HU de Londrina adota estratégias para aproximar pacientes de familiares
Com suspensão das visitas por conta da pandemia, Central de Acolhimento oferece serviço de boletim informativo, videochamadas e visitas guiadas
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 11 de março de 2021
Com suspensão das visitas por conta da pandemia, Central de Acolhimento oferece serviço de boletim informativo, videochamadas e visitas guiadas
Laís Taine - Grupo Folha

Pedro Marsola, 91, dividia o quarto do hospital com mais dois senhores. Na parede, um cartaz com nome e data de nascimento: 15 de março de 1929. Alisson Santos, estagiário do curso de enfermagem, chegou cumprimentando e com um tablet na mão. Era dia de videochamada com a família, serviço disponibilizado pela Central de Acolhimento, do HU (Hospital Universitário de Londrina), para aproximar familiares enquanto as visitas estão suspensas por conta da Covid-19.
“Oi, vô. Nós estamos muito felizes de ver o senhor”, disse a neta, Rubia Carla de Almeida, 40, pelo dispositivo. O avô entrou em outro estado quando reconheceu a família na tela, queria dizer alguma coisa, mas as palavras não saíam. “Está preparado para ir embora?”, perguntaram do outro lado. Ele respondeu com um sonoro “Já!”, e balançou as pernas para o alto para mostrar que estava pronto para voltar para Bela Vista do Paraíso (Região Metropolitana de Londrina), onde vive.
Marsola receberia alta do hospital no dia seguinte, a notícia o pegou de surpresa. Toda a família teve Covid-19 e se recuperou, mas o avô passou mal, chegando a ter 50% do pulmão comprometido. Apesar de curado da infecção, as complicações em decorrência da doença o levaram a ficar hospitalizado. O estudante de enfermagem comemorou a notícia, repetindo a mensagem para confirmar se o paciente tinha entendido. Mas tinha. Ele apontava para a tela tentando dizer algo.
Então, a esposa apareceu na tela. Dirce Cezarin Marsola, uma mulher de 89 anos, estava chorando por ver o marido bem. Foram 19 dias de internação sem poder acompanhá-lo, sem visitas e com preocupação pelo que uma internação em plena pandemia poderia causar a um senhor de 91 anos. O choro, mistura de alívio e saudade, arrancou lágrimas dos dois lados da ligação.
ACOLHIMENTO
O serviço de videochamada do HU é uma operação essencial durante a pandemia. Por segurança, os hospitais suspenderam as visitas e os pacientes já debilitados passaram a sentir o “abandono”. Para aliviar esse sentimento, o HU implantou a Central de Acolhimento, que possui estratégias para deixar família e paciente mais confortável durante a internação.

“A gente atende pacientes não só de Covid-19, mas de outras doenças, com boletim informativo, videochamadas e visitas guiadas. Se o paciente está com cinco a dez dias aqui dentro, começamos a apresentar outras ferramentas para conectar e aproximar esses pacientes das famílias”, conta Maria Aparecida Ramalho, técnica de enfermagem e coordenadora da Central de Acolhimento do HU.
Ramalho é responsável pela política de humanização do hospital e afirma que existem estratégias para tornar o tempo de internação menos doloroso. “A gente quer diminuir essa distância, seja por videochamada, por telefone, carta, presente, foto, mensagem, a gente tenta diminuir essa lacuna que o coronavírus colocou”, defende. A equipe também tenta cumprir alguns pedidos, o mais comum é a visita de um padre ou pastor para oração.
Por enquanto, a equipe é formada por seis pessoas e mantém dois ramais disponíveis, mas são mais de 400 pacientes internados, por isso é necessário contar com a ouvidoria e assistência social para informar os familiares. Em fevereiro, 1.496 famílias passaram pelo serviço do setor, com uma média de 50 atendimentos por dia.

VISITA GUIADA
A Central também implantou a visita guiada aos pacientes da UTI Covid-19. “Nós fomos o primeiro hospital do Brasil a implantar essa visita guiada aos pacientes Covid-19, na UTI. Todos seguem protocolos de segurança, acompanhados das equipes. A angústia do saguão até a porta da UTI é grande, os familiares não sabem o que vão ver, então, precisamos ter estrutura para acolher essa família”, afirma.
São serviços que humanizam as paredes frias do hospital e geram boas histórias que aquietam o coração até de quem oferece o trabalho. “Cada vídeo é uma emoção, nós acompanhamos casos incríveis aqui. O tempo que as pessoas ficam internadas as deixam com a sensação de abandono, mas quando tem o vídeo, a gente sente que era aquilo que a pessoa precisava naquele momento”, aponta Santos. “Esse trabalho é bom para os pacientes, mas melhora a nós mesmos como pessoas”, acrescenta.
Para quem está distante, um trabalho essencial. “Quando ofereceram a videochamada, ficamos muito felizes. A vó mesmo estava com muita saudade, porque a gente não podia levá-la até o hospital. No vídeo, ela não conseguia falar, só chorava. Ela ficou muito feliz”, comenta a neta. Do atendimento ao hospital de Bela Vista ao HU, a família agradece. “Nós só temos a agradecer por essa atenção, porque quem fica longe não sabe o que faz”, afirma. Agradecem também o fato de poder comemorar os 92 anos do avô sem telas. Dia 15 de março, entre família, a comemoração vem em dobro.
SERVIÇO
Familiares de pacientes internados no HU podem buscar informações pelos telefones: (43) 3371-2705 / 3371-2226 / 3371-2746, de segunda a sexta, das 13h às 18h, e no sábado, das 13h às 17h.
Para recados e agendamento de videochamadas, o número do WhatsApp é: (43) 99188-5806.

