“Eu não sou exímia tricoteira”, confessa. Ainda assim, quis apostar na capacidade de confeccionar 70 pares de meias para doar a idosos acolhidos em Instituição de Longa Permanência de Londrina. Jeane Tramontini Zanluchi tem 75 anos e no início da pandemia de coronavírus decidiu buscar atividade que pudesse aquecer os pés e o coração de quem precisa. Depois de meses de trabalho, a entrega foi realizada na sexta-feira (10), no Lar dos Vovôs e das Vovós de Londrina.

 “Não é mérito só meu, é da associação (de Senhoras de Rotarianos). Possivelmente eu sozinha não faria esses 70 sapatinhos", diz Jeane Tramontini Zanluchi
“Não é mérito só meu, é da associação (de Senhoras de Rotarianos). Possivelmente eu sozinha não faria esses 70 sapatinhos", diz Jeane Tramontini Zanluchi | Foto: Acervo pessoal

“Os pés, mãos e pescoço são os principais locais onde as pessoas idosas têm mais frio. Eu vi os pés como um ponto que precisava ser aquecido, então pensei em fazer os sapatinhos de tricô”, menciona. Não que seja uma prática que tenha profunda habilidade. “Eu fui fazendo, tem alguns modelos diferentes, mas não pode olhar o acabamento, eu sou muito ruim de acabamento”, ri com modéstia.

Com o início da pandemia, Zanluchi ficou firme na decisão de seguir as orientações de saúde e não sair de casa. Impedida de realizar atividades externas, sugeriu à Associação de Senhoras de Rotarianos, que participa há mais de 30 anos, a possibilidade de fazer algo que fizesse bem a ela e a outros tantos idosos que necessitam de afeto. A ação foi acolhida pelo projeto Anos Dourados da entidade.

A educadora aposentada sempre esteve engajada nos cuidados do idoso, participando de conselhos municipais e atividades sociais como voluntária. “Confeccionar os sapatinhos foi uma grande motivação para mim nessa quarentena. Além do afeto, do amor, foi uma distração, um motivo para viver nessa pandemia”, menciona.

Zanluchi vive sozinha e encontrou no trabalho manual a satisfação para passar dias críticos. “É muito difícil para mim, eu moro só, apesar de meus filhos serem muito bacanas, estão sempre em contato, mas eu não saí. Eu fiquei isolada mesmo. E com os sapatinhos não tive ansiedade”, aponta. A atividade teve contribuição de outras colegas, que entregaram 25 pares e ela optou por completar a quantidade e doar a todos os internados na instituição.

INÍCIO

Para começar as atividades, Zanluchi contou com o apoio das amigas. “Pedimos para o pessoal da Associação fazer doação de lã, porque no começo não podíamos sair de casa para comprar. Então, nossas companheiras doaram, levaram para a Jeane, porque ela queria fazer e não podia sair. Eu tiro o chapéu para ela, porque ela começou, foi fazendo e chegou a 70 pares de sapatinhos”, menciona Claudina Pinheiro Galvão, 79, coordenadora do projeto.

Zanluchi aponta que o fato de a proposta ter entrado no projeto da entidade acabou tomando proporção maior. “Não é mérito só meu, é da associação. Possivelmente eu sozinha não faria esses 70 sapatinhos, mas quando foi incluído no projeto e incluído no projeto nacional, para mim foi muito bom, o tempo passou, os pés estarão quentinhos e eu estou feliz com isso.”

PROJETO NACIONAL

Galvão explica que o projeto Anos Dourados está incluído no projeto nacional Amigos da Velhice, que faz parte de uma rede de ações dentro das Associações de Senhoras de Rotarianos no Brasil. Em Londrina, aproximadamente 30 mulheres participam ativamente e os encontros eram realizados todas as quartas-feiras. “A nossa turminha quis fazer coisas para ensinar, como bordado, palhaço de fuxico, coisas relacionadas ao artesanato”, afirma.

A proposta de Zanluchi encaixou na ação nacional, ajudou outros idosos e também mexeu positivamente com a sua rotina. “Eu fiquei apaixonada, a cada dia eu tirava uma foto”, comenta. “Quando a gente está fazendo uma coisa em prol de alguém, você se liberta dos seus problemas e suas mazelas”, defende.

Como parte das integrantes fazem parte do grupo de risco e não podem sair de casa, os acessórios foram entregues por outra representante da associação. O que não é um problema para Zanluchi. “Eu passei um tempo muito bom fazendo isso e o trabalho manual, como tem começo, meio e fim, é uma alegria ver o resultado. O maior resultado nesse caso vai ser a alegria dos idosos”, orgulha-se.