Praça que ficava em frente à casa do médico foi batizada de Gabriel Martins
Praça que ficava em frente à casa do médico foi batizada de Gabriel Martins | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

A professora Jolinda de Moraes Alves, autora do livro sobre assistência aos pobres em Londrina, relata que em homenagem ao fundador do Hospital de Indigentes, a praça que ficava em frente de sua casa foi batizada de Gabriel Martins. “Foi feito um busto de bronze. Quando me mudei para Londrina residia em frente à Praça Sete de Setembro, perto dali, e sempre que passava pela praça via o busto. Quando implantaram o Calçadão, na década de 1970, o busto foi removido e não sei onde foi parar”, aponta.

Integrante do conjunto de quatro praças que compõem a elipse central do traçado original de Londrina, a Gabriel Martins foi projetada inicialmente para ser uma das áreas verdes da região. Assim como a Praça Willie Davids, que fica em frente ao Teatro Ouro Verde, tinha traçado em forma de triângulo com três eixos. Em sua primeira remodelação foram aplicados pedras do tipo petit pavê com motivos geométricos em onda e pinheiros estilizados.

Na gestão José Richa, na década de 1970, o espaço chegou a receber pavimento grandes placas de concreto, com desenhos de cafés e margaridas, idealizados pelo arquiteto grego Panayote Saridakis. Posteriormente a praça foi remodelada em 1977, com projeto arquitetônico do urbanista Jaime Lerner, e o petit pavê foi implantado no local, quando o espaço foi incorporado ao Calçadão da avenida Paraná, com desenho feito pelo arquiteto Hely Bretas Barros. Aos poucos a ideia de homenagear o médico pioneiro acabou apagada pelas transformações do cenário urbano. O local perde, inclusive, o busto de bronze do médico.

Nos anos 1980 o local ainda abrigou telefones públicos, quiosques e sua nomenclatura acabou dando lugar a uma confraria chamada Boca Maldita, inspirada na homônima curitibana, em que se discutia política. Em dezembro de 2011 foi entregue a terceira etapa de remodelação que removeu os petit pavê e os trocou por blocos de concreto intertravados.

Uma das últimas interferências foi a implantação de uma “árvore digital”, em 2017. O local também recebeu escultura do artista plástico Carlos Kubo.

OUTRO OLHAR

O fato de a praça Gabriel Martins ter sido integrada ao Calçadão faz com que muitas pessoas desconheçam essa informação. É o caso de Luciana Aparecida Batista, 32, aposentada por invalidez, que sempre passa por ali quando vem ao centro fazer compras. Ela comenta que saber que ali é uma praça muda a relação com o espaço. “A gente começa a ver com outro olhar", resume.

“Aparenta ser, mas nunca parei para pensar que é uma praça, tem sempre a ideia do Calçadão”, observa a vendedora Nathalia Vidal Ferreira, 22. Ela opina sobre melhorias no espaço. “Têm as árvores, mas eu só acho que deveria ter mais sombra."

Já Gilmar Oliveira, 63, é taxista, trabalha na região da praça há 12 anos e fala sobre as mudanças na região. “A maioria conhece como Calçadão e nem sabe que é a avenida Paraná, que antigamente era 'aberta' de fora a fora, era uma rua normal."

O vendedor autônomo Sidney Souza, 50, trabalhou na Gabriel Martins como engraxate dos 7 aos 13 anos e comenta que "ama" o lugar, mas aponta que pode ser melhorado. "Acho que faltam mais são bancos para o pessoal sentar, mas as arvores estão crescendo, elas foram revitalizadas, e eu acho que está bem cuidada”.

Sabendo ou não da existência da praça, os entrevistados pela FOLHA não souberam responder quem foi Gabriel Martins.

*Supervisão: Lucilia Okamura - editora