Luciana Pombo
De Curitiba
Adulteração de laudos toxicológicos e de dosagem alcoólica e desaparecimento de amostras para exames no Instituto Médico Legal (IML). Estas são as novas denúncias recebidas pela Comissão de Segurança da Assembléia Legislativa e que deverão ser investigadas pelos deputados estaduais, a partir do dia 15 deste mês.
Entre as denúncias está a alteração de resultado do exame de sangue de Cleber Ricardo Dias Yamashita, coletado no IML de Maringá. No laudo de pesquisa e dosagem de álcool etílico no corpo de Yamashita foi verificado um teor de 1,82 grama de álcool por litro de sangue examinado. O resultado do exame foi anotado no livro de laudos toxicológicos do instituto, sob o número 2899-I e datado de dezembro de 1998. Mas o resultado oficial, encaminhado pelo médico legista Francisco Moraes e Silva, diretor do IML, diz que devido ao ‘‘mal acondicionamento e transporte inadequado das amostras, a realização dos exames foi inviabilizada’’. ‘‘Não sabemos o porquê desta modificação no laudo, mas é este o nosso trabalho: o de investigar as supostas irregularidades dentro do IML’’, afirmou o deputado Ricardo Chab (PTB), presidente da Comissão de Segurança.
Moraes e Silva já havia adiantado que estas denúncias apareceriam. ‘‘Eu sabia que este laudo havia sido retirado do IML. Mas ele nunca foi adulterado. Foi um erro de uma funcionária’’, declarou ele, afirmando que foram enviadas nove amostras de sangue de Maringá. De acordo com Moraes e Silva, apenas o de Yamashita havia sido realizado. Como os demais estavam mal acondicionados, foram rejeitados. ‘‘Ela deveria ter anulado os exames dos outros oito. O de Yamashita não’’, afirmou.
Outro caso que deverá ser investigado é o dos exames de dosagem alcoólica e toxicológico do funcionário público Lauro Lima Lopes Júnior, de 34 anos, filho de desembargador. Lopes Júnior morreu vítima de um acidente de carro em abril de 1998, na BR-277, quilômetro 119, em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba. Na entrada do corpo no IML de Curitiba, foram pedidos os exames de sangue. As amostras foram retiradas, mas nunca foram analisadas. No livro de ocorrências do IML, um funcionário especifica que, no dia 3 de abril, teria encontrado as duas amostras de sangue de Lopes Júnior, sem requisição, no lixo próximo à geladeira do necrotério. Em junho de 98, outro funcionário registra que o mesmo material acabou sendo jogado fora sem a realização do exame.
No laudo de necropsia do corpo, número 517/98, os médicos legistas que assinam o documento não citam que as amostras de sangue foram retiradas e declaram que ele morreu por hemorragia interna por traumatismo do tórax e dos membros inferiores por causa do acidente de trânsito. ‘‘Estas são apenas algumas das denúncias que me foram encaminhadas. Temos muitas outras’’, declarou Chab.
Moraes e Silva já está sendo investigado pelo Ministério Público, Polícia Civil e Corregedoria da Polícia Civil por supostas falsificações de laudos para receber o seguro de trânsito e por assédio sexual. Também foram levantadas suspeitas de venda de cadáveres e recebimento de recursos de diárias frias. Já está tramitando na Justiça uma ação civil pública, movida pelo Ministério Público, por improbidade administrativa e enriquecimento ilícito contra Moraes e Silva e contra o chefe da Divisão Técnica do IML de Curitiba, Marcos Souza.