Londrina tem 10 mil espaços livres para plantar árvores
Inventário realizado pela UTFPR e entregue à Sema aponta as vias da região central com maior número de espaços
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 10 de abril de 2019
Inventário realizado pela UTFPR e entregue à Sema aponta as vias da região central com maior número de espaços
Pedro Marconi - Grupo Folha
Quem percorre os 5,3 quilômetros de extensão da avenida Duque de Caxias, que corta Londrina de norte a sul, encontra dezenas de árvores pelas calçadas, porém muitas outras poderiam fazer parte do configuração da via, oferecendo mais sombra e trazendo benefícios para o ecossistema. Pesquisa desenvolvida pela UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) campus Londrina mostra que a cidade tem 10.189 espaços livres para plantio de mudas árvores na área central e adjacências, sendo 195 somente na Duque.

A definição de espaço livre para plantio de muda é regulamentada pela Lei Municipal 11.996/2013, que é o Plano Diretor de Arborização Urbana, em seu artigo 20. “Em resumo, é preciso respeitar distâncias específicas para cada tipo de elemento urbano, como postes, bocas de lobo, de guia rebaixada, além de prever uma distância mínima entre árvores, considerando o porte das espécies”, detalha a professora Patrícia Carneiro Lobo Faria, bióloga e coordenadora do levantamento produzido por meio da Gaia Jr., empresa de consultoria em engenharia ambiental formada por graduandos da UTFPR.
Entre os apontamentos trazidos no plano de arborização de Londrina para determinar um local disponível para plantio estão a necessidade de distância mínima de três metros de hidrantes e de cinco de poste com rede elétrica. “Esse número de espaços livres é uma expectativa de se buscar uma cidade com muitas árvores, pois na referida lei temos como objetivo atingir densidade arbórea máxima”, destaca a professora. “Porém creio que talvez tenhamos falhado ao não considerar o parágrafo único do artigo 20, que sugere que em áreas de alta verticalização as distâncias sejam dobradas. Em áreas de alta verticalização a distância entre árvores de grande porte acaba sendo em média de dez metros”, pondera.
A pesquisa foi entregue em fevereiro à Sema (Secretaria Municipal do Ambiente) e sua produção, entre trabalho de campo e georreferenciamento dos dados, foi de maio a novembro de 2018. Ao todo, 24 estudantes do curso de engenharia ambiental participaram, além de uma uma ex-aluna formada pela instituição. “Começamos o projeto em 2012 como extensão do campus e na terceira edição do Proverde (Programa Municipal de Incentivo ao Verde) nosso projeto foi contemplado, mas para conseguir a verba precisaria de uma pessoa jurídica e então criamos a Gaia Jr., que não tem fins lucrativos”, esclarece.
A execução contou com recurso total de aproximadamente R$ 50 mil, proveniente do Fundo Municipal do Meio Ambiente. Os estagiários receberam bolsa para integrar o projeto. A proposta inicial era fazer a identificação da arborização urbana apenas do quadrilátero central, entretanto o projeto foi sendo ampliado no decorrer dos meses e chegou até pontos das regiões sul, oeste e leste, nos bairros Vila Nova, Vila Recreio, Champagnat, Shangri-lá, Vila Brasil, Petrópolis, Higienópolis, Guanabara, Centro Histórico, Ipiranga, Brasília e Aeroporto, entre outros.
Tocos e muretas
Uma série de informações foi observada neste levantamento, como nome da planta, estimativa de altura, circunferência, presença de cupim, caule, se danifica a calçada, distância da esquina e entre árvores. No total foram anotados cerca de 41 mil pontos relacionados a áreas de árvores. Ainda foram considerados os restos deixados por cortes incompletos de plantas. Nas áreas visitadas foram observados 2.145 tocos. “Vimos situações em que se podam tanto a árvore, que a tiram de seu centro de gravidade”, cita Patrícia Faria, que é professora do curso de engenharia ambiental da UTFPR.
Proibidas no plano de arborização do município por limitar a disponibilidade de água às plantas, as muretas foram encontradas com frequência durante a elaboração do inventário. São 1.088 árvores com defesas de concreto, entre outros materiais, no seu entorno. A maior incidência está na rua Paranaguá (90), seguida da Pará (50), Caetano Otranto (47) e avenida Celso Garcia Cid (46).
Aprendizado
Considerando os dados importantes para pensar a arborização e melhorias necessárias em Londrina, os integrantes do projeto também viram no trabalho uma forma de unir os ensinamentos da academia com a prática da engenharia ambiental. “Conseguimos adquirir mais conhecimento e passamos a reparar nos mínimos detalhes da arborização que a cidade tem que ter. Um aprendizado para a vida toda”, valoriza Rodrigo Favaro Braga, estudante do quinto ano do curso e que atuou em campo.
Formada em engenharia ambiental em 2017, Letícia Rosim Porto participou do projeto quando ainda estava em seu início e mesmo depois de concluir a graduação voltou para ser colaboradora na pesquisa. “Foi minha primeira experiência profissional depois de formada e um desafio trabalhar com muitas pessoas, porém consegui passar tudo o que sabia para o pessoal”, ressalta a mestranda em ciências cartográficas, responsável pela parte de georreferenciamento.
A partir de agora, o grupo pensa em expandir a iniciativa para outras frentes e aprofundar as análises mais específicas a partir do que foi levantado, podendo gerar estudos acadêmicos. “É algo que precisa ser mantido, pois ao contrário fica desatualizado. São informações que o poder público tem em mãos e que podem melhorar o ambiente, facilitando a prefeitura em trabalhos a desenvolver."
Quanto mais próximo a população está destes tipos de dados, tendo acesso a eles, mais dá valor às árvores e passa a ver com mais ênfase seus benefícios”, defendem as professoras Faria e Batista.
Sema pretende dar
continuidade ao projeto
A Sema pretende dar continuidade ao acervo de dados espaciais e informações georreferenciadas da arborização urbana de Londrina compilados pela UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná). “Ele foi um dos 12 contemplados pelo Proverde e trouxe uma diferença de ordem prática se comparado com os outros, pois está relacionado ao nosso cotidiano. Queremos continuar esta iniciativa e estamos vendo com a procuradoria e controladoria do município mecanismos para isso”, projeta Thiago Augusto Domingos, gerente de Projetos e Análise Ambiental da pasta.
Segundo ele, o levantamento ajudará no trabalho da secretaria, que não contava com estatísticas tão detalhadas sobre tipos das árvores da região central e adjacências, locais para plantio e condições da planta, como ter cupim, estar velha e com risco de queda. “Os nossos funcionários, pela experiência, sabem bastante sobre isto, porém não tínhamos por meio de pesquisa. Temos várias ações de plantio de árvores e vamos otimizar, com trabalho junto com a população, explicando qual tipo deve ser plantada.”
Os dados recebidos pela Sema foram encaminhados para o Siglon (Sistema de Informação Geográfica de Londrina). Domingos ainda adiantou que todas as informações deverão ser colocadas à disposição da população. “A ideia é criar um banco de dados das questões ambientais da cidade e não somente sobre arborização”, planeja, sem colocar data para que isso aconteça. Sobre a presença de diversas árvores exóticas em Londrina, ele pondera que estão dentro do aceitável pela legislação.


