Infestação da dengue chega a 3,3% e põe Londrina em alerta
Jardim Primavera (zona norte) tem maior índice de infestação, com 23%, mas região oeste lidera, com índice de infestação de 3,70%
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terça-feira, 12 de novembro de 2024
Jardim Primavera (zona norte) tem maior índice de infestação, com 23%, mas região oeste lidera, com índice de infestação de 3,70%
Simoni Saris - Grupo Folha
Com a infestação do mosquito da dengue chegando a 3,3% no município, Londrina acende o sinal de alerta. O índice está 2,3% acima do 1% considerado satisfatório pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e causa preocupação, principalmente, pela proximidade do verão, quando há aumento das chuvas e, consequentemente, do acúmulo de locais com água parada que servem de criadouros do Aedes aegypti.
Os dados foram apontados pelo 4º Lira (Levantamento de Índice Rápido), divulgado nesta terça-feira (12) pela coordenação de Endemias, da Secretaria Municipal da Saúde. Índices acima de 3,9% são considerados situação de risco.
O levantamento foi realizado entre os dias 21 e 26 de outubro, em 9.808 imóveis distribuídos em todas as regiões da cidade. Durante seis dias consecutivos, os agentes de controle de endemias coletaram os dados para a realização do estudo e o resultado chama a atenção porque mesmo com toda a divulgação feita ao longo de décadas pelas autoridades sanitárias, 90% dos focos do mosquito transmissor da dengue estavam dentro das casas, em vasos de plantas e em bebedouros de animais de estimação.
"Os objetos em desuso nos quintais não são mais os principais criadouros do mosquito. Agora, as larvas, em sua maioria, foram identificadas em vasos de plantas e em bebedouros de animais de estimação. Talvez, de tanto a gente falar, reiteradamente, ao longo dos últimos anos, para que a população olhe seu quintal, retire todo o objeto inservível, a gente conseguiu, de certa forma, fazer com que a população se atentasse a esses objetos, mas esquecesse dos pratos das plantas e dos bebedouros", disse o secretário municipal da Saúde, Felippe Machado, que fez um apelo aos londrinenses para que tenham mais esse cuidado.
OLHAR ATENTO DO MORADOR
Os ovos do mosquito da dengue podem ficar até um ano esperando o ambiente propício para que ocorra a eclosão e a infestação das larvas. A chegada do verão e o aumento dos dias chuvosos favorecem a proliferação dos focos do mosquito.
Os agentes de endemias realizam um trabalho constante de remoção dos criadouros e orientação da população, mas a constatação de que a cada cem imóveis visitados três mantinham focos do Aedes aegypti indica que sem o olhar atento de cada morador para a sua própria residência, o trabalho de combate à doença fica ainda mais difícil. O 4º Lira aponta que dos quase dez mil imóveis vistoriados, 332 apresentaram larvas do mosquito.
SOROTIPO 3
Machado destacou que foi observada a circulação do sorotipo 3 da doença, uma tipologia cuja circulação de forma intensa ainda não havia sido identificada no município. "Temos quatro tipos de vírus da dengue que circulam e, na última epidemia, a predominância foram os vírus 2 e 4, ou seja, a população é suscetível a esse vírus 3, que nunca circulou de forma intensa na comunidade. Então, isso coloca em risco todas as pessoas que já tiveram dengue anteriormente por outros sorotipos virem novamente a pegar a doença com o sorotipo 3", explicou o secretário de Saúde.
BAIRROS
O jardim Primavera (zona norte) foi o bairro com maior índice de infestação, com 23,0%. Mas a região da cidade com maior índice de infestação foi a zona oeste, com 3,70%. Em seguida, vêm as regiões sul (3,68%), norte (3,58%), leste (3,0%) e centro (2,6%).
"(O jardim Primavera) está com um número muito acima de qualquer parâmetro aceitável, mas temos outras regiões, como o (jardim) Marabá (zona leste), com 16% e regiões na zona sul chegando a quase 15%. Isso aponta que nós temos focos e criadouros espalhados em todas as regiões da cidade e há necessidade de um sinal de alerta por parte da população", ressaltou o secretário. O jardim Panissa (zona oeste) concentra o maior número de pessoas contaminadas, com 16%.
Em Londrina, somente neste ano, a Secretaria Municipal da Saúde registrou 68.151 notificações da dengue, das quais 41.552 foram confirmadas e 6.183 estão em análise. O número de óbitos decorrentes da doença soma 52.
VACINAÇÃO
Um dos métodos disponíveis para evitar a contaminação pela dengue é a vacinação em massa da população de adolescentes e jovens, mas a aceitação do imunizante está longe de ser um sucesso. O último balanço divulgado pela Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), em agosto, apontava que a cobertura vacinal não chegava a 40%.
"Infelizmente, foi muita baixa, a procura. Uma vacina que nós brigamos para que chegasse ao Paraná, juntamente com outros estados elencados como prioritários pelo Ministério da Saúde. Ainda há estoque de vacina para jovens e adolescentes em todas as UBSs (Unidades Básicas de Saúde), mas isso não é suficiente se não conseguirmos fazer com que as pessoas entendam a importância da vacina", observou o secretário de Saúde, Felippe Machado.
WOLBACHIA
Neste ano, além da vacina, o município passou a contar com mais um aliado no combate à dengue. Uma parceria entre o Ministério da Saúde, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), a Prefeitura de Londrina e o Instituto WMP (World Mosquito Program) permitiu a instalação da biofábrica do Método Wolbachia no Laboratório de Análise Farmacêutica da UEL (Universidade Estadual de Londrina).
O método consiste na troca da população de mosquitos Aedes aegypti que transmitem dengue, zika vírus e chikungunya por uma população que não é capaz de disseminar as doenças em razão da bactéria Wolbachia. A bactéria impede que o vírus da dengue se repliquem no organismo do inseto.
Os mosquitos foram soltos em 60% do território do município e, segundo Machado, dessa área total, em 58% foi identificada a circulação dos mosquitos refratários ao vírus da dengue. "Mais de 15 milhões de mosquitos foram soltos e há uma expectativa de que haja uma redução nos próximos cenários epidemiológicos em relação a 60% da cidade, o que é um território muito grande."
O convênio firmado entre a prefeitura, o governo federal e a Fiocruz não prevê a cobertura de 100% do município, mas o secretário disse que há uma "interlocução" com o Ministério da Saúde para que a tecnologia se estenda a toda a cidade no próximo ano. "Vamos levar à equipe de transição do novo governo para que avaliem a continuidade dessa negociação com a Fiocruz e o Ministério da Saúde", disse Machado.
MUDANÇAS PARA 2025
Para 2025, o secretário anunciou uma mudança na metodologia de controle da dengue. Considerada uma ferramenta "muito estática", o Lira deverá ser reduzido para uma única edição anual. "O Lira não dá o cenário real e dinâmico que a dengue requer para o seu enfrentamento e o próprio Ministério da Saúde reconheceu isso, tecnicamente, liberando os municípios da obrigatoriedade da realização dos Liras", disse. "Londrina cobriu 100% do seu território com as ovitrampas (armadilhas para captura de mosquitos Aedes aegypti) e nessas armadilhas a gente consegue ter um cenário real, semanal e diário do número de ovos, de circulação vetorial e do mosquito e isso faz com que a gente possa direcionar os trabalhos de uma maneira mais assertiva e até mais ágil. O Lira é mais um instrumento que a gente utiliza dentro de todos os contextos para o enfrentamento da dengue e eu diria, até, o menos relevante no momento."