O biólogo londrinense Eduardo Weffort Patrial foi um dos voluntários no combate às chamas no Pantanal. Ele trabalha como guia turístico e atendeu o pedido do proprietário de uma pousada que fica na Rodovia Transpantaneira, em Poconé (MT), ameaçada pelas chamas. “Meu amigo está lutando contra as chamas desde julho, pois ela fica em uma área mais seca. Eu recebi esse chamado e, vendo a situação, vi que era meu dever, porque esse combate está bastante difícil", relata ele, que ficou uma semana na região, junto com os irmãos.

Imagem ilustrativa da imagem Londrinense atua como voluntário no incêndio no Pantanal
| Foto: Eduardo Patrial

De volta a Londrina, onde mora sua família, conta como foi o trabalho. “A gente comparava a sensação térmica das 10h30 às 15h com o horário em que o capeta dava risada. Não dava para ver a cor do céu. Parecia neblina, mas era fumaça, com os termômetros marcando 40º C quase todo dia , mesmo na sombra. Quando a gente se aproximava dos focos era um calor bastante intenso, de 44º C ou 45º C”, destacou.

Eduardo Weffort Patrial (direita) e seu amigo biólogo Raphael Santos (esquerda), de Curitiba.
Eduardo Weffort Patrial (direita) e seu amigo biólogo Raphael Santos (esquerda), de Curitiba. | Foto: Eduardo Patrial

A Transpantaneira é o conhecida como safari brasileiro e na região existem várias pousadas, cujos proprietários e funcionários vivem do turismo de observação da vida selvagem. Segundo o biólogo, eles trabalharam na abertura do aceiro - trilha de proteção contra o fogo em que a vegetação é eliminada da superfície do solo para prevenir a passagem do fogo. "Nós abríamos linhas de trincheiras, que eram rasgadas com enxadas, pás, cavadeiras."

Ele ressaltou que o trabalho foi bastante cansativo, já que a profundidade das valetas dependia do volume de matéria orgânica que havia sobre o solo. “Tínhamos que cavar até chegar no barro duro, na argila, porque só aí sabíamos que não havia perigo do fogo se alastrar. Tinha lugar em que a turfa tinha 15 cm, mas havia outros com mais de meio metro de profundidade”, descreveu.

De acordo com ele, a fumaça prejudica bastante as ações de conter as chamas. “Quando os focos de labaredas nos locais em que ficávamos não estavam contidos, precisávamos usar máscaras todo o período.” Na pousada para dormir, à noite, também faltava ar, já que a fumaça entrava nos quartos. “Quando uma frente fria empurrou o vento mais para o norte, melhorou um pouco, mas a fumaça nos incomodava quase todos os dias. A gente sempre molhava panos para colocar na cabeça, e também os colocava no rosto e tampava o nariz com ele”, detalhou Patrial.

Mas em alguns dias o fogo na mata se tornou incontrolável. “Qualquer vento ou fagulha joga o fogo longe, a ponto de pular o aceiro, que era a linha para evitar que o fogo se alastre. Houve dias em que tivemos de abandonar o local, porque as chamas começaram a subir as copas. Quando isso acontece não tem o que fazer. Tem que sair de lá e esperar os bombeiros chegarem.”

Ele comparou o trabalho de conter as chamas com o ato de secar gelo, embora mais quente. “Passava o dia inteiro trabalhando em um local e no dia seguinte tinha fogo de novo a poucos metros dali."

"Não dava para ver  a cor do céu. Parecia neblina, mas era fumaça", conta Eduardo Patrial
"Não dava para ver a cor do céu. Parecia neblina, mas era fumaça", conta Eduardo Patrial | Foto: Roberto Custódio

Eduardo Patrial é ornitólogo, um especialista em aves. Ele apontou que o incêndio no Pantanal ocorreu em época de reprodução das aves. “Muitas aves morreram tentando proteger seus ninhos. A recolonização só recomeçará com as chuvas, quando as espécies procuram espaços para sobreviver. Muitas espécies não vão conseguir fazer isso. Inúmeras aves foram prejudicadas, muitas delas raras."

Ele observa que muitas aves são bioindicadoras do ambiente em que vivem. "Tem muita ave rara por conta da presença de insetos e as espécies ameaçadas são as primeiras a sentirem isso. Desde que comecei a trabalhar na área houve uma perda da biodiversidade e agora ela está se tornando muito grande. O fogo no Pantanal prejudicou muitas aves que se alimentam de insetos, peixes e artrópodes. Prejudica não só as aves, mas grupos de vertebrados", lamenta. Segundo ele, se chover, isso pode ajudar a apagar os incêndios, mas as cinzas da vegetação consumida pelas chamas serão levadas para os corpos d’água e acabarão com o oxigênio da água, matando os peixes, que servem de alimentos para muitos animais vertebrados.

Como guia turístico, Patrial viaja bastante pelo Brasil, frequentando todos os seus biomas. “O Brasil é o segundo país em diversidade de aves e a gente acaba divulgando isso para pessoas do mundo inteiro. Eu levo pessoas para lugares que ainda não são áreas de preservação. Todo esse fogo tem causado impacto nas pessoas que têm essa noção de potencial de natureza que existe por aqui”, destacou.