Rolândia - Muitas famílias de origem hebraico-alemãs estão sepultadas no Cemitério São Rafael, mas a maioria é de origem católica e luterana. Existem também outras etnias que ajudaram a colonizar Rolândia, como suíços e eslavos. A maioria das lápides de judeus tem estampada a Estrela de Davi, símbolo do Judaismo, mas há algumas famílias de origem judaica que preferiram apenas colocar o nome dos mortos.
Na dissertação de mestrado "Entre dois mundos", de Marcos Ursi Corrêa de Castilho, na Universidade Estadual de Londrina (UEL), o autor menciona o depoimento de Pedro Bernardy, um descendente de alemães cuja família chegou a Rolândia em 1935. De acordo com o depoimento de Bernardy e reproduzido por Castilho, o início da colonização de Rolândia se deu pela Estrada São Rafael. O Cemitério São Rafael, que fica na região, possui 14 quadras com 379 terrenos.
Segundo Bernardy, as quadras do lado esquerdo eram reservadas para a religião luterana, as da direita para os católicos e as do fundo, dos dois lados, para os de outras religiões, basicamente os judeus.
A reportagem tentou conversar com alguns dos descendentes de alemães que vivem em Rolândia, mas como já estão na terceira ou quarta geração, poucos sabem da história do período da Segunda Guerra Mundial ou preferem se abster de fazer qualquer comentário.
O Cemitério São Rafael possui um cenário bastante bucólico e fica próximo da capela de mesmo nome construída em 1958 e que possui uma torre revestida de pedras. A necrópole conta com belas árvores e é extremamente bem cuidada, com muitas flores sobre os túmulos, como se fosse um jardim. No local estão os túmulos de Erich Koch-Weser, ex-ministro alemão, e de Max Herman Maier, advogado de Frankfurt que se tornou "cafeeiro na mata do Brasil". De origem judaica e conselheiro na associação assistente dos judeus na Alemanha, ele deu apoio a outros judeus que pretendiam sair da Alemanha e tornou-se, ao lado de Erich Koch-Weser, guardião de toda a cultura intelectual e da tradição clássica da Alemanha, combatendo a ideologia nazista e apoiando, de maneira ativa, os movimentos antinazistas e antifascistas no Brasil. Seu escritório na Alemanha serviu de fachada para articular vistos e documentos para aqueles que desejassem sair do país.
Em entrevista à historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, a esposa de Max Herman Maier, Mathilde, revelou que para vir ao Brasil teve de subornar o cônsul do Brasil na Alemanha. Muitos dos judeus que estavam no mesmo navio tinham passado por campos de concentração, estavam com cabeças raspadas e tinham estampados em seus passaportes a letra J em vermelho, que identificava os judeus.
Para Klaus Nixdorf, uma das provas de que seu pai não era nazista foi o fato de que foi sepultado no Cemitério São Rafael ao lado de muitos judeus. "Mais uma prova de que os judeus se davam bem com os alemães e que estavam trabalhando debaixo de um chapéu, senão não seriam enterrados no mesmo cemitério. A amizade era muito grande. Meu pai era muito amigo dos judeus", garante.