“Penso até colocar na poupança para não correr o risco de perder. Quando a dona aparecer, eu entrego, mas vai ter que comprovar que fez um saque no dia 6 de maio. Uma coisa é certa: se a gente pega as coisas dos outros, a gente tem que entregar”.

Imagem ilustrativa da imagem Homem procura dona de dinheiro esquecido em caixa eletrônico
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Já faz mais de 20 dias que José João da Silva, ou melhor, seo Nenê, como prefere ser chamado, está à procura da dona de R$ 200, quantia que ele encontrou em um caixa eletrônico instalado dentro de um supermercado na zona leste de Londrina.

O episódio aconteceu no dia 6 de maio, no final da tarde. “Eu usei o caixa 24 horas para tirar um extrato. Enquanto eu conferia o comprovante, uma mulher usou o caixa e foi embora. Em seguida, voltei para sacar dinheiro e vi que a máquina ainda estava em processamento e o dinheiro estava saindo”, lembra.

Seo Nenê diz que não lembra da fisionomia mulher, apenas que ela usava roupas escuras. “Fiquei tremendo, com um certo medo. Não sei o que aconteceu. Saí procurando ela por todo o mercado e acabei ligando para minha esposa. Primeiro, pensei em ir na delegacia fazer um B.O, mas minha esposa me deu a ideia de falar com uma amiga dela que trabalha na televisão para ver se a pessoa aparecia”, diz.

Além da TV, ele também falou com as rádios e sites da cidade. “É a primeira vez que acontece isso comigo. Meus pais sempre me falaram que a gente tem que comer do nosso trabalho e não dos outros. Se a gente pega alguma coisa que é do outro, temos que entregar”, compartilha Nenê, os ensinamentos dos pais nordestinos.

Nascido em Pernambuco, Nenê veio para São Paulo aos 17 anos para trabalhar e chegou em Londrina há 29 anos. Durante muito tempo, tirou o sustento da venda de pipoca até que conseguiu um emprego com carteira assinada.

Mas há cerca de oito meses perdeu o emprego em uma empresa de transporte público, quase no mesmo período em que a esposa descobriu que estava grávida. Nenê também vive com uma enteada e um filho mais velho.

Ele conta que a esposa deixou de trabalhar como diarista porque nos últimos meses teve um descolamento de placenta e precisa repousar. Para não ficar sem nenhuma renda, Nenê voltou ao carrinho de pipoca. Com orgulho, conta que é pipoqueiro desde 1991. “Onde tem público, eu estou lá. Sou igual cigano”, ri.

A ansiedade de Nenê pela chegada do filho é grande, assim como a preocupação com as despesas. “Agora está tudo mais difícil porque não tem evento. Estamos passando por uma situação delicada. O auxílio do governo está só 'em análise' e estou contando com os R$ 600 para pagar as contas fixas. Minha esposa está fazendo doces para vender. Tem cueca virada, bombom, bolo de aniversário e sonho”, diz.

SERVIÇO: Quem quiser ajudar a família de seu Nenê, pode entrar em contato pelo fone: (43) 98488-6051.