Cerca de dez dias depois dos municípios paranaenses que pertencem à 17ª Regional iniciarem a vacinação contra a dengue, a procura pelas famílias para imunizar os filhos, entre 10 e 11 anos, está baixa, o que tem preocupado as secretarias de Saúde. Até segunda-feira (4), Londrina tinha 3.235 crianças vacinadas, sendo que o montante almejado é de 13.204. “Infelizmente sofremos uma corrente antivacina, até mesmo antes da pandemia de Covid-19. Imaginávamos que seria um dificultador em relação à dengue”, observou Felippe Machado, secretário municipal de Saúde.

A pasta tem promovido várias atividades para descentralizar as doses, como abertura de postos aos fins de semana e até mesmo vacinação em shopping. “Nossa maior dificuldade é a questão da conscientização. Que os pais e mães de crianças nessa faixa etária possam entender a importância da vacinação. A vacina protege as crianças em mais de 90% dos casos graves de dengue”, orientou.

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Em Cambé, das 2.676 doses recebidas, foram aplicadas apenas 521, ou seja, menos de 20% do total. A prefeitura da cidade destacou que tem disseminado informações por meio das redes sociais, carros de som e panfletos para incentivar a busca pela proteção.

“Fizemos um gibi para colorir sobre a dengue que foi distribuído para os quase 11 mil alunos da rede municipal. A vacinação está sendo realizada diariamente em todas as UBS (Unidades Básicas de Saúde do município), exceto do jardim Ana Rosa”, detalhou o poder público cambeense, que pretende fazer no sábado (9) a intensificação da campanha, com os postos de saúde abrindo das 8h às 14h.

BUSCA ATIVA

A Prefeitura de Ibiporã também está preparando uma ação para sábado. O Centro de Saúde e os postos do San Rafael e La Fontaine Corrêa da Costa irão funcionar das 8h às 16h para vacinar as crianças. “Além disso temos equipes volantes indo nas casas, fazendo busca ativa, que será intensificada fim de semana. Também está sendo feito contato com as escolas para agendamento de vacinação na entrada e saída”, elencou Vanessa Luquini, diretora de Vigilância em Saúde.

A cidade imunizou 181 meninos e meninas. Ainda estão à disposição aproximadamente 1.150 doses. Todas as nove UBS contam com a Qdenga. “Não temo observado uma recusa, mas a baixa procura. Talvez possa ser receio dos pais pela vacina ter começado agora. Temos orientado sobre importância de vacinar, principalmente com o atual cenário epidemiológico. É uma nova tecnologia para ser usada para minimizar impactos”, refletiu. O município tem 44 casos confirmados de dengue desde julho do ano passado, com a maioria contabilizada em 2024.

Jataizinho, que obteve 315 doses, imunizou 51 crianças, o que representa 16% do público-alvo. A estratégia para sensibilizar as famílias tem sido a divulgação nas mídias, carro de som e até ofício às escolas com maior concentração desta população e panfletagem na porta dos colégios. A vacina está sendo aplicada nos três postos.

Rolândia recebeu 1.854 doses e aplicou 427. “A vacinação acontece nos postos de saúde do município das 8h às 17h”, frisou a enfermeira Tathyana Gerdulli, gerente de Vigilância Epidemiológica. “Estamos estudando estratégias para abertura em horários alternativos e aos sábados, porém, nada definido ainda”, ponderou.

AMPLIAÇÃO

A vacina contra a dengue pode ser usada em crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos. Esta faixa etária foi definida pelo Ministério da Saúde por representar o segundo maior grupo de hospitalizações, atrás apenas dos idosos. Pela escassez de doses, a recomendação foi iniciar a imunização com as crianças entre 10 e 11 anos. “A ampliação de faixa etária depende do Estado, pois, não somos autarquia”, explicou Tathyana Gerdulli.

No Paraná, a Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) enviou as doses para 30 municípios: 21 da 17ª Regional de Saúde de Londrina, com 23.064 vacinas, e nove da 9ª Regional de Saúde de Foz do Iguaçu (Oeste), com 11.961 doses.

Na Região Metropolitana de Londrina, algumas cidades não descartam a ampliação da faixa etária durante o mês de março. “Estamos seguindo a orientação da Sesa, mas se observarmos que mesmo com todo o esforço a procura continua baixa, poderemos ampliar na próxima semana, oportunizando a vacinação de 12 a 14 anos”, adiantou Vanessa Luquini, de Ibiporã.

‘FILHOS DA VACINAÇÃO’

A FOLHA procurou a Sesa, que disse que “no momento ainda não pode avaliar a adesão nos 30 municípios, visto que não há um painel do Ministério da Saúde atualizado com as doses da vacinação da dengue”. Em Londrina nos últimos dias para participar do lançamento da pedra fundamental de um hospital particular, o titular da secretaria, Beto Preto, ressaltou que a vacina é segura.

“Não pode ter medo. A vacina é testada, passa por uma 'peneira fina' para ser colocada à disposição. Têm pessoas que falam contra a vacina, o que é um equívoco. São com as pessoas vacinadas que conseguimos vencer as doenças, foi assim que vencemos a poliomielite, erradicamos o sarampo, varíola. Somos todos filhos da vacinação”, defendeu.