Ibiporã - Atendendo dispositivos de legislação federal, Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina) iniciou a confecção de seu Plano de Mobilidade Urbana. O instrumento é a efetivação da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Lei de 2012 estabelece que os municípios acima dos 20 mil habitantes devem elaborar o documento integrado ao Plano Diretor.

Mil e quarenta e um domicílios, dos mais de 16 mil existentes, serão visitados para responder
questões sobre locomoção
Mil e quarenta e um domicílios, dos mais de 16 mil existentes, serão visitados para responder questões sobre locomoção | Foto: Ricardo Chicarelli - Grupo Folha

A cidade do Norte paranaense tem mais de 54 mil moradores, em estatística do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O Estatuto da Cidade, de 2001, define que os planos diretores precisam ser atualizados a cada dez anos. O vigente em Ibiporã foi aprovado em 2008. O governo federal ainda alertou que os municípios que não tiverem os planos devidamente regularizados poderão perder repasses de recursos.

O Plano de Mobilidade Urbana de Ibiporã foi dividido em seis partes. A primeira começou em junho e tratou de elencar as equipes, programas e metodologias adotadas no decorrer do processo. O segundo, que é o que vem sendo executado nesta fase, é a pesquisa de origem e destino junto à população. Em seguida virá o apontamento do que o estudo indica; produção e aprovação dos projetos de lei no legislativo; inserir dados em sistema online; e, por último, montar planilha com indicativo de avaliação.

Uma empresa foi contratada pela prefeitura para todo este trabalho. A DRZ, de Londrina, irá receber R$ 664 mil, valor que também inclui a formação do Plano Diretor. A vigência contratual é de dois anos. “Apesar deste prazo maior, colocamos como meta finalizar tudo em um ano, ou seja, em junho, julho do ano que vem”, destaca o secretário municipal de Planejamento, José Roberto de Oliveira.

A pesquisa de origem e destino, que iniciou há duas semanas, tem previsão de término até dezembro. Mil e quarenta e um domicílios, dos mais de 16 mil existentes, serão visitados, ao todo, por cinco profissionais contratados. “As residências foram escolhidas por meio de sorteio. A cidade foi dividida em 26 zonas de tráfego, sendo 22 urbanas e 4 rurais”, explicou Daniel Souza Lima, supervisor técnico da equipe de Gestão de Cidades da DRZ.

IDENTIFICAÇÃO

Os entrevistadores atuarão de terça-feira a sábado, das 9h30 às 11h30 e das 14h30 às 19h30. Eles estão identificados com colete da cor azul com a logo da empresa e crachá com o nome, dados pessoais e brasão da Prefeitura de Ibiporã. As pesquisas começaram pela região central e nos próximos dias ficarão concentradas na extensão da avenida dos Estudantes, sendo levada, em seguida, para outras localidades.

“Todas as pessoas que vivem nos domicílios visitados precisam responder às perguntas. As questões sobre locomoção são sempre relacionadas ao dia anterior, por isso, os entrevistadores estarão nas ruas de terça a sábado. Queremos saber os trajetos que fizeram, meios de transporte mais utilizados, avaliação da mobilidade”, detalhou Lima, que é arquiteto e urbanista.

Entre as várias indagações estão número de automóveis ou motocicletas que possui, renda familiar, opinião sobre o comportamento dos motoristas no trânsito, a frequência que utiliza transporte coletivo, a percepção sobre a qualidade das calçadas, entre outras. Um dos principais objetivos da Política Nacional de Mobilidade Urbana é aumentar a participação do transporte coletivo e não motorizado nos deslocamentos da população.

PEDESTRE

De acordo com os entrevistadores, a maioria dos populares visitados neste início de serviço tem se prontificado a responder as perguntas. Alguns se impressionam com a quantidade de questionamentos. Vivendo em Ibiporã há aproximadamente 25 anos, quando se mudou de Assaí (Região Metropolitana de Londrina), o aposentado Tadashi Matsukawa, 80, teve o domicílio sorteado.

icon-aspas "Precisamos de mais educação no trânsito"
Tadashi Matsukawa -

Para ele, que costuma fazer longos percursos a pé, as calçadas da cidade estão melhorando, porém, precisam de mais intervenções. Ele também cita a dificuldade para atravessar a rua em alguns pontos. Tanto, que na questão sobre construção de viaduto na pesquisa ele se disse favorável. “Precisamos de mais educação no trânsito e se tivéssemos faixas exclusivas para ônibus do transporte coletivo e bicicletas, mais pessoas iriam optar por estes meios”, acredita.

‘PLANEJAR COMO O CIDADÃO VAI ANDAR PELA CIDADE’

A cidade de Ibiporã evoluiu desde o último Plano Diretor, em 2008, em vários aspectos. A população, por exemplo, cresceu 15% em pouco mais de uma década. Já a quantidade de veículos saltou de 16.995 para 32.712, em balanço de maio deste ano do Detran-PR (Departamento de Trânsito do Paraná), num aumento de 92%.

Segundo o secretário de Planejamento do município, José Roberto de Oliveira, todo este avanço mostra a importância de uma “reciclagem” do Plano Diretor e, como consequência, a produção do Plano de Mobilidade Urbana. “As vias ficaram estreitas. Temos caso de ruas com seis metros em que dois carros passam com dificuldade. Por isso, precisamos saber e planejar como o cidadão vai andar pela cidade, como vamos melhorar acessibilidade para o cadeirante. Surgiram transportes por aplicativos recentemente”, pontua.

Ele chama atenção para a necessidade de mais faixas exclusivas destinadas a ciclistas. Ibiporã conta com somente 2,5 mil quilômetros de ciclofaixas e concentradas numa mesma região, do Parque Industrial e jardim San Rafael. A administração municipal tem projeto para implantar ciclovia ao lado da linha férrea, cortando toda a cidade. O primeiro trecho irá do Museu do Café até o jardim Éden. Também será construída pista de caminhada, entre outras infraestruturas.

O dinheiro que seria utilizado para estas obras viria de um financiamento junto à Caixa Econômica Federal e estava englobado no pedido feito à Câmara, que também previa verba para construção de um lago. O projeto de lei não avançou no legislativo. “Temos autorização da companhia ferroviária Rumo Logística. A ciclovia iria levar para vias arteriais”, frisa, assumindo a dificuldade da ideia sair do papel até o final de 2020. O custo estimado é de R$ 2,3 milhões.

Coordenadora da equipe técnica municipal do Plano de Mobilidade Urbana e Diretor, Cássia Marie Calzavara de Oliveira afirma que uma das medidas que deverão ser adotadas quando os planos estiverem finalizados e aprovados é alterar a legislação que trata da declividade de vias. “Hoje são 30% de inclinação permitida para novos empreendimentos, porém, queremos reduzir para ter vias mais acessíveis, melhorar”, projeta.

icon-aspas "Plano de mobilidade nos dará embasamento para fazer o que precisamos"
Cássia Marie Calzavara de Oliveira -

Quando foi aprovado o último Plano Diretor, foi feito, na época, um mapa de sistema viário. Apesar de trazer informações, não é tão detalhado quanto o plano de mobilidade. “Precisamos ver como vamos otimizar, fazer o trânsito fluir, ter noção dos custos para obras. Nas principais avenidas, se o motorista do carro da frente for estacionar, o de trás tem que parar e esperar. Temos trechos que deveriam ter rotatória ou semáforo”, reconhece a arquiteta e urbanista. “O plano de mobilidade nos dará embasamento para fazer o que precisamos”, acrescenta. (P.M.)