Duas imagens utilizadas em rituais de umbanda, que ficam na entrada de uma loja de artigos religiosos localizada na área central de Londrina foram apedrejadas no início da tarde de ontem. Este é o segundo caso de destruição de imagens que ocorre no Paraná em quatro dias. No dia 29 do mês passado um homem trajando apenas cueca e meia invadiu a Catedral de Curitiba, na Praça Tiradentes, e destruiu uma cruz de Jesus Cristo, um quadro do papa João Paulo II, uma imagem de Santa Edwiges e um manto de Nossa Senhora Aparecida.
No caso de Londrina, uma pessoa teria arremessado três pedras contra duas imagens de tamanho natural do Pai João e da Mãe Maria, por volta das 13 horas.
Confeccionadas em gesso, uma delas teve a cabeça e o braço esquerdo estilhaçados e houve danos também na região do peito. A outra imagem teve o braço direito estilhaçado e também sofreu danos na região do peito.
Segundo a funcionária da Loja Tupinambá (localizada na Rua Sergipe), Cleide Correia, a ação foi muito rápida. "Eu estava nos fundos da loja quando ouvi o barulho de pedras atingindo algo. Achei que fosse uma briga do lado de fora da loja, mas quando fui verificar vi que as imagens tinham sido atingidas", revelou. Na sequência, ela ligou para seu chefe e uma testemunha do vandalismo ajudou a Polícia Militar a localizar o autor das pedradas.
Segundo a PM, o suspeito tem 42 anos, foi detido em flagrante, mas liberado logo em seguida. O proprietário da loja, João Batista, não estava no local no momento do incidente, mas registrou um boletim de ocorrência por danos ao patrimônio e espera uma audiência na semana que vem na Vara Criminal para definir se o autor do ato pode ressarci-lo dos prejuízos. Segundo os policiais, há a suspeita de que ele tenha problemas psicológicos.
Batista relatou que as imagens foram compradas há 30 anos e, além do valor material, possuíam um valor sentimental, religioso e também eram uma espécie de marca registrada do estabelecimento. Isso porque todas as pessoas identificavam a loja pelas imagens. "De vez em quando as pessoas depositavam uma moeda nas mãos das imagens", revelou o comerciante. Segundo ele, cada uma das estátuas custa R$ 2 mil e ele afirmou que vai ser difícil restaurar as imagens. "Vou tentar substituir por outro", observou.

Valor patrimonial
Segundo a antropóloga da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Elena Maria Andrei, a substituição será difícil de ser realizada, pois essa imagem foi feita por um santeiro e eles estão cada vez mais raros no Brasil.
"Para fazer uma imagem dessas a pessoa deve seguir todo um ritual de umbanda, que inclui ficar em abstinência sexual e rituais de alimentação", ressaltou a antropóloga, que é também pesquisadora do Núcleo de Estudos Afro-asiáticos da UEL. Além da importância religiosa, ela salientou que foi danificada uma obra com valores artístico e patrimonial grandes e que já fazia parte da história e da paisagem da cidade.
Elena ressaltou que a ação é fruto de intolerância religiosa e está associada à pós-modernidade, que traz uma grande quantidade de informações. Ela explica que se há algo que provoca angústia e vai contra a verdade que a pessoa defende, ele torna-se agressivo para seus olhos. "Eu classifico essa ação em um grau de agressividade tão grande quanto aqueles em que uma pessoa atira contra outras pessoas nos Estados Unidos", comparou.

Diferenças
Para o professor de Ética na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Londrina, Leonir Nardi, algumas igrejas neopentecostais fazem proselitismos e colocam o líder religioso como alguém que resolve problemas individuais, cobrando o dízimo e sobrevivendo do ataque contra outras religiões que ele enxerga como adversárias ou rivais. "Nesse contexto não existe religiosidade lúcida. A religião serve como anestésico psicológico, como se fosse uma religiosidade esquizofrênica, que não respeita as diferenças."
Ele afirmou que as pessoas devem estudar a teologia desde a sua origem e levar em conta a dignidade humana para que não cometa atos como os que aconteceram em Curitiba ou Londrina. Nardi é formado em Filosofia, Teologia e possui mestrado em História Social pela PUC.