O paciente Pedro Marsola, 91, tem contato com a família, com a ajuda do estagiário de enfermagem, Alisson Santos: dia de videochamada
O paciente Pedro Marsola, 91, tem contato com a família, com a ajuda do estagiário de enfermagem, Alisson Santos: dia de videochamada | Foto: Lais Taine - Grupo Folha

Pedro Marsola, 91, dividia o quarto do hospital com mais dois senhores. Na parede, um cartaz com nome e data de nascimento: 15 de março de 1929. Alisson Santos, estagiário do curso de enfermagem, chegou cumprimentando e com um tablet na mão. Era dia de videochamada com a família, serviço disponibilizado pela Central de Acolhimento, do HU (Hospital Universitário de Londrina), para aproximar familiares enquanto as visitas estão suspensas por conta da Covid-19.

“Oi, vô. Nós estamos muito felizes de ver o senhor”, disse a neta, Rubia Carla de Almeida, 40, pelo dispositivo. O avô entrou em outro estado quando reconheceu a família na tela, queria dizer alguma coisa, mas as palavras não saíam. “Está preparado para ir embora?”, perguntaram do outro lado. Ele respondeu com um sonoro “Já!”, e balançou as pernas para o alto para mostrar que estava pronto para voltar para Bela Vista do Paraíso (Região Metropolitana de Londrina), onde vive.

Marsola receberia alta do hospital no dia seguinte, a notícia o pegou de surpresa. Toda a família teve Covid-19 e se recuperou, mas o avô passou mal, chegando a ter 50% do pulmão comprometido. Apesar de curado da infecção, as complicações em decorrência da doença o levaram a ficar hospitalizado. O estudante de enfermagem comemorou a notícia, repetindo a mensagem para confirmar se o paciente tinha entendido. Mas tinha. Ele apontava para a tela tentando dizer algo.

Então, a esposa apareceu na tela. Dirce Cezarin Marsola, uma mulher de 89 anos, estava chorando por ver o marido bem. Foram 19 dias de internação sem poder acompanhá-lo, sem visitas e com preocupação pelo que uma internação em plena pandemia poderia causar a um senhor de 91 anos. O choro, mistura de alívio e saudade, arrancou lágrimas dos dois lados da ligação.

ACOLHIMENTO

O serviço de videochamada do HU é uma operação essencial durante a pandemia. Por segurança, os hospitais suspenderam as visitas e os pacientes já debilitados passaram a sentir o “abandono”. Para aliviar esse sentimento, o HU implantou a Central de Acolhimento, que possui estratégias para deixar família e paciente mais confortável durante a internação.

Maria Aparecida Ramalho, técnica de enfermagem e coordenadora da Central de Acolhimento do HU:  “A gente quer diminuir essa distância, seja por videochamada, por telefone, carta, presente, foto, mensagem"
Maria Aparecida Ramalho, técnica de enfermagem e coordenadora da Central de Acolhimento do HU: “A gente quer diminuir essa distância, seja por videochamada, por telefone, carta, presente, foto, mensagem" | Foto: Lais Taine - Grupo Folha

“A gente atende pacientes não só de Covid-19, mas de outras doenças, com boletim informativo, videochamadas e visitas guiadas. Se o paciente está com cinco a dez dias aqui dentro, começamos a apresentar outras ferramentas para conectar e aproximar esses pacientes das famílias”, conta Maria Aparecida Ramalho, técnica de enfermagem e coordenadora da Central de Acolhimento do HU.

Ramalho é responsável pela política de humanização do hospital e afirma que existem estratégias para tornar o tempo de internação menos doloroso. “A gente quer diminuir essa distância, seja por videochamada, por telefone, carta, presente, foto, mensagem, a gente tenta diminuir essa lacuna que o coronavírus colocou”, defende. A equipe também tenta cumprir alguns pedidos, o mais comum é a visita de um padre ou pastor para oração.

Por enquanto, a equipe é formada por seis pessoas e mantém dois ramais disponíveis, mas são mais de 400 pacientes internados, por isso é necessário contar com a ouvidoria e assistência social para informar os familiares. Em fevereiro, 1.496 famílias passaram pelo serviço do setor, com uma média de 50 atendimentos por dia.

Parte da equipe da Central de Acolhimentos do HU
Parte da equipe da Central de Acolhimentos do HU | Foto: Lais Taine - Grupo Folha

VISITA GUIADA

A Central também implantou a visita guiada aos pacientes da UTI Covid-19. “Nós fomos o primeiro hospital do Brasil a implantar essa visita guiada aos pacientes Covid-19, na UTI. Todos seguem protocolos de segurança, acompanhados das equipes. A angústia do saguão até a porta da UTI é grande, os familiares não sabem o que vão ver, então, precisamos ter estrutura para acolher essa família”, afirma.

São serviços que humanizam as paredes frias do hospital e geram boas histórias que aquietam o coração até de quem oferece o trabalho. “Cada vídeo é uma emoção, nós acompanhamos casos incríveis aqui. O tempo que as pessoas ficam internadas as deixam com a sensação de abandono, mas quando tem o vídeo, a gente sente que era aquilo que a pessoa precisava naquele momento”, aponta Santos. “Esse trabalho é bom para os pacientes, mas melhora a nós mesmos como pessoas”, acrescenta.

Para quem está distante, um trabalho essencial. “Quando ofereceram a videochamada, ficamos muito felizes. A vó mesmo estava com muita saudade, porque a gente não podia levá-la até o hospital. No vídeo, ela não conseguia falar, só chorava. Ela ficou muito feliz”, comenta a neta. Do atendimento ao hospital de Bela Vista ao HU, a família agradece. “Nós só temos a agradecer por essa atenção, porque quem fica longe não sabe o que faz”, afirma. Agradecem também o fato de poder comemorar os 92 anos do avô sem telas. Dia 15 de março, entre família, a comemoração vem em dobro.


SERVIÇO
Familiares de pacientes internados no HU podem buscar informações pelos telefones: (43) 3371-2705 / 3371-2226 / 3371-2746, de segunda a sexta, das 13h às 18h, e no sábado, das 13h às 17h.

Para recados e agendamento de videochamadas, o número do WhatsApp é: (43) 99188-5806.