Estrutura foi ampliada para acomodar as crianças da zona norte; hoje, são 438 alunos na Escola Municipal Padre Anchieta
Estrutura foi ampliada para acomodar as crianças da zona norte; hoje, são 438 alunos na Escola Municipal Padre Anchieta | Foto: Fotos: Gina Mardones


Quando Londrina ainda se chamava Patrimônio Três Bocas e a futura cidade era construída lentamente pelos pioneiros que abriam picadas em meio à mata fechada, a então Colônia Heimtal, primeiro núcleo rural do município, abrigava desde 1929 uma comunidade alemã, formada por imigrantes atraídos pela divulgação do promissor projeto de colonização da Companhia de Terras Norte do Paraná. Do interior paulista, onde trabalhavam como empregados em lavouras, os alemães viram na terra roxa e fértil da região a possibilidade de conquistarem seu pedaço de chão.

Em meio à estrutura precária dos ranchos de palmito e à vida cheia de desafios, que incluíam as doenças e a convivência com animais selvagens, os colonizadores alemães, preocupados com a alfabetização e a educação de seus filhos, perceberam a necessidade de fundar uma escola. A comunidade, então, se uniu em esquema de mutirão para construir o primeiro estabelecimento de ensino da região, com madeira do entorno, cortada e serrada pelos próprios moradores da colônia. Assim nascia a Escola Alemã, inaugurada em 26 de julho de 1931. A escola tinha apenas duas salas de aula, suficientes para acomodar os cerca de 20 alunos, comandados pelos primeiros professores, Edmund Stark e Herman Westphalen.

No início, a escola alfabetizava as crianças em alemão e em português, ganhando o status de escola étnica. Com o tempo, imigrantes de outras nacionalidades foram chegando e a antiga colônia passou a acolher também famílias italianas e russas, além dos migrantes mineiros, paulistas e nordestinos.

A escola fechou as portas no começo da década de 1940 em decorrência da Segunda Guerra Mundial, marcada pela perseguição aos alemães, e só veio a ser reaberta em 1945, 11 anos após a emancipação do município, como Escola Rural Municipal Padre Anchieta. Sob a nova denominação, a instituição iniciou suas atividades em outro local, mas retornou ao prédio original mais tarde e neste mês de julho comemora 86 anos.

Filho do pioneiro alemão Carlos João Strass, que dá nome à rodovia que corta a zona norte de Londrina e é a principal via de acesso ao Patrimônio Heimtal, Carlos Strass, 82, nasceu e viveu até pouco tempo atrás na localidade e foi na antiga escola que cursou todo o "ensino primário". "Morava a cerca de cem metros da escola. Depois que terminava a aula, almoçava e ia trabalhar na venda do meu pai, que era um alemão linha-dura", relembra ele. "Éramos quatro irmãos e todos estudamos na mesma escola. Não eram só filhos de alemães que estudavam lá e tinha gente que andava três, quatro quilômetros todos os dias, na ida e na volta, para poder estudar. Eu estudava só em português. Alemão eu aprendi depois, em 1947, quando fui estudar em um colégio alemão em Rio Claro (interior de São Paulo)", contou.

O casal Carlos e Zélia Strass está entre os ex-alunos que serão homenageados neste sábado
O casal Carlos e Zélia Strass está entre os ex-alunos que serão homenageados neste sábado



Strass é casado há 58 anos com Zélia, 79, também nascida no patrimônio e alfabetizada na mesma escola, onde estudaram os três filhos e dois netos do casal. "Eu cheguei a dar aulas na escola por seis anos. Fui professora do município", relembra ela.

Neste sábado (1), o casal Strass estará entre os ex-alunos homenageados durante uma festa organizada para celebrar antecipadamente os 86 anos da escola. "Como ex-alunos, recebemos como uma honra essa homenagem", orgulham-se.

A velha escola ainda existe e sofreu pequenas modificações nesses mais de 80 anos. Mas a estrutura teve de ser ampliada para acomodar as crianças do patrimônio e da zona norte de Londrina, que não param de chegar. Hoje, são 438 alunos matriculados. Anexo à construção original, foram construídas salas em alvenaria e a essas seguiram-se outras salas, todas feitas de tijolos e cimento. "Mudou um pouco a estrutura, mas as telhas e a madeira da escola inaugurada em 1931 são originais", destacou o diretor, Elias Vilas Boas. "A história da escola se confunde com a história do patrimônio."