Desde o dia 27 de março, mais de 80 pessoas em situação de rua de Londrina foram acolhidas em espaços religiosos como forma de protegê-las do contágio ao novo coronavírus. A ação surgiu de uma parceria entre SMAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) e Arquidiocese de Londrina. Ao todo são 150 vagas distribuídas em três retiros.

Imagem ilustrativa da imagem Igreja e Assistência Social acolhem cerca de 80 moradores de rua em Londrina
| Foto: Roberto Custódio - 04-03-2020

“Nesse primeiro momento, estamos retirando as pessoas que possuem mais vivência de acolhimento e passando para os espaços cedidos pela Igreja Católica, porque assim liberamos vagas dos centros para aqueles que ainda não têm tanta vivência de acolhimento, porque esses possuem mais resistência”, explica a secretária municipal de Assistência Social, Jacqueline Micali. Segundo ela, Londrina tem aproximadamente mil pessoas em situação de rua.

Por segurança, a igreja e a secretaria não informam os endereços dos retiros e a quantidade exata de pessoas acolhidas. “Nós temos uma média entre 25 e 30 pessoas para cada casa”, conta Deusa Rodrigues Favero, gerente da Cáritas, organismo da igreja que atua à frente dos serviços sociais.

SEM REJEIÇÃO

Ela explica que o processo está muito bem encaminhado. Até o momento, não houve rejeição do serviço. “Pelo contrário, estão vindo nos pedir, as pessoas vêm até a igreja para saber como elas precisam fazer”, afirma Favero. “Tivemos um pouco de fluxo daquelas pessoas que tinham para onde voltar e decidiram retornar para as suas casas”, aponta. A regra do acolhimento é que ninguém saia, como proposto pela quarentena, para garantir a segurança de todos.

Cada local de acolhimento está dividido por perfil, um é voltado para idosos, outro para homens adultos entre 18 e 59 anos e o terceiro voltado a mulheres com crianças ou gestantes. “Toda a logística é da prefeitura, como alimentação, as equipes, água e luz, a igreja entrou com os espaços”, afirma a secretária.

Os locais contam com profissionais da prefeitura para exercer as atividades necessárias. “Não estamos aceitando voluntários nesses espaços, porque tem que ser técnicos para trabalhar. Todos são profissionais da área que já sabem lidar com essa população”, afirma. Isso porque os acolhidos participam de atividades que serão necessárias para a ressocialização.

Em concomitância a esse plano, os Cras (Centro de Referência de Assistência Social) e Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) continuam em funcionamento, porém, por conta da pandemia, tiveram que reorganizar o atendimento, que é realizado por meio de agendamento por telefone, com horário de funcionamento das 9h às 15h.

PRAZO

O tempo formal para o acolhimento da igreja é de até 90 dias, mas Favero explica que a instituição está disposta a continuar com a ação, se for preciso. “Está vinculado à necessidade do tempo que for determinado, enquanto for necessário garantir a segurança de todos, a gente vai garantir”, afirma. Sobre a ampliação do número de vagas, a gerente afirma que já existe uma comissão formada para delimitar essas questões. “Sempre abertos para ver qual a necessidade, não só nesse público, mas pensando como um todo.”

DOAÇÃO E VOLUNTARIADO

A Igreja Católica também está atuando na parte de coletas de itens essenciais que serão doados a pessoas em situação de vulnerabilidade social. A Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, no jardim Dom Bosco, é um dos três pontos de coleta oficiais da prefeitura. “Em cinco dias, conseguimos arrecadar quatro toneladas de alimentos, que geraram em torno de 500 cestas ou kits”, aponta Deusa Rodrigues Favero, gerente da Cáritas.

Com esse resultado, 500 famílias na faixa de extrema pobreza serão beneficiadas. Com uma semana de trabalho na arrecadação, a igreja agora estuda a continuidade das ações. “Estamos visando uma incidência maior, a ideia agora é que as paróquias passem a atuar em seus locais”, afirma.

Neste trabalho, a igreja aceita voluntários. “Não tem só gente da igreja, pessoas que simplesmente querem doar o tempo dela. Para isso ela preenche um cadastro no site da arquidiocese. Aqui o espaço é grande, conseguimos manter as distâncias e disponibilizamos luvas, máscaras e itens de higienização”, afirma.

RENOVAÇÃO

Favero comenta que a proposta é ampliar a atuação para auxiliar os 44 mil londrinenses que estão na faixa da pobreza e extrema pobreza. Diante da quarentena, mais pessoas precisarão de ajuda, “Nós temos trabalhadores informais, autônomos, pessoas que vivem de diária e que ainda não estão nos cadastros e vão precisar de ajuda. A ideia é não acabar, é continuar, nós vamos precisar continuar.”

Para a igreja, o momento já é de reflexão por conta da Quaresma, mas a quarentena tem potencializado esse processo. “A gente está tendo que resgatar valores que transcendem a ideia da religiosidade em si. Valores humanos que estavam muito perdidos. Com a coleta aqui, a gente tem percebido, de maneira muito bacana, a generosidade de algumas pessoas, que não medem esforços a partir daquilo que tem. Agora estão aparecendo as coisas boas que antes não apareciam, fazendo o ser humano repensar”, relata.