Maioria dos presos é jovem e do interior
PUBLICAÇÃO
domingo, 16 de janeiro de 2000
Luciana Pombo
De Curitiba
Um levantamento realizado em nove unidades prisionais do Paraná demonstrou que a maior parte dos internos é jovem, proveniente do interior do Estado, com baixa escolaridade e condenado por crimes considerados leves ou com pouca gravidade (como crimes patrimoniais). A pesquisa sobre o perfil dos presos paranaenses foi feita no primeiro semestre de 1999, pela Secretaria de Estado da Justiça, e verificou a situação de 4,3 mil detentos.
Os dados demonstram que 52,5% dos presos condenados e que cumprem pena no Estado têm idade de até 30 anos. Deste total, 26,7% têm menos de 26 anos. 56% são provenientes do interior do Estado (41% de zonas urbanas e 15,4% de zonas rurais), 41,9% são da Grande Curitiba, 1,8% de outros estados e apenas 0,3% de outros países. Os analfabetos, alfabetizados ou com o primeiro grau incompleto somam 84,6%.
O secretário José Tavares, que responde pela Justiça no governo Jaime Lerner e foi também o comandante da pasta no governo Roberto Requião (92-94), disse que o perfil do preso sofreu algumas mudanças nos últimos anos. Aumentou a presença de presos do interior e da zona urbana. Isto é um reflexo direto da evasão rural, declara.
Outro dado que chama a atenção está relacionado ao tipo de crime cometido pelo preso. A maior parte dos presos foi condenada por delitos considerados leves ou médios. Muitos deles poderiam ter sido solucionados com penas alternativas. Os crimes mais registrados nas penitenciárias do Estado são roubo (26,7%) e furto (20,4%). Delitos como lesões corporais (4,2%), consumo de entorpecentes (2,6%) e estelionato (2,9%) também figuram na listagem de condenações dos internos. Os crimes considerados mais graves, como tráfico de drogas (7,7%), homicídio (14,1%), sequestro (0,9%) e estupro (5,1%) não são registrados com frequência.
A gente tem notado que só quem vai preso é analfabeto, quem comete crimes pequenos, quem não tem dinheiro. Temos que deixar de ser hipócritas e analisar a situação atual, mudando a legislação, defende Tavares. Para ele, a prisão de usuários de drogas, por exemplo, é absurda. O que este jovem precisa é de tratamento e apoio e não de cadeia. Aqui ele vai conviver com toda a sorte de marginália, diz.
O levantamento mostra ainda que a maior parte dos presos (27,8%) trabalhava com a construção civil (pedreiro, marceneiro, pintor...) ou com o setor de serviços (21,3%). Quanto ao estado civil, 35,5% são amasiados, 38% solteiros e 19,1% casados. Quarenta por cento deles recebem correspondências e 36% recebem a visita de familiares. Dos detentos do sistema penitenciário, 53% são primários e 31% são reincidentes.Preso das penitenciárias do Paraná é homem, pobre, com baixa escolaridade, do interior e condenado por crimes leves
José SuassunaENSINOO motorista Rui César de Oliveira Silva, de 41 anos, não sabia nem assinar o nome quando foi condenado, enquanto o narrador esportivo Adão Marques, de 43 anos, é um dos únicos internos que já tinham ensino superior completoArquivo FolhaAS CONDENAÇÕESOs crimes mais registrados nas penitenciárias do Estado são roubo (26,7%) e furto (20,4%). Delitos como lesões corporais (4,2%), consumo de entorpecentes (2,6%) e estelionato (2,9%) também figuram na listagem de condenações dos internos