Londrina está próxima de viver uma epidemia 'explosiva' de dengue nos próximos dias. O município contabiliza, nestas três primeiras semanas de janeiro, 533 casos suspeitos da doença, com seis casos positivos registrados e duas suspeitas de morte. No caso das mortes são duas mulheres, uma de 29 anos e uma com mais de 60 anos. No ano passado foram registrados oito casos de óbito entre as 288 ocorrências confirmadas de 3.300 casos suspeitos.

Imagem ilustrativa da imagem Londrina pode ter epidemia 'explosiva' de dengue
| Foto: Gina Mardones 13/05/2019

A diretora de Vigilância em Saúde de Londrina, Sônia Fernandes, destaca que é a pior crise da história do município, já que nos outros anos havia a aplicação de um inibidor do mosquito Aedes aegypti adulto (popularmente conhecido como fumacê) e também de larvicidas. Em 2011, por exemplo, o número de casos notificados foi maior do que agora, no entanto, naquele ano havia fumacê e larvicidas disponíveis para fazer o combate à doença. Desta vez esses produtos não estão disponíveis. “Estamos sem o uso do Malathion (inseticida) desde novembro do ano passado e desde o primeiro dia deste ano os larvicidas que temos estão vencidos. Eu nunca vivi uma crise dessas em todos os meus anos de atividade no município”, destaca.

O Brasil está desabastecido do inseticida Malathion desde maio de 2019, por causa de uma grande quantidade de produtos vencidos e com problemas de qualidade decorrentes de alterações químicas em sua formulação. A Bayer, produtora do inseticida, já recolheu 105 mil litros do produto vendido ao Ministério da Saúde. O MS, por sua vez, adquiriu 300 mil litros de um novo produto adulticida (Cielo), mas a previsão de entrega é até fevereiro de 2020.

Além disso, é preciso verificar se os equipamentos utilizados hoje para aplicar o Malathion são adequados para o novo produto. Fernandes observa que se for necessário comprar equipamentos, será preciso abrir um processo licitatório. Sobre o uso do Malathion, Fernandes ressalta que nos últimos anos ele tem sido ineficaz contra o Aedes aegypti, pois o mosquito transmissor da doença já adquiriu resistência contra o produto.

Diante desse quadro, Fernandes prevê um colapso dos serviços de saúde do município em aproximadamente 15 dias, pois não haverá estrutura suficiente para atender todas as pessoas que manifestarem os sintomas da dengue. “Para se ter uma ideia, em Florestópolis (Região Metropolitana de Londrina) houve o registro de 148 pessoas com dengue, o que equivale a 2% da população. Se esse mesmo percentual for aplicado a Londrina, que possui cerca de 600 mil habitantes, teremos um colapso do sistema de saúde pública. Estamos diante de um quadro de iminente epidemia explosiva”, destaca.

Fernandes não descarta a possibilidade da necessidade do decreto de “Situação de Emergência e Alerta” no Sistema Municipal de Saúde. A medida tem validade de 90 dias, podendo ser prorrogada por igual período. Com esse decreto, os servidores poderão ser contratados imediatamente, sem concurso público; todos os órgãos da prefeitura deverão atender a secretaria de Saúde; as férias dos servidores de saúde podem ser suspensas e será possível adquirir equipamentos de forma emergencial.

O município possui cerca de 250 agentes em campo. Ela ressalta que todas as ações de fiscalização e inspeção de imóveis foram suspensas para a elaboração do LiraA (Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti) , que será divulgado no dia 22.

FEBRE AMARELA

A diretora de Vigilância em Saúde de Londrina, Sônia Fernandes informa que foram detectados casos de febre amarela silvestre em Sapopema (Norte), distante 127 km de Londrina. “O vetor da doença é o mesmo que o da dengue, que é o mosquito Aedes aegypti. Se a febre amarela chegar a Londrina a situação pode se agravar ainda mais”, adverte. Tanto a febre amarela urbana (FAU) como a febre amarela silvestre (FAS) são provocadas pelo mesmo vírus – vírus da “febre amarela” e provocam a mesma doença. A única diferença se dá pelo vetor de transmissão.

HEMORRÁGICA

Fernandes conta que existem três sorotipos de dengue circulando em Londrina. Muitas pessoas já contraíram a doença anteriormente e se sofrerem um novo contágio podem ter um quadro de dengue hemorrágica, mais grave, caracterizada por alterações da coagulação sanguínea; e a chamada síndrome do choque associado à dengue, que pode levar à morte se não houver atendimento especializado.

A diretora alerta que as soluções caseiras para combater o mosquito, como o uso de borra de café ou de citronela se mostraram ineficazes. Segundo ela, o uso de mosquitos inoculados com a bactéria Wolbachia pipientis em grandes aglomerações urbanas não obtiveram o mesmo resultado de redução da proliferação em locais mais isolados. “A melhor maneira de combater a doença continua sendo a eliminação da água parada e de lixos que podem acumular focos do mosquito”, destaca.

“Não há serviço público que dê conta de limpar os lugares se no dia seguinte a população sujar todo o espaço de novo”, alerta. A última epidemia da doença em Londrina foi registrada no ano passado, entre janeiro e junho. “Mesmo com o fim da epidemia, os números nunca voltaram ao normal”, destaca.