Do terceiro e último andar do prédio cinquentenário do Iles (Instituto Londrinense de Educação de Surdos), moradores do pacato Jardim Caravelle, zona leste de Londrina, escutam batuques ininterruptos. A baqueta "machuca" o tambor. O prato se esgoela no agudo. O carnaval fora de época acontece quando o pernambucano Irton Silva, ou Batman Griô, educador musical, afasta as cadeiras da ampla sala e convida mais de 40 alunos do ILES para uma verdadeira festa, que ganha ressonância com a mistura de diversos sons.



A educação de surdos, seja ela musical ou não, nunca esteve tão atual no Brasil. Até foi tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) no último domingo (5). Mas, para a diretora do colégio do ILES, Doralice Dias da Silva, o assunto ainda é tabu para muita gente. "Hoje temos 80 alunos que começam desde cedo, prosseguem até o 3ª ano do Ensino Médio e depois são lançados ao mercado de trabalho. Porém, a inclusão não é concretizada porque parte da sociedade ainda não está adaptada para receber esse público", avaliou.

Segundo Doralice, mesmo em um ambiente familiar, o preconceito pode aparecer. "Eles ficam excluídos e sentem-se incapacitados para enfrentar novos desafios, como o emprego, por exemplo. Aqui no ILES, priorizamos essa didática de inclusão, que ganha um auxílio enorme com a música". Aproveitando a tendência ditada pelo Enem, a organização do FML (Festival de Música de Londrina), que em 2017 completou 37 anos, convidou Irton Silva para dar um concerto didático aos estudantes surdos na oficina "Som da Pele".

Imagem ilustrativa da imagem Inclusão de surdos ainda precisa ser aprimorada em Londrina, afirma diretora do Iles
| Foto: Gina Mardones



Gabaritado por ter tocado na cerimônia de encerramento das Paralimpíadas da Rio 2016, Silva, por meio de um sistema conhecido como "MusiLibras", ensina o alfabeto dos sons com um metrônomo visual e instrumentos adaptados com sensores. "O mais importante é que a cidadania está sendo trabalhada. Além de ajudar na concentração, a repetição dos movimentos corporais aprimora outros aspectos do desenvolvimento humano", ressaltou a coordenadora pedagógica do FML, Magali Kleber.

Apesar de estar de passagem em Londrina, a oficina ministrada por Silva no ILES pode estar presente em outras edições do Festival de Música. "Somos analfabetos em libras. O som tem que ser bem forte porque o surdo entende a linguagem por meio da vibração. Quando mais intenso, melhor", afirmou Doralice. "É esse o tipo de relação institucional em que todo mundo sai ganhando. É essencial para a sobrevivência das prioridades da sociedade", conclui Magali Kleber.

Serviço

O ILES fica na Rua Madre Tonina Ugoline, 35, Jardim Caravelle, e atende de segunda a sexta-feira, de 8h às 11h45 e de 13h30 até 17h45.