Inês ficou sem cabelo; Atacílio perdeu a força
PUBLICAÇÃO
sábado, 19 de fevereiro de 2000
Valmir Denardin
De Foz do Iguaçu
Dor de cabeça, sonolência, tontura, manchas na pele e até desmaios são sintomas comuns relatados pelos moradores da Vila Rural de Foz do Iguaçu. Eles atribuem esses problemas aos efeitos da exposição constante à radiação eletromagnética das linhas de transmissão da energia de Itaipu.
Trabalho na lavoura desde criança e nunca havia tido problemas. Na semana passada, senti tontura e ânsia de vômito e tive que voltar para casa, conta o agricultor Antônio Elias Neuberger, 56 anos, que mora no local há um ano e oito meses. Desde então, ele só trabalha na lavoura nas horas mais frescas, entre as 8 horas e as 10 horas.
O problema relatado por Inês Zimmermann dos Santos, 37 anos, mãe de três filhos, é bem mais grave. A partir de julho do ano passado, um ano depois de se transferir para a Vila Rural, surgiram bolhas e tumores em sua cabeça e os cabelos começaram a cair. Em poucos meses, estava careca. Sentia tanta dor de cabeça que cheguei a tomar cinco aspirinas por dia, relembra.
O médico que a atendeu em Foz do Iguaçu suspeitou de radiação e a enviou para tratamento no Hospital Erasto Gaetner, em Curitiba, especializado no tratamento de câncer. Desse hospital, Inês foi transferida à Santa Casa da capital, onde os médicos constataram que ela tinha foliculite crônica, um tipo de doença de pele.
Hoje com cabelo, a dona de casa ainda reclama da sensação de mordidas no couro cabeludo, que resultam em coroços com pus. Ela deverá fazer novos exames para constatar se a doença está voltando. Antes de o problema aparecer, Inês trabalhava todos os dias nas plantações porque seu marido, Adir da Maia, é pedreiro e trabalha na cidade. Hoje, o lote da família está abandonado. O médico me proibiu de ir à roça.
As plantações que Atacílio Deodato dos Santos, 54 anos, pai de oito filhos, cuidava havia um ano e sete meses, também estão abandonadas. Há seis meses, Santos não volta à lavoura. Passa os dias em consultórios médicos.
Estou perdendo as forças, resume. O agricultor diz que sente dores nos braços, pernas e cabeça e dormência em todo o corpo, além de ter manchas nas virilhas e nas costas. Trabalhei toda a vida na lavoura e nunca tive problemas de saúde. Segundo Santos, sua filha caçula de Santos, Andressa, 7 anos, chora com frequência de dores nas costas e de cabeça.
Todos os moradores da Vila Rural entrevistados pela Folha querem deixar o local. Um levantamento dos próprios moradores apontou que cerca de 50% das 74 famílias querem a transferência. Na opinião de Celso Rios, diretor do Departamento de Habitação da prefeitura, apenas 20 famílias optariam pela mudança.Moradores da Vila Rural de Foz do Iguaçu relatam problemas de saúde supostamente provocados pela exposição a ondas eletromagnéticas
Ney de SouzaQUEDA DE CABELOInês Zimmermann dos Santos, 37 anos, mãe de três filhos, ficou careca e teve de fazer tratamento em CuritibaNey de SouzaVERTIGENSO agricultor Antônio Elias Neuberger, 56 anos, mora no local há um ano e oito meses e diz já ter sentido tontura e ânsia de vômitoNey de SouzaAtacílio dos Santos: fraqueza