O tratamento utilizando células-tronco é um avanço na ciência médica animal; material foi trazido de São Paulo, coletadas por um laboratório que é parceiro da Unifil
O tratamento utilizando células-tronco é um avanço na ciência médica animal; material foi trazido de São Paulo, coletadas por um laboratório que é parceiro da Unifil | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Uma onça e uma potra foram tratadas em Londrina, com o uso de células- tronco. A pequena onça sofre de ataxia, que é perda ou irregularidade da coordenação muscular e alguns sinais clínicos relacionados ao sistema nervoso central. Na potra havia um cisto na cartilagem do osso da articulação, fazendo com que ela mancasse. A ideia é que essas células- tronco possam ajudar a reconstruir essa cartilagem para ela parar de mancar. Os procedimentos foram realizados na segunda-feira (9), pela equipe do Hospital Veterinário da Unifil. O programa científico abre nova especialidade em recuperação de equinos, pets (cães e gatos) e animais silvestres.

O tratamento utilizando células-tronco é um avanço na ciência médica animal; material foi trazido de São Paulo, coletadas por um laboratório que é parceiro da Unifil
O tratamento utilizando células-tronco é um avanço na ciência médica animal; material foi trazido de São Paulo, coletadas por um laboratório que é parceiro da Unifil | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

A expectativa, segundo a professora Mariana Cosenza, coordenadora do HV, é que o resultado já apareça nessa primeira aplicação. "Espero que melhoria nos sinais de coordenação da onça, porque ela tem o tremor de cabeça. Ela precisa se estabilizar para ter qualidade de vida e consiga subir tranquilamente em árvore, por exemplo."

O tratamento utilizando células-tronco é um avanço na ciência médica animal. Elas vieram de São Paulo coletadas no Laboratório PetMep, parceiro científico da instituição. A intenção é multiplicar o tratamento para outras espécies e diagnósticos.

CAVALOS

Em 2016 a equipe do hospital também foi pioneiro ao integrar uma pesquisa inédita de tratamento com células-tronco para reabilitação de sequelas neurológicas em cavalos. Dois animais receberam a aplicação de células- tronco. "Ainda era uma fase experimental para avaliação se realmente essas células-tronco seriam boas em relação ao tratamento. Nesse segundo momento, a gente já tem as células prontas produzidas por um laboratório, ou seja, já passou essa fase de experimentação. Agora o uso ocorre verdadeiramente em situações reais”, destacou Cosenza.

NA POTRA

Na potra foram usadas sete milhões de células-tronco (0,5 ml) coletadas de uma égua Quarto de Milha e a aplicação foi alogênica – animais na mesma espécie. As células foram inseridas por meio de artroscopia para tratamento de lesão articular no joelho e a expectativa é que levem 10 dias para as células começarem a fazer efeito. O tempo total de recuperação previsto é de quatro meses.

NA ONÇA

Já a onça recebeu 10 milhões de células-tronco (0,4 ml) coletadas de um gato. Trata-se de uma aplicação heteróloga – espécies diferentes de características próximas. O material foi inserido com injeção peridural (na medula) para tratamento de lesão neurológica. “Em um animal você pode utilizar mais concentrado e no outro é mais diluído. Depende do seu objetivo, do tamanho da lesão e de vários fatores”, explicou Cosenza.

Segundo a médica-veterinária, as células- tronco podem ajudar muito em relação a diferentes tipos de lesões. “Trabalhamos com dois tipos de lesões muito diferentes e em espécies diferentes. Com os resultados dessas aplicações e o bom andamento vamos poder trazer mais esse recurso para outros animais”, observa.

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LABORATÓRIO REGULAMENTADO

O diretor científico da PetMep, do Grupo Medmep, Edson Lo Turco, relata que o laboratório existe desde 2014. “O laboratório de tecnologia celular animal é um dos três regulamentado pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)”. Segundo ele, o principal foco do laboratório é curar lesões em pequenos animais, mas também é realizado o tratamento para equinos, bovinos e animais silvestres. A equipe do laboratório realiza em média três aplicações mensais em equinos, principalmente em tratamentos de ortopedia. Já em pets chegam a 40 por mês em doenças ortopédicas, como displasia em cães de raças grandes, alergias, sequelas de cinomose e úlcera de córnea.

“Eu trabalho com células- tronco desde 2001”, afirma Lo Turco, que tem graduação em medicina veterinária. O laboratório mantém banco de células-tronco em São Paulo, congeladas a (–) 196º C. É o primeiro procedimento que realiza no Paraná, depois de ter levado a tecnologia aos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. “Um cavalo de esporte, uma égua ou uma potra como essa valem bastante, são campeões em competições. O tratamento com células-tronco vai prolongar a vida útil. No caso de pets, pesa ainda o aspecto sentimental”, destaca o veterinário.

Ele relata que os resultados da terapia celular são promissores para a área ortopédica. “Tem uma melhora acima de 80% dos animais, mas isso depende de vários fatores, como a lesão e de sua extensão, de como está o animal e de sua idade.”

Ele ressaltou que existe contraindicação desse tratamento para animais com câncer. “Não é indicado para animais que estão tomando corticoide e para os que estão em quimioterapia. Animais hipersensíveis à fórmula do meio de cultura também não são indicados, embora hoje exista tecnologia para limpar essa fórmula para deixar essa fórmula mais amena, mas alguns animais ainda têm hipersensibilidade. A aplicação pode proporcionar diarreia com efeito muito forte. Pode ter perda de ar e uma certa febre, mas é uma febre baixa. Depois que aplica o animal fica dois dias mais recolhido, mas isso é normal.

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