Mauricio Della Barba
De Londrina
O Hospital Universitário (HU) de Londrina enfrentou ontem um dos dias mais difíceis de toda a sua história no atendimento do pronto-socorro (PS). A superlotação fez com que muitos pacientes fossem acomodados em sofás e cadeiras espalhadas pelos corredores do hospital.
‘‘Isto é o caos anunciado’’, disse o diretor-superintendente do HU, Cláudio Camacho. Com capacidade para 36 vagas, o PS chegou a contar com 73 leitos ocupados, o dobro do que o setor poder comportar.
A dona de casa Azenir Costa, de 35 anos, havia sofrido um aborto natural e estava desde manhã em um sofá no centro de obstetrícia do HU. ‘‘É ruim, mas não tem outro lugar para ficar’’, dizia a paciente.
A situação enfrentada pelo HU compromete o atendimento da população e a qualidade dos serviços. ‘‘Os enfermeiros e médicos já estão estressados com o problema. Não há condições físicas para realizar um trabalho condizente’’, afirmou Camacho. A improvisação das macas, cadeiras e sofás nos corredores também chega a atrapalhar o deslocamento e a passagem de pacientes e de profissionais no PS.
‘‘Se isso persistir vai ser difícil controlar a situação’’, apontava ontem o diretor do HU. Segundo dados apresentados, nos cinco primeiros dias deste ano houve um aumento de 54% no número de pacientes adultos atendidos pelo HU em comparação com o ano passado. ‘‘Em janeiro de 1999, nos cinco primeiros dias do ano atendemos 580 pessoas. Em 2000 foram 895 pacientes’’, comparou Camacho.
De acordo com o diretor, o quadro pode piorar a partir do próximo mês. ‘‘Estamos em período de férias e muita gente não se encontra na cidade. Quando o período escolar começar as coisas poderão se agravar’’, avaliou.
A principal causa do aumento no número de pessoas que buscam o HU, conforme Camacho, é o fechamento recente do pronto-socorro do Hospital Evangélico. ‘‘O problema de falta de leitos é antigo em Londrina. O descredenciamento de mais um hospital na região ajuda a piorar ainda mais o problema’’, disse o diretor.
Levantamento feito pelo HU aponta que apenas 15% das pessoas que procuram o PS do HU são de localidades fora de Londrina. Já o percentual desta mesmas pessoas sobe para 30% no caso de internações.
Camacho apontou a falta de investimentos nos hospitais de Londrina como uma das causas do atual ‘‘caos’’ da saúde no município. ‘‘Há dez anos que não são feitos investimentos para aumentar os leitos hospitalares na cidade. Para piorar, alguns hospitais estão fechando suas portas’’, criticou.
O diretor espera para breve o repasse de R$ 1 milhão, já aprovado e garantido pela vice-governadora Emília Belinati, para efetuar a primeira etapa de reforma e ampliação do HU. ‘‘Esperamos começar as obras em junho ou julho deste ano’’, disse Camacho.
Na Santa Casa não foi constatado superlotação como a do HU, mas o hospital enfrenta um aumento significativo de pessoas atendidas. De acordo com a assessoria da Santa Casa, o média de atendimentos diários no PS passou dos habituais 190 para cerca de 220 depois do dia 26 de dezembro passado, data em que foi fechado o PS do Evangélico. Apesar do crescimento, o número ainda não está comprometendo os serviços prestados pelo hospital.Média de atendimento nos primeiros dias do ano subiu 54% em relação ao mesmo período do ano passado. Ontem, havia o dobro de pacientes
Mário CesarTUDO NO IMPROVISOAzenir Costa, que sofreu um aborto e foi obrigada a permanecer horas num sofá. Capacidade do pronto-socorro do hospital é de 36 vagas. Mas ontem o setor chegou a acomodar 73 pacientes