HU promove ação sobre sensibilização de doação de órgãos
Atividade traz depoimentos de famílias de doadores e transplantados para encerrar a campanha Setembro Verde
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 27 de setembro de 2019
Atividade traz depoimentos de famílias de doadores e transplantados para encerrar a campanha Setembro Verde
Laís Taine - Grupo Folha

“A minha mãe me deu a vida duas vezes”, contou Mariene Manesco, 39, sobre ter recebido um rim após passar pela angústia da hemodiálise. A professora estava no evento de encerramento do Setembro Verde do HU (Hospital Universitário) de Londrina, realizado nesta quinta-feira (26), que contou com depoimento de diversos doadores e transplantados, como forma de fortalecer a campanha "Por Mais Vidas". A ação busca a sensibilização e conscientização da importância da doação de órgãos e tecidos para transplantes.
Manesco descobriu o lúpus em 2008, em 2016 perdeu a função renal e descobriu a gravidez. “Passei a fazer hemodiálise seis vezes por semana, quatro horas por dia. No sexto mês de gestação, eu perdi a bebê”, comentou. Ela também teve que enfrentar a perda do pai da criança sete meses depois. Lidar com o luto e com a doença ao mesmo tempo gerou transtornos que dificultaram ainda mais o tratamento.
Nesse processo, desenvolveu pânico, ansiedade, passou por coma e paralisação do corpo até ter o retorno dos movimentos e se recuperar para conseguir um transplante. “A minha outra filha na época tinha 17 anos e quis doar, mas não foi permitido. A minha mãe, de 64 anos, fez todos os exames, deu 50% de compatibilidade e ela me deu um rim”, contou.
Para a professora, o transplante devolveu sua liberdade e oportunidade de retomar a vida com mais qualidade. “Foram dois anos, sete meses e três dias de hemodiálise”, estava na ponta da língua. “Dores, sangramento, você não tem qualidade de vida, eu não podia tomar água, alimentação muito restrita, fora o desespero. Eu saía da hemodiálise e falava para outros que passavam pelo mesmo processo: ‘até quinta!’, e na quinta-feira ela não estava mais lá. Uma angústia, a gente fica se perguntando quem vai ser o próximo”, recordou.

Um ano após o transplante, Manesco faz questão de contar a sua história como forma de incentivar outras famílias a serem doadoras e também lutar pelos transplantados, que, segundo ela, têm dificuldade de retomar a vida. “Eu preciso de tratamento médico ainda, tomo remédios, não tenho mais o auxílio-doença, estou desempregada. Ninguém quer dar emprego para quem precisa fazer exames com frequência”, argumentou. Ela hoje entende que é uma luta a combater, mas agradece pela vida. “O transplante foi fundamental para mim, hoje eu estou comemorando.”
DO OUTRO LADO
Maria Luiza Perez, 59, esteve nos dois papéis. O pai precisou de doação de rim em 1979, quando o preconceito sobre o assunto era ainda maior, e anos depois ela permitiu que os órgãos da filha de 14 anos fossem doados. “Ela era bailarina, em 2001 teve um AVC no palco e como nós já tínhamos vivido a situação com o meu pai, a doação de órgãos era uma conversa muito presente na nossa vida e ela mesma já tinha revelado que gostaria de ser uma doadora”, contou.
Diante do conhecimento e conscientização sobre o assunto, a própria bibliotecária procurou a Central de Órgãos para afirmar que, diante da morte encefálica da filha, gostaria de fazer a doação. “
Para ela, as coisas mudaram desde quando o pai precisou do rim, mas que ainda há muito preconceito sobre o assunto. “Existe muita dúvida quanto a isso. Alguns acham que se tirar o órgão o corpo vai ficar deformado no velório, por exemplo, mas é preciso compreender que é uma cirurgia como outra qualquer, com muito respeito”, explicou. Por isso, Perez defende o diálogo sobre o assunto entre a família. “Não depende de só eu ter a vontade, a família precisa se manifestar. É preciso a gente se colocar no lugar do outro, esse órgão vai dar qualidade de vida para outra pessoa.”
A manifestação de interesse é uma das causas defendidas pela campanha Por Mais Vidas, do HU. No evento de encerramento do Setembro Verde, campanha realizada em todo o país incentivando o debate sobre doação de órgãos e tecidos, transplantados e familiares puderam contar suas experiências. O evento contou com a presença do Coral Encanto, do HU, declaração de servidores, cartazes com frases de incentivo e outras atividades durante todo o dia.

ATO DE GENEROSIDADE E FÉ
A campanha Por Mais Vidas, realizada pelo HU (Hospital Universitário), de Londrina, faz parte do Setembro Verde no hospital que, segundo o Sistema Estadual de Transplante do Paraná, foi o que mais notificou possíveis doadores por morte cerebral na Região em 2019. Ao todo, foram 38 notificações com 72% de taxa de conversão.
Vivian Feijó, diretora superintendente do HU, comentou que, como o segundo maior hospital público do Estado, há a missão de participar do processo de acolhimento das famílias e captação de órgãos. “Nós temos aqui a Cidott (Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes), que está sempre atenta a dar acolhimento para as famílias, suporte às equipes técnicas, sempre com muita ética, humanização e respeito. Então, ela notifica, auxilia na manutenção, acolhe a família, faz a entrevista, promove a manutenção do doador e trabalha na interface com o Estado em relação à fila de espera e logística do processo”, afirma.
O HU também conta com um Banco de Olhos. Em 2019 foram 204 doações que se converteram em 407 globos oculares. Desde abril de 2011, quando foi inaugurado, o Banco registrou 1.644 doações, chegando a zerar a fila no ano passado. No entanto, a diretora compreende que é preciso continuar trabalhando para que mais pessoas possam ser beneficiadas.
“Estamos comemorando essa data com a campanha Por Mais Vidas para mobilizar a comunidade para que mais famílias falem sobre a doação e para que possamos sensibilizar mais pessoas em vida ou em momento de dor”, explica. “O grande norte é a solidariedade e amor. Doar é um ato de generosidade, amor e fé. Depende apenas de uma decisão. Você deixa de pensar só em você e passa a pensar no outro”, defende.
No Paraná, o número de notificações e doações subiram. Em 2011, foram 263 notificações e 97 doações efetivas. No ano passado, o Estado recebeu 825 notificações, com 382 doações efetivas. As principais causas para a não doação são contra indicação clínica e recusa familiar.

