Rapaz havia começado a trabalhar recentemente e iria entrar em curso técnico
Rapaz havia começado a trabalhar recentemente e iria entrar em curso técnico | Foto: Arquivo pessoal

Alan Souza Silva, de 20 anos, adorava o campo. O amor era tanto pelo meio rural que entre os planos para o futuro estava morar no sítio, ter uma fazenda. Neste ano a preparação era para ingressar em um curso técnico de auxiliar de veterinária. Mas tantos sonhos e alegrias acabaram carregados repentinamente, dando lugar ao vazio e o sofrimento. O jovem morreu nesta semana, vítima da Covid-19. Foi a vítima mais nova a perder a vida para a doença em Londrina.

Morador da zona sul, Alan havia começado a trabalhar recentemente como entregador em uma empresa da área de alimentação. Era o responsável por levar os gêneros alimentícios frios para mercados. “Os patrões tiveram sintomas, mas não procuraram médico ou fizeram exames. O Alan chegou a falar para os meus pais que estava com medo. Na sequência ele começou a ter sintomas”, relatou a irmã do rapaz, a enfermeira e confeiteira Mayara Souza Silva.

Os sinais começaram no dia 11 de fevereiro, com dor de cabeça, mas evoluíram dia após dia, deixando o jovem debilitado. Segundo Mayara, somente depois de o irmão adoecer e do resultado sair positivo é que os empregadores fizeram o teste, que também confirmaram a presença do coronavírus. A mulher ficou internada, enquanto que o homem segue na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

AGRAVAMENTO

Conforme a doença avançou, o rapaz foi apresentando falta de ar. “Meu pai o levou para o Hospital da Zona Sul. Não tinha vaga de enfermaria e não tinha como transferir. Ele ficou três dias em sala de observação, totalmente desconfortável. Já precisou de cateter nasal”, contou. Com a segunda maior cidade do Estado enfrentando superlotação dos leitos destinados ao tratamento do vírus, Alan foi transferido em 23 de fevereiro para o Honpar (Hospital do Norte do Paraná), em Arapongas (Região Metropolitana de Londrina).

icon-aspas “Menino maravilhoso, cheio de amigos, não fazia mal para ninguém. Tomava cuidado, tinha medo de pegar a doença e acabou contraindo. Único irmão"

“Ele foi direto para a UTI. Num primeiro momento não foi entubado, mas estava com 60% do pulmão comprometidos. Ficou na máscara de auto fluxo de oxigênio e estava mantendo. Só que foi piorando, tendo febre, saturação não apresentava melhora. Os médicos nos falaram que a entubação era muito arriscada, que buscavam a melhora dos sintomas para não entubar”, elencou a irmã.

VENTILAÇÃO MECÂNICA

No entanto, a recuperação não veio e a entubação precisou ser feita na madrugada do dia três de março. Acabou sofrendo uma parada cardiorrespiratória durante a manhã, não resistiu e faleceu. Ele não tinha nenhuma comorbidade. Entrou para a triste e difícil estatística dos óbitos pela Covid-19, fazendo parte de uma tendência já alertada pelas autoridades em saúde: o avanço da doença sobre o público jovem, que tem progredido para as formas mais graves.

Em um mês, 2.856 pessoas entre 20 e 39 anos foram diagnosticadas com o coronavírus no município, aumento de 20,6%. A quantidade ainda representa 41% dos 6.950 novos casos informados pela prefeitura entre os dias 4 de fevereiro e de março.

Alan Silva foi enterrado no cemitério Padre Anchieta, sem direito a velório. “Menino maravilhoso, cheio de amigos, não fazia mal para ninguém. Tomava cuidado, tinha medo de pegar a doença e acabou contraindo. Único irmão. Meus pais estão desesperados. Ainda não conseguimos acreditar. Parece que ele só saiu e vai chegar logo”, emocionou-se.

CUIDADO E EMPATIA

A morte causou grande repercussão e comoção nas redes sociais, tanto pela pouca idade, quanto pelas homenagens dos colegas. Nas imagens publicadas, o sorriso estava sempre presente, junto ao estilo cowboy que Alan adorava. Nas horas vagas uma das atividades preferidas era a cavalgada. Diante de tanto padecimento, Mayara Souza Silva reforça o que vem sendo amplamente destacado há um ano: cuidado.

“As pessoas precisam se cuidar por elas, pelas famílias. Acham que o ano virou e a doença foi embora junto, mas está cada vez pior. No caso do meu irmão não foi descuido e sim fatalidade. Estão deixando na sorte, parecendo que querem contrair. Só quem perdeu alguém da família sabe o sofrimento. Não desejo para ninguém. Que tenham mais noção e empatia. Quanto mais negar, mais a doença ficará prolongada e vai levar mais pessoas”, advertiu.