Irmã Domingas coleciona
histórias de recuperação
As histórias dos centenas de alcoólatras que ajudou a libertar do vício estão na memória da freira Domingas Botto. Uma das mais comoventes, ela se recorda, é de um morador de Nova Esperança. Toda família queria enviá-lo para receber o tratamento (Auriculoterapia) em São Paulo, mas ele sempre arrumava uma desculpa. Um dia ele, contrariado, acabou entrando no ônibus. Após ser submetido à terapia, imediatamente deixou a bebida. Algum tempo depois foi o responsável pelo criação da Associação de Recuperação dos Alcoólicos Anônimos (ARA) de Nova Esperança.
‘‘Mas o que mais tem comovido nesse trabalho é devolver à família um pai e esposo recuperado, o qual passa a ter de volta a sobriedade que garante o equilíbrio na casa’’, comenta a religiosa.
A Folha ouviu alguns depoimentos. As histórias se repetem. Ainda cedo o jovem começa a beber socialmente. Anos depois o álcool passa a fazer parte dos hábitos diários, normalmente após o expediente do trabalho. A partir daí o viciado – que geralmente não aceita ser classificado como dependente – está a um passo de se entregar à bebida. Uma outra coisa comum, é o sofrimento que o alcoólatra provoca aos familiares.
Filho de uma tradicional família de Rolândia, I.P.R., 52 anos, admite que passou por todas essas fases. ‘‘Havia procurado todos os tipos de tratamento, tomado remédios, parava por uns tempos, mas depois voltava a beber numa quantidade maior do que o estágio anterior. Sem nenhum domínio sobre o vício. Foi levado a Nova Esperança pela família. Pensei que era mais um tratamento, mas dessa vez deu resultado. Graças a Deus estou há mais de dois anos sem colocar álcool na boca’’, relata.
O.T.R., também de Rolândia, 56 anos, confessa que perdeu quase tudo na vida durante os mais de 30 anos em que foi dependente do álcool. ‘‘Não vi meus filhos crescer, não participava de nada em casa e pra mim a vida já não tinha mais solução. Era conhecido como bêbado. Saía de um porre e entrava num outro, sem ter dia e nem hora. Só não perdi minha família (chorando) porque eles tiveram muito amor e paciência comigo’’, conta. ‘‘Depois que fui levado para tratamento a Nova Esperança a vontade de beber sumiu. Nunca mais dei esse desgosto para minha família. Voltei a trabalhar e tento, na medida do possível, recuperar um pouco de tudo aquilo que perdi com o vício’’.
Profissional liberal em Londrina, R.T.C., 38 anos, já estava entregando os pontos. Não conseguia mais disfarçar a dependência do álcool. Os sintomas de tremedeira, nervosismo (quando estava sem a bebida) e a insegurança já estavam tomando conta de sua vida. Ele afirma que não acreditava em nenhum tipo de tratamento. Mas, convencido por um familiar de que o tratamento através da Auricoloterapia era rápido e indolor, R.T.C. resolveu fazer uma experiência ‘‘sem maiores compromissos’’.
Um ano e meio depois, ele comemora a libertação do vício e diz estar ‘‘em lua-de-mel com a vida’’. Sem o vício, retomou um ritmo de vida normal e aconselha outros dependentes a procurar tratamento. ‘‘Sozinho ninguém sai dessa. A pessoa precisa reconhecer quando é dependente, senão não encontra uma saída’’. (E.A.)