O projeto de hortas comunitárias em Londrina surgiu em 2011 para que famílias, em diferentes regiões da cidade, pudessem realizar o plantio de hortaliças para consumo próprio e até para a comercialização nos bairros. Das 45 hortas implantadas na época, somente 20 estão ativas atualmente. Mas a secretaria municipal de Agricultura e Abastecimento tem a expectativa de retomar o projeto, ampliando os espaços. Recentemente, foi feito um mapeamento sobre as áreas com condições de abrigar as hortas. Ao todo, Londrina possui 36 terrenos que poderiam ser utilizados pela comunidade.

Área no Jardim Paraíso é responsabilidade de cinco famílias
Área no Jardim Paraíso é responsabilidade de cinco famílias | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

De acordo com o engenheiro agrônomo da SMAA, Osvaldo de Souza Campos Junior, a maioria dos espaços avaliados é área pública (23), como praças e fundos de vale com licença ambiental. "Outras sete áreas pertencem à Cáritas Arquidiocesana de Londrina, que nos colocou esses terrenos à disposição, assim como a Copel, somando mais seis locais", diz.

O engenheiro agrônomo explica que para um terreno poder funcionar como horta é imprescindível que a área seja plana e, se possível, tenha acesso à água de mina. "Isso reduz bastante os custos, sobrando mais dinheiro para as famílias que comercializam as verduras", comenta.

ZONA NORTE

No levantamento, a região com maior potencial para a implantação de hortas é a zona norte, como a do jardim Paraíso. A área tem aproximadamente 500 metros quadrados e possui 29 canteiros. Maria Aparecida Martins, 67, coordena o espaço desde 2013. "Plantamos para o nosso consumo e para vender. Tem muitas pessoas que vendem marmitas e passam todos os dias bem cedinho aqui para pegar uma salada, mas a gente acaba ajudando quem não tem como pagar também. A gente nunca nega porque estamos aqui pelo prazer de mexer com a terra", comenta.

No jardim Paraíso, são cinco famílias envolvidas no trabalho diário. As amigas Juvelina Ferreira Avelino, 71, e Lourdes Maria de Jesus, 74, passam cerca de seis horas por dia nos canteiros. "Trabalho é o que não falta", conta Lourdes, enquanto capinava a terra com uma enxada. "E se não tivesse a horta, isso aqui seria mato, abandonado", completa.

As amigas contam, por experiência própria, que a cidade só tem a ganhar com mais hortas pelos bairros. "A maioria dos cuidadores são idosos e acaba sendo uma terapia para o corpo e para a mente. E tem outro detalhe. Comer a verdura que nós cultivamos, sem veneno, tem outro sabor", afirma.

Zona norte é a região com maior potencial para implantação das hortas
Zona norte é a região com maior potencial para implantação das hortas | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Para a coordenadora da horta, a expectativa é que com uma atenção maior a esses espaços, os cuidadores possam contar com um apoio financeiro da Prefeitura, como para a compra de esterco. "O que ganhamos com as vendas não sobra nada para as famílias porque o dinheiro é usado para pagar a conta de água e comprar os insumos. A gente também queria um alambrado maior e novo porque os cachorros estão entrando aqui e destruindo alguns canteiros", desabafa.

Campos Junior, da secretaria de Agricultura, explica que a oferta de equipamentos e insumos é de responsabilidade da comunidade, mas que a pasta poderá auxiliar quando houver disponibilidade. 'No momento, nosso suporte é técnico para a implantação e acompanhamento para o preparo do solo. A ideia das hortas comunitárias é que elas sejam independentes do poder público, abraçadas pela comunidade", pontua.

ZONA SUL

Para que isso aconteça, a gerente de comercialização da SMAA, Viviane Fernandes, diz que é preciso dedicar tempo e gostar da atividade. É justamente o prazer de mexer com a terra e a ocupação do tempo que fazem Estevão Amarilia, 81, acordar todos os dias bem cedo no parque Ouro Branco, na zona sul.

"Além dos meus, cuido dos canteiros dos meus filhos também. Ao todo, são 20. Como eles têm uma oficina aqui na frente, eu fico aqui quando o serviço está parado. Trabalhei muitos anos no distrito de Maravilha (zona sul) como tratorista em uma fazenda e foi lá que eu aprendi a mexer na terra. É uma atividade muito prazerosa. Eu gosto", conta.

Horta no Parque Ouro Branco foi implantada há cerca de dez anos
Horta no Parque Ouro Branco foi implantada há cerca de dez anos | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

A horta foi instalada no bairro há cerca de 10 anos e desde então, o aposentado nunca deixou de plantar. "Antes era um terreno abandonado, como aqui do lado. Acho até que dá para aumentar essa horta, sabe? O pessoal já acostumou a vir comprar verdura com a gente. É gostoso e baratinho. Tem domingos que a gente vende 100 pés de alface", comenta.

PEDIDOS

Em 2021, a pasta recebeu três pedidos para implementação de hortas. Para validar esses pedidos, uma análise da área é feita por uma comissão composta por representantes de diversas secretariais municipais. Fernandes explica que os interessados no projeto devem procurar a SMAA.

Consumir alimentos mais saudáveis e ter renda adicional são alguns dos benefícios do projeto
Consumir alimentos mais saudáveis e ter renda adicional são alguns dos benefícios do projeto | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

"É um projeto que tem como crescer muito na cidade porque todo mundo sai ganhando. A comunidade passa a consumir alimentos mais saudáveis, pode contar com uma renda adicional e acaba se envolvendo em uma atividade terapêutica. Além disso, a gente evita que os terrenos se tornem locais de descarte irregular de lixo. É um sistema de ganha-ganha", ressalta.

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