Três testemunhas oculares do espancamento e morte do carregador Jamys Smith da Silva, 20 anos, fizeram um reconhecimento ontem à tarde na sede do 5º Batalhão da Polícia Militar de Londrina e confirmaram o envolvimento de mais dois soldados no crime. A prisão preventiva contra eles poderá ser pedida ainda hoje, após os depoimentos de mais duas testemunhas. O rapaz morreu na madrugada de domingo. O assassinato, que chocou a população local e repercutiu em todo o País, já provocou a prisão de dois policiais, o afastamento de outros 20 e a troca de comando do batalhão.
A instrução do flagrante que vai basear o inquérito policial militar que será instaurado na segunda-feira está sendo acompanhada pelos promotores Leonir Batista, da Promotoria de Investigações Criminais (PIC), e Susana de Lacerda, que atua nos crimes dolosos contra a vida, e pelo representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), Mateus Vergara. Ontem, a promotora argumentou que a íntegra dos depoimentos das testemunhas-chave seria mantida em sigilo para não atrapalhar as investigações. Ela informou que além dos dois soldados presos, outros dois foram reconhecidos pelas testemunhas entre 25 policiais como participantes diretos das agressões contra Jamys. ''Não só aqueles presos preventivamente estariam envolvidos diretamente nas agressões'', sublinhou Lacerda.
O oficial que preside o flagrante, capitão Marcos Vinícius Koch, confirmou a informação, que já havia sido denunciada pela família logo após o crime. Ele argumentou que ainda não pediu a prisão dos outros dois soldados suspeitos porque prefere esperar o depoimento marcado para hoje de uma médica e uma enfermeira que atenderam o caso no Pronto Atendimento Municipal (PAM). Jamys foi levado numa viatura ao posto médico mas já teria chegado morto. ''Os dois entraram, inicialmente, como testemunhas e agora vislumbrou-se que também teriam participado das agressões. Após o depoimento das testemunhas, vou avaliar se peço ou não a prisão preventiva deles'', afirmou o capitão.
O flagrante deve ser concluído amanhã e na segunda-feira deverá ser instaurado o inquérito policial militar (IPM), que tem prazo de 20 dias para ser concluído. Testemunhas reclamaram do constrangimento de prestar depoimento no Batalhão e preferiam ser ouvidas no Fórum. Já o representante da OAB não viu problemas.
Uma das testemunhas ouvidas rebateu duas opiniões sobre o assunto publicadas ontem no ''Espaço do Leitor'' da Folha. Um advogado criticou que a sociedade quer transformar Jamys ''em uma pessoa boazinha'' depois de morto e um bacharel em Ciências do Esporte opinou que não são só os policiais que estavam errados e concluiu dizendo que ''não houve culpados nem inocentes''. ''Pode não ter tido inocentes mas culpados existem sim'', reclamou a testemunha. Ela convidou os dois para irem visitar o Jardim Santa Fé para conhecerem de perto como Jamys era visto no bairro.
O carregador foi espancado na madrugada de domingo por policiais militares, que receberam uma reclamação de perturbação de sossego por causa de uma festa que acontecia na casa da vítima. Ele foi atingido por cassetetes, socos e pontapés que, segundo o Instituto Médico Legal (IML) provocaram o rompimento do fígado e uma grave hemorragia interna.