Imagem ilustrativa da imagem Honpar tem 100% dos leitos Covid-19 ocupados
| Foto: Divulgação

São 50 vagas na UTI e 40 na enfermaria reservadas exclusivamente para pacientes com Covid-19, do SUS, mas na manhã desta sexta-feira (12), todos esses leitos do Honpar (Hospital Norte Paranaense), em Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), estavam ocupados. Há dias, o hospital, que é referência no atendimento à Covid-19, atua em sua capacidade máxima, demandando organização e trabalho intenso para prevenir um colapso. Profissionais relatam a rotina desgastante das últimas semanas no local.

A médica Cynthia Neves de Vasconcelos atua no atendimento do Pronto Socorro do hospital desde o início da pandemia e revela que os últimos meses têm sido mais intensos. “A nossa rotina aumentou muito após as festas de final de ano e Carnaval. Os atendimentos se intensificaram e agora vemos pacientes mais jovens e com grau mais complicado da doença”, revela.

A médica não consegue afirmar se a mudança no perfil dos pacientes é decorrente da circulação da nova cepa do vírus, mas conta que as consequências dessa alteração é que os pacientes que chegam necessitam de mais leitos de UTI que de enfermaria, além de ficarem mais tempo em tratamento intensivo.

Durante a pandemia, o hospital foi ampliando o número de leitos. O último acréscimo foi de dez leitos em UTI no início de fevereiro e está se organizando para oferecer mais dez para o governo do Estado. Por conta da alta taxa de ocupação, o hospital não consegue mais absorver pacientes dos outros municípios.

Como apoio, a secretaria municipal de Saúde colocou quatro respiradores na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e possui dez leitos de enfermaria no local. A unidade segue protocolo de medicação para que, caso o paciente necessite da estrutura do Honpar, siga o mesmo tratamento iniciado no pronto atendimento.

Mas nem só de leitos se faz um atendimento, é necessário que haja respiradores, oxigênio, cateteres, entre outros materiais. “A gente não viu ainda a falta dos materiais no hospital, mas vemos que a compra está mais difícil. Porque os fornecedores não entregam no dia combinado, por conta do volume de entrega”, afirma. “A gente também troca algumas medicações. Nosso protocolo é montado semanalmente, de acordo com as medicações que têm disponível na farmácia do hospital”, acrescenta.

Em meio a tudo isso, equipes trabalham desgastadas fisicamente e emocionalmente. “A rotina é árdua, atendemos todos os pacientes da melhor forma possível, com intuito de salvar, de melhorar, de acolher. Nós temos notícias boas todos os dias, também temos notícias ruins todos os dias. Está mais intenso tudo isso", relata.

No dia a dia, o hospital demanda organização para evitar o pior. “Hoje não tenho paciente intubado na UPA, mas a unidade está preparada com médico, medicação, respirador. É prevenção para o colapso, que, graças a Deus, não chegamos”, declara. Mas sem perspectiva para o melhor. “É um cenário que assusta. Hoje, particularmente, a minha mãe vai ser vacinada. Chorei, porque eu sei que não vou ter que procurar vaga de UTI para ela, porque eu sei que não tem cama vazia esperando o paciente”, desabafa.

‘Infelizmente, estamos perdendo muitos pacientes jovens e sem comorbidades’

A fisioterapeuta, coordenadora técnica do serviço de fisioterapia, do Honpar, Marta de Souza Pinheiro, aponta a mudança no perfil do paciente Covid-19 no local. “Esse ano aumentou muito o número de pacientes, com mudanças na faixa etária e de quadro clínico. A gente percebe que, infelizmente, estamos perdendo muitos pacientes jovens e sem comorbidades”, revela.

O suporte de meterias, segundo Pinheiro, não tem tido problema, mas que a falta de material humano é o mais complicado de lidar. “Depois de um ano de trabalho na pandemia, temos essa mudança do perfil dos pacientes e da própria doença em si, o que tem desgastado nossos recursos humanos”, afirma. “Nós contratamos uma fisioterapeuta, porque estamos em situação de contínuo estresse e não temos perspectiva que vá acabar tão rápido”, afirma.

Segundo a fisioterapeuta, os profissionais ficam abalados emocionalmente pela demanda de trabalho e mudanças que impactaram totalmente a rotina de quem está diretamente no combate à doença, dentro e fora do hospital. “A gente não consegue entender porque há toda essa descrença diante de tantos óbitos e sequelas da Covid-19. Nós sofremos com as perdas, aqueles pacientes que passaram pela doença estão com sequelas, ainda assim, as pessoas não acreditam”, relata.

Para Pinheiro, a mudança só virá com a compreensão da gravidade da situação pela população. “Apesar de saber que é difícil conscientizar as pessoas, eu acredito que a gente não pode deixar de tentar. Por isso, defendo que todos falem, conversem sobre isso, façam um movimento de orientar, melhorar a situação, reagir a ela. Temos que fazer a nossa parte”, pede.

LEITOS EM LONDRINA

Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde de Londrina, os leitos de enfermaria disponíveis pelo SUS estavam com 100% de ocupação nesta sexta-feira (12). Já a taxa de ocupação das UTI's Covid SUS em 95%.

Mais dez óbitos e 281 novos casos foram contabilizados, segundo o levantamento. Entre os óbitos estavam moradores de Londrina entre 30 anos e 86 anos de idade. No acumulado, após um ano de pandemia, são 784 vidas perdidas no município para a doença e 40.711 casos registrados.

Estão no radar da vigilância em saúde neste momento 514 casos ativos da infecção. São 314 pessoas de Londrina em isolamento domiciliar e 173 pacientes internados (100 em enfermarias e 73 em UTIs).

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