O número 440 da Avenida Vicente Bocutti, no Jardim Maria Lucia (Zona Oeste de Londrina), é um local de grandes transformações. Vinte anos atrás havia ali apenas um terreno com uma pequena capela erguida com madeira reutilizada. Hoje o local abriga o segundo santuário de Londrina e o único no Paraná dedicado a São Judas Tadeu. Uma grande conquista para a população simples do bairro, que conseguiu com muita luta cada tijolo e se emociona com a lembrança de cada bênção recebida.
Foram oito anos para a construção do templo, inaugurado em 2001. Atualmente a edificação é frequentada por cerca de 2 mil fiéis por semana, e sua conclusão é considerada um milagre pelo padre Antonio Cossari. ''Tenho certeza que foi a vontade de Deus. Só isso explica termos conseguido erguer uma obra dessa em tempos tão difíceis, em um bairro onde as pessoas não têm grandes posses.'' Também há quem interprete como mais uma prova da força deste santo, que nada tem a ver com o Judas que traiu Jesus e a quem milhares de devotos recorrem quando estão diante de uma causa considerada impossível.
A Igreja de São Judas Tadeu já vinha sendo tratada pela população como um santuário há alguns anos, mas no último mês de outubro o arcebispo dom Orlando Brandes anunciou a transformação, e foi aberto um processo para que ele seja oficializado como santuário diocesano ou santuário nacional. Para que isto aconteça, segundo padre Antonio, uma programação ''mais intensa e mais extensa'' deverá ser adotada. ''O ideal seria se pudéssemos aumentar o espaço para acolher mais fiéis, mas a única coisa que ainda podemos fazer é utilizar o espaço de duas salas existentes na frente do templo. Fora isso, não há mais para onde crescermos'', afirma o pároco.
Ele explica que o que diferencia um santuário de uma paróquia é justamente a programação de missas e a presença dos romeiros (que vêm de várias regiões). ''As muitas graças alcançadas são determinantes, mas a principal característica é mesmo o número de fiéis. O santuário é um local especial de orações, escolhido pelo povo. Não se trata de colocar Deus em quatro paredes. Ele não precisa de um santuário, mas nós precisamos de um local de oração, de encontro, onde nos sentimos em paz. Sempre foi assim na história da humanidade'', lembra padre Antonio, que a cada ano que passa trabalha mais.
As missas em louvor a São Judas Tadeu realizadas todo dia 28 de cada mês, em três horários, e levam um número crescente de fiéis ao templo. No último 28 de outubro, dia dedicado ao santo, o templo bateu o recorde no número de devotos. ''Foi uma verdadeira bênção'', define o padre.
A história do santuário se confunde com a trajetória do casal Wilson Barbosa Ortega e Marilda da Silva Ortega, que nunca se intimidou diante das dificuldades para erguer o templo. Moradores do bairro há 24 anos, marido e mulher creditam ao santo a cura surpreendente de um dos filhos, que nasceu com problemas cardíacos. ''Os médicos já o haviam desenganado. No dia em que foi fazer uma cirurgia, a única coisa que o médico nos disse foi que tivéssemos fé e rezássemos muito. Foi o que nós fizemos.''
Por sugestão de uma pessoa da família, eles recorreram a São Judas Tadeu. E prometeram que se o bebê se recuperasse, eles iriam trabalhar o resto de suas vidas para torná-lo conhecido pelo maior número possível de pessoas. A criança não só se recuperou da cirurgia em um período muito menor que o previsto, como nunca mais teve qualquer problema cardíaco. ''Quando a comunidade resolveu erguer uma capela aqui, sugerimos o nome de São Judas, junto de vários escolhidos pelas outras famílias. Para nossa surpresa, a sugestão que demos foi acatada pelo bispo'', conta Marilda, com os olhos marejados.
Wilson completa o relato de fé: ''Nestes anos todos muita coisa boa aconteceu conosco. Acompanhamos cada etapa da construção da igreja, conseguimos vencer diversas dificuldades, e já presenciamos inúmeros milagres. Não dá para relatar a alegria que sentimos quando vemos este santuário cheio.'' Foi Wilson que guardou a primeira pedra retirada do subsolo para a construção do templo, que hoje encontra-se em uma caixa de vidro cuidadosamente guardada na sacristia, como sinônimo dos vários obstáculos vencidos por um grupo obstinado de admiradores do santo nascido na Galiléia, primo-irmão de Jesus.