Lockdown começou a valer nesta segunda-feira: só serviços essenciais podem funcionar
Lockdown começou a valer nesta segunda-feira: só serviços essenciais podem funcionar | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

Bela Vista do Paraíso - O lavrador aposentado Efrigênio Ribeiro foi pego de surpresa ao chegar na agência bancária e encontrar tudo fechado, apenas com os caixas liberados. “Precisava sacar dinheiro. Como não entendo, sempre tenho ajuda dos funcionários”, relatou o idoso de 87 anos. A situação do banco se repete por toda a cidade de Bela Vista do Paraíso (Região Metropolitana de Londrina), que iniciou nesta segunda-feira (15) um rígido lockdown para tentar conter o avanço da Covid-19. As determinações valem até as 5h do próximo dia 22 e foram anunciadas pela prefeitura no domingo (14) a noite.

Somente os serviços classificados como essenciais podem funcionar e com regras específicas. Postos de combustíveis, por exemplo, precisam manter a conveniência fechada e os motoristas não podem descer dos carros para pagamento. Supermercados, açougues, hortifrúti, padarias, restaurantes e lanchonetes podem trabalhar, no entanto, de portas fechadas e com metade dos funcionários. Vendas de produtos só para entrega, com a retirada no local desautorizada.

A comercialização de bebidas alcoólicas está impedida de qualquer maneira e horário, mesmo que por meio do delivery. Podem atender presencialmente farmácias, atividades de produção de alimentos, fábricas de produtos médicos e hospitalares e unidades recebedoras de grãos, desde que com a entrada limitada a 20% da capacidade.

A cuidadora de idosos Maria do Carmo foi pagar uma conta na lotérica, mas teve que voltar para casa sem conseguir acertar o boleto. Após ser infectada com o coronavírus no início deste ano, classificou a medida como necessária. “Minha pressão subiu muito, tive dor de cabeça, perdi o paladar, olfato. É ruim fechar tudo, entretanto, as pessoas não respeitam, então, é preciso”, opinou.

Já o agricultor aposentado João Rosa acredita que manter as medidas básicas de prevenção e segurança contra a doença já seriam suficientes. “Não precisava disso. Dava para seguir como estava, com o distanciamento social, higienização com álcool em gel, uso da máscara. Era o suficiente”, afirmou. Comerciantes reclamaram da determinação às pressas. “Quem não tem telefone ou mora no sítio vai ficar sem comida”, apontou uma empresária.

FISCALIZAÇÃO

Servidores da prefeitura, como agentes comunitários, da Vigilância em Saúde, agentes de endemias e profissionais do Programa Saúde da Família, amanheceram nas ruas do município de mais de 15 mil pessoas para fiscalizar e o orientar quanto ao cumprimento do decreto, o que deve continuar ao longo de toda a semana. Munícipes encontrados nas vias públicas foram aconselhados a permanecer em casa e só sair se necessário.

Servidores da prefeitura estão orientando as pessoas a ficarem em casa
Servidores da prefeitura estão orientando as pessoas a ficarem em casa | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

CIRCULAÇÃO

O decreto assinado pelo prefeito Fabrício Pastore proíbe a circulação de pessoas nas ruas, com exceção de situações inadiáveis ou de urgência. “A população precisa respeitar. É pelo bem de todos. Sabemos que a parte financeira não está fácil, mas temos que ter saúde para recuperar o financeiro. Os casos têm aumento dia após dia. É um bloqueio para promover a saúde”, defendeu Rene Tramontina, coordenadora de Atenção Básica do Departamento de Saúde.

A coordenadora ainda destacou que a decisão segue o exemplo de outras localidades, como Araraquara, em São Paulo. De acordo com a prefeitura da cidade paulista, depois de endurecer as ações restritivas por alguns dias a redução nos casos chegou a 43%. “Se tivéssemos dado mais dois dias para o decreto passar a valer poderia gerar aglomeração”, justificou.

CALAMIDADE

Boletim de domingo da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) apontou que Bela Vista do Paraíso passa dos 1.100 casos positivos e 28 mortos. O Departamento de Saúde informou que foram seis óbitos em apenas quatro dias. Além disso, o hospital São Lucas, que tem uma ala dedicada ao tratamento de pacientes com a doença, está lotado e com o aumento no uso do oxigênio. “Abastecíamos oxigênio a cada 15 dias, passamos para a cada dois, três dias e no fim de semana foi todos os dias”, relatou Carla Brandão, chefe do departamento, durante transmissão nas redes sociais.

“A situação é muito grave. Não queremos ‘pegar no pé’ das pessoas, mas é o dia inteiro tendo denúncias de churrascos, reuniões. Vamos ter consciência. Muita gente ainda não acordou para a seriedade do problema que estamos passando no município. Estamos num estado de calamidade. Tá um nível de transmissão muito grande”, alertou o chefe do executivo municipal.

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