Uma das vítimas do asilo do Parque Ouro Branco, na zona sul de Londrina, que foi interditado há menos de mês pela Vigilância Sanitária, disse que passava muita fome e tentou fugir para pedir comida. Ex-trabalhador rural aposentado, Leonardo Marques Tibúrcio, 82 anos, pensou até em tirar a própria vida. Ele foi retirado do local e hoje está vivendo no asilo São Vicente de Paulo, no Parque Guanabara. O asilo é administrado por missionárias claretianas.
Nos oito meses em que viveu no asilo interditado, além dos maus-tratos, Tibúrcio disse que foi explorado por um dos sócios, que ficava com a sua aposentadoria. ‘‘Eles (os donos do asilo) pegavam o cartão do INSS para retirar o dinheiro. A gente era obrigado a informar a senha’’, acusou o aposentado. Tibúrcio comentou que só não fugiu do local porque os portões eram trancados a cadeado. ‘‘Nos oito meses não comi 200 gramas de carne. Leite, eu tomei só duas vezes’’, relatou. O aposentado comentou que só não morreu de fome porque comia goiaba verde do quintal.
Analfabeto e sem família no Paraná, o aposentado morava sozinho em uma casa no município de Jataizinho (21 quilômetros a leste de Londrina), ‘‘onde queimava lata’’. Quando foi para o asilo do Parque Ouro Branco, Tibúrcio não tinha idéia do que se passava lá dentro. ‘‘Era pior para os doentes, que ficavam sem os remédios.’’ De acordo com o aposentado, ‘‘foi milagre ter saído vivo de lá.’’
Morando hoje no asilo São Vicente de Paulo, Tibúrcio disse que não tem do que se queixar. ‘‘Aqui não falta nada. A gente tem comida na hora certa e se ficar doente é bem tratado’’, assegurou. A felicidade, para o aposentado, ainda não está completa. ‘‘Se eu tivesse mais saúde iria embora. Sinto falta de ter uma casa só minha. Quem sabe eu até procuraria uma companheira’’, confessou. Tibúrcio nunca se casou e não tem filhos.
A secretária municipal do Idoso, Maria Angela Santini, informou que já está fazendo triagem dos idosos encontrados nos asilos clandestinos da zona norte, autuados anteontem. ‘‘Estamos preparando relatório para encaminhar ao Ministério Público, que pode enquadrar os responsáveis nas sanções cabíveis’’, afirmou. A Vigilância Sanitária (VS) autuou os dois estabelecimentos, que têm prazo de 15 dias para adequar as instalações, sob pena de interdição. Dentro de uma semana a VS deve divulgar um relatório com a situação dos asilos existentes na cidade.
Segundo a secretária, os idosos sem família deverão ser absorvidos pelas instituições asilares filantrópicas que existem na cidade. ‘‘Mesmo os que têm família também nos preocupam, já que muitos não são aceitos. Voltar para casa pode representar um risco para eles’’, disse Maria Angela Santini.
Anteontem o prefeito Nedson Micheleti (PT) garantiu que existe projeto de ampliação dos abrigos e repasse de recursos para suprir a demanda que pode ocorrer com interdições dos locais irregulares. O São Vicente de Paulo, segundo a irmã Seleide dos Santos, está com 120 idosos, mas tem capacidade para 140. De acordo com a religiosa, se forem feitas adequações no prédio, o espaço pode ser melhor aproveitado. ‘‘Em um dos pavimentos temos escadarias que impedem a movimentação daqueles que não podem se locomover’’, comentou irmã Seleide. O asilo se mantém, em grande parte, com doações da população.