Pai de cinco filhos de dois casamentos, o professor Joaquim Braga, 57 anos, é um exemplo feliz de que existe sim vida após a separação. E não só isso: é possível conviver mais do que pacificamente com o ex-cônjuge: as famílias podem, inclusive, ser amigas. ''Nos casamos muito jovens, eu tinha 18 e ela 17 anos. Éramos imaturos e não durou'', define Braga, que era vizinho da ex-mulher. O relacionamento durou cinco anos.
Dados divulgados no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que para cada quatro uniões registradas há uma dissolução. No entanto, enfrentar a vida após a separação não deve ser traumático, dizem os especialistas. O segredo para não perder o controle é lidar com essa nova - e temida - fase com tranquilidade, vivendo um dia de cada vez.
''Não encarei o divórcio como um trauma, simplesmente fui viver minha vida. Só conheci minha atual mulher dez anos depois da separação e não temos constrangimento nenhum em sermos amigos da ex'', declara Braga, para quem o diálogo é a chave para um bom relacionamento, entre casados e divorciados. ''É preciso compreender as necessidades do outro, ser companheiro e solidário. Cumplicidade é a palavra.''
Braga sempre procurou estar perto das filhas, que hoje têm 36 e 32 anos, para prover não só apoio financeiro mas, principalmente, emocional. Hoje a relação das filhas mais velhas com os três irmãos do atual casamento do pai - uma moça de 17 anos, um menino de nove e uma menina de sete anos -, é de cumplicidade e amor. ''Até porque minha segunda esposa não foi a causa do divórcio'', cita o professor, que conheceu a atual mulher no trabalho e já está casado há 18 anos.
''Desde o início do nosso namoro minha esposa e a minha ex tornaram-se amigas e quando meus filhos nasceram a amizade só fez aumentar'', comenta Braga, confessando que é comum as famílias se reunirem para festejar juntas.
Recuperação
De acordo com Betina Serson, psicopedagoga e mestre em Early Childhood Education pela Florida Atlantic University, nos Estados Unidos, e autora do livro ''Seja o Herói dos Seus Filhos'', toda perda é um processo de luto. ''Cada pessoa tem o seu tempo e lida com ele de formas diferentes. O tempo de recuperação varia. As separações, porém, estão cada vez mais comuns e a recuperação tende a ser mais fácil'', explica. A profissional alerta que, além das mudanças sociais, o ex-casal também terá de enfrentar as barreiras econômicas.
''A família tinha dois salários para pagar as despesas. Com o divórcio, o mesmo salário terá de ser dividido e serão duas casas a serem sustentadas. A parte econômica vai pesar na hora de viver o luto, que pode até diminuir por conta dessa questão.''
Uma das maiores dificuldades dos divorciados, segundo os psicólogos, é resgatar o perfil da vida que levavam antes de casar. ''É fundamental que eles entendam que as situações devem servir como aprendizado para que, futuramente, possam fazer escolhas diferentes'', explica a psicóloga comportamental Erika Scandalo.
Para ela, há dois caminhos: o primeiro, não recomendado, é deixar a tristeza tomar conta da mente, considerando que a partir daquele dia a vida não tem mais sentido; já o segundo, que seria o indicado, é enfrentar a situação como qualquer outra dificuldade da vida. ''Ninguém nasceu casado. Antes do casamento sempre houve uma vida. Isso não é impossível de reconstruir.'' (Com Agência Estado)