Imagem ilustrativa da imagem Hospitais de Londrina clamam por medidas contra a pandemia: ‘grave crise’
| Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

"Há uma grave crise no complexo hospitalar de assistência à saúde no nosso município. Não podemos mais brincar com o risco do colapso, porque já existe em algumas horas". A fala em tom de desabafo da superintendente do HU (Hospital Universitário) de Londrina, Vivian Feijó, é um pedido de socorro diante do drama enfrentado dentro das unidades hospitalares pelo agravamento da pandemia de covonavírus, que tem pressionado ainda mais o sistema de saúde, deixando profissionais esgotados física e mentalmente.

Com o cenário adverso e preocupante, entidades de saúde de Londrina emitiram uma nota conjunta de alerta à população local e região. Numa coletiva de imprensa promovida pelo MP-PR (Ministério Público do Paraná) e o Comitê de Crise de Londrina, na sexta-feira (26), no anfiteatro da UEL (Universidade Estadual de Londrina), as autoridades pediram urgência na adoção de medidas mais rígidas e práticas no combate à Covid-19. “O quadro atual ainda poderá deteriorar-se ainda mais se não houver esforços efetivos de toda a sociedade”, alertaram.

Responsável pela promotoria de Saúde de Londrina, Susana de Lacerda lembrou sobre o imbróglio jurídico provocado no ano passado na “queda de braço” com a prefeitura, que foi parar no STF (Supremo Tribunal Federal). “Temos cobrado medidas dos municípios, principalmente Londrina. Quem tem autonomia tem responsabilidade”, destacou a promotora, fazendo referência ao argumento usado pelo executivo para derrubar as ações impetradas pelo Ministério Público.

Os diretores dos principais hospitais da cidade frisaram o caos instalado pelo cenário de leitos superlotados, escassez de insumos e até trabalhadores, o que pode afetar a demanda que chega por outras patologias, não só de coronavírus, abrangendo redes privada e pública. Ou seja, quem pode ou não pagar corre o risco de não encontrar assistência especializada. Além disso, novas vagas que vêm sendo abertas já "nascem" ocupadas, tamanha a gravidade dos casos.

"É muito triste tudo isso que estamos vivendo. A rede de saúde do município de Londrina é integrada. Onde há sobrecarga de um lado, vai repercutir do outro. Não estamos encontrando mais anestésico. Quem precisa de cirurgia não vai conseguir fazer, não existe no mercado. Isso tudo com custo elevado. Além das mortes por Covid, vai haver mortes por casos de urgência e emergência por falta de produtos e medicamentos”, destacou Fahd Haddad, superintendente da Iscal (Irmandade Santa Casa).

SUGESTÕES

Entre as sugestões apontadas como necessárias neste momento estão o aumento do isolamento social, maior responsabilização dos cidadãos que não respeitam as medidas de segurança e ações que diminuam a lotação no transporte coletivo. “Precisa existir uma intervenção focada e pontual (nos ônibus), precisa um escalonamento de horário para que as pessoas trabalhem de forma organizada. Não defendemos fechamento global, mas defendemos técnica, regra, gestão, planejamento e, acima de tudo, respeito por estes profissionais (de saúde)”, disse Feijó.

PREFEITO COBRADO

Presente no encontro, o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), foi cobrado em várias oportunidades sobre a adoção de mais medidas e uma mobilização com outros municípios para reverter o atual quadro pandêmico. A diretora do HU, por exemplo, frisou que grande parte dos pacientes atendidos no hospital é oriunda de Londrina, Rolândia, Cambé e Ibiporã. Esquivando-se de uma resposta clara sobre o tema, ao também ser indagado pela imprensa, Belinati afirmou que a ação precisa ser conjunta e não isolada por parte de uma cidade.

“As medidas que tomaremos são aquelas que entendamos que terão efetividade concreta dentro do contexto geral. Temos uma pandemia estadual, nacional. Essas medidas serão tomadas neste sentido. Vamos seguir nessa linha e respeitando os técnicos estaduais”, defendeu o prefeito. “Não adianta fazer decreto que restringe determinada atividade se não houver cumprimento por parte da população”, declarou Felippe Machado, secretário municipal de Saúde.

DADOS

Levantamento epidemiológico da 17ª Regional de Saúde indica que a Região Metropolitana de Londrina está num momento de estabilização em nível elevado. Segundo Felipe Assan Remondi, chefe da Divisão de Vigilância da regional, a circulação de novas variantes pode interferir no andamento da pandemia. “A tendência é de redução, mas não é possível garantir. Estamos numa tendência de diminuição na quantidade de exames R-PCR, mas mantendo o número de suspeitos.”

FESTAS

O diretor do Hospital da Zona Sul frisou que eventos familiares e festas clandestinas têm sido grandes locais de contaminação. “Questionamos os pacientes onde se contaminaram e dizem que foram em festas de família, churrascos, alugando chácaras no fim de semana. Aí é que está acontecendo aglomeração”, lembrou Geraldo Junior Guilherme. As autoridades em saúde ainda mencionaram a falta de coordenação nacional no combate à Covid-19, falas contrárias a medidas básicas, como uso da máscara, por parte da população e políticos e o debate em torno de remédios sem eficácia comprovada.

Subindo o tom e defendendo o plano que vem sendo executando em Londrina, Belinati advertiu sobre a primordialidade da conscientização da população. “Você vê festa e balada e a culpa é do prefeito? Querem transferir responsabilidade, mas a responsabilidade é de cada um de nós. As pessoas precisam tomar consciência. Se não nos cuidarmos, não tem jeito, pode fechar o mundo (que não resolve).”