenas US$ 80 por ano. O governo estadual, segundo ela, destina menos de 3% do seu orçamento para a saúde. ‘‘O resultado disso é que o Sistema Único de Saúde não tem recursos para atender com qualidade. As pessoas têm dificuldades para conseguir medicamentos e têm que esperar até seis meses para fazer um exame ou consulta especializada’’, reclama.
Uma das consequências mais graves da falta de qualidade na assistência médica, segundo Maria das Dores, é o crescimento da mortalidade materna. Dados do Comitê de Mortalidade Materna (integrado por entidades governamentais e do movimento social) mostram que o coeficiente de mortalidade passou de 77,4 óbitos de parturientes para cada mil bebês nascidos vivos em 96 para 81 mortes por mil nascidos vivos em 98.
Pesquisa do comitê mostra que a idade média das pacientes que morrem é de 28 anos, com renda de até três salários mínimos. Destas, 83% fazem o pré-natal. Outro dado revela que 43% das mortes ocorrem por falta de assistência médica, 19% por falta de assistência hospitalar, 13% por questões sociais e 16% por culpa da paciente. ‘‘Isto mostra que a maioria das mulheres está fazendo a sua parte, que é o pré-natal e procurar serviço médico, mas quando chega na hora de ser atendida o serviço falha’’, denuncia o SindSaúde.‘‘Quem vai segurar essa batata quente?’’ foi o slogan utilizado para criti car a política nacional e estadual de atendimento à saúde
José SuassunaMUITA BATATAOrganizado por trabalhadores da saúde pública, o protesto foi realizado na Boca Maldita, centro de Curitiba